Olhando pra carinha deles, talvez nem dê pra notar, mas a real é que a Jubarte Ataca já está na pista há 15 anos. Nos rastros do álbum Das Profundezas, Emerjo!, lançado em vinil pelo selo Otitis Media Records, a banda embarcou em um turnê no início de 2024, com datas em São Paulo – capital e interior – e no Paraná, incluindo uma parada no icônico festival Psycho Carnival, que rola em Curitiba, em pleno Carnaval. Essa foi a quarta turnê da banda pelo estado, e a primeira na formação atual como quarteto, que conta com Diego Cirilo (guitarra), Daniel “Dandan” Dantas (guitarra), Luiz “Aninho” Teotônio (baixo) e Joaquim Dantas (bateria).

Como fizemos em ocasiões anteriores, convidamos Joaquim para fazer um relato da turnê, e dividir os aprendizados, encontros e situações inusitadas que a estrada traz. O texto que segue é um testemunho do poder colaborativo do underground, e das possibilidades que surgem quando se coloca a arte e a experiência antes do lucro. (AP)

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Texto por Joaquim Dantas

Preparativos antes de cair na estrada

A gente tinha lançado o disco em 2021, só que 2021 ainda tava naquele engancho todo. E 2022 e 2023 foram anos complicados porque a gente perdeu a brecha das férias de todo mundo. Que, aliás, é a principal dificuldade pra fazer uma turnê: conseguir alinhar as férias.

Mas aí, finalmente, rolou agora, em 2024.

A ideia era fazer a turnê do disco, que tinha que rolar. Eu falei com Neri, que é o batera do Mullet Monster Mafia, é da Orleone Records e um dos produtores do Psycho Carnival, que é sempre quem produz todas as nossas turnês. Desde a primeira vez que a gente fez uma turnê grande, lá por São Paulo, sempre foi ele que produziu. Essa foi a nossa quarta turnê nesse modelo.

Falei com o Neri pra ver se dava pra fazer que nem a gente fez da outra vez, em 2020, que era terminar a turnê no Psycho Carnival, fazer a turnê ao redor do festival, que é sempre muito massa, porque sempre vira muita data, tem muita banda girando e tal.

E aí ele só respondeu assim: “Tá massa. Vocês querem fazer dois ou três finais de semana?” Eu falei, véi, três finais de semana seria massa, porque a gente pega o Carnaval, estica um bocado.  Porque o lance é que ao redor do Carnival mesmo não dá pra marcar data, porque Neri tá produzindo as coisas do Carnival.

Então, se a gente fizesse dois finais de semana, na verdade era basicamente um só. Porque o outro final de semana ia ser o Carnaval. Aí a gente esticou pra duas. Foi a maior turnê que a gente já fez.

Foram vinte dias na estrada, três fins de semana e dez shows. Dez shows em nove datas, porque teve um dia que a gente tocou duas vezes em duas cidades diferentes.

Dandan e Aninho esbanjando elegância no aeroporto

27|01 – São Paulo/SP – Gaz Burning
28|01 – Americana/SP – Velha Guarda Bar

Primeiro show foi em São Paulo, no Gaz Burning, a gente e o Mullet Monster Mafia.

Foi foda porque já abriu a turnê reencontrando os caras, que são nossos irmãos! O Mullet, pra gente, é a melhor banda de surf music do Brasil. O show dos caras é uma brutalidade! E quem tava produzindo essa data, além do pessoal do Gaz Burning mesmo, era PattyBoop, que deu uma força monstra.

E o Gaz Burning é muito foda: é uma rua sem saída, que no fim da rua dá pra um elevado que tem uma estação de trem. Daí a banda toca embaixo e fica passando o trem atrás, do rolé, tipo por cima. E roda muita gente, que é a galera que tá chegando ou indo pegar o trem, passando do lado. O bar fica no canto e a banda toca num palquinho que é no meio da rua mesmo. Depois falaram pra gente que a polícia já bateu lá, já derrubou o palco que eles tinham feito, e eles fizeram o palco de cimento agora.

No dia tava chovendo um pouquinho, mas colou uma galera, o som tava massa. E o rolé foi doido, foi massa abrir a turnê com o Mullet. Quando a gente encontra com os caras é sempre desgraça. A gente acabou a noite no Estadão, comendo salgado com pimenta e terminando de lavar com cerveja. Também reencontramos o Mocotó, da Reverb Brasil, nesse dia. Irmãozasso de longa data. Enfim, uma abertura de turnê perfeita!

Jubarte Ataca e Mullet Monster Mafia, em São Paulo (via instagram @themulletmonsfermafia)

Uma coisa que eu falava muito na turnê, nos shows, é que a galera vê uma banda tocando, uma banda independente, e pensa que são só as quatro pessoas que estão no palco. Mas na real tem um bilhão de pessoas por trás fazendo a coisa acontecer.

Por exemplo, em São Paulo, a gente ficou na casa de Morgana, que é uma amiga nossa lá de Mossoró, que tá morando em São Paulo. Ela foi pro show e abriu o apartamento dela pra gente ficar.

No outro dia, a gente foi almoçar lá perto, encontrou com o Gordin, que é outro amigo nosso de Mossoró que mora lá em São Paulo. Sem essas pessoas, uma turnê seria inviável. Se a gente tivesse que pagar pra ficar em todos os lugares, seria ultra caro.

Antes mesmo da gente chegar em São Paulo, já tem Clara, minha irmã, e Fly, que é o marido dela. Eles moram em São José dos Campos. Na verdade, em Jacareí, que é colado em São José dos Campos. E eles ofereceram a casa deles pra gente ficar. Clarinha faz medicina na Argentina e Fly tava lá visitando ela, mas eles deixaram a morada pra ser nosso quartel general.

O carro deles tava parado na garagem. E aí eles disseram “Não, vocês ficam lá na casa, pegam o carro e fazem a turnê com o carrinho”. Então, tipo assim, nos day-off todos a gente voltava pra Jacareí e ficava lá, dois, três dias de boa. Fizemos os nossos próprios rangos, fizemos a turnê inteira com o carro deles. Pegamos no primeiro dia e devolvemos no último. Isso é uma mão na roda gigante. Sem isso essa turnê não teria acontecido, e não teria sido financeiramente viável.

Essa primeira perna da turnê teve também Americana, que a gente fez no domingo. Tocamos no Velha Guarda, que é um bar que a gente tinha feito na turnê anterior.

Lá a gente reencontrou o Brudy Jones, que é o cara que estava fazendo o “meio de campo” do rolê com a gente dessa e da outra vez que a gente colou por lá. Ele tem uma banda que chama Os Pangarés Selvagens, que é uma banda foda pra caralho. Nessa noite, a gente tocou com a Footstep Surf Music Band, que é a primeira banda com quem a gente tocou, na primeira vez que a gente tocou em São Paulo. E aí agora, esses anos todos depois, a gente tocou de novo com eles. Da banda original só tem Gabriel, que é o guitarrista, mas é um brotherzão nosso. Foi muito massa tocar – e beber – com esse cara de novo.

Setlist da turnê

E o show foi massa, mas foi engraçado, porque os amplificadores eram bem pequenininhos, do tamanho de uma carteira de cigarro. E aí a gente teve que regular tudo para o som poder chegar sem estourar nada e tal, mas deu certo. Ah, e o Neves, da Neves Records, que é um selo lá de São Paulo, foi no show porque ele nunca tinha visto a Jubarte ao vivo. Ele estava com alguns vinis da gente lá, com ele, né? Eu tinha mandado dez vinis para São Paulo antes da turnê. Neri ficou com um, um foi para os caras do SESC, para poder fechar os shows com eles, e os outros ficaram lá com o Neves.

Daí ele foi me entregar as cópias… só que ele ficou com três para ele. Então, os três primeiros vinis desse giro já saíram aí para o Neves! E ele achou massa o show, mas quando a gente terminou, eu falei para ele que tinha sido legal pra caralho, mas que tava muito baixo o som e a gente toca muito mais alto.

E aí ele falou: “Não, eu vou pro Carnival!”.  Daí garanti a ele que no Carnival ele ia ver o show “na vera”.

Em Americana, a gente reencontrou um brother nosso, o grande Alan Cortez. Quando a gente tocou em Piracicaba, na turnê passada, e o nosso carro quase foi levado por uma enchente, ele acabou fazendo amizade com a gente – tava no mesmo hostel que nós –, ajudou a limpar o carro depois do rolé e ficou mantendo contato desde então. E aí ele foi pra Americana pra ver o show da gente, mas acabou não vendo por causa de umas complicações lá… mas a gente se encontrou de novo em Curitiba no Carnival e foi muito foda. Irmãozão.

31|01 – Ribeirão Preto/SP – Hashtag Bar
02|02 – Birigui/SP – SESC Birigui
03| 02 – Presidente Prudente/SP – SESC Thermas

A segunda perna começou por Ribeirão Preto, que é sempre muito doido. Já tocamos lá três vezes. Todas em lugares diferentes, mas todas organizadas pela mesma galera, que é o Rafones e a Patti d’O Hierofante. Eles tinham um bar, que chamava O Hierofante. Quando a gente tocou a primeira vez, a gente tocou no Hierofante mesmo.

Quando a gente tocou a segunda vez lá, o bar já tinha acabado, mas Rafones é envolvido com a parte de produção cultural do PT, lá em Ribeirão. Daí a gente tocou na sede cultural do PT. E dessa vez a gente tocou no Hashtag Bar, que é um pub que os caras falaram que já existe há algum tempo, mas só rolava mais cover e tal. E aí eles começaram a chegar junto e produzir shows de bandas autorais lá. E é um esquema bem interessante, bem parecido com Natal. Foi o único show da turnê que foi portaria, sem cachê fixo. Mas é muito importante pra gente fazer shows como esse também, em cidades menores, especialmente por causa da galera envolvida.

Flyer do show no Hashtag Bar, em Ribeirão Preto/SP. (via instagram @hashtagbarrp)

Além do Rafone e da Patti, teve o Tomate, que é o brother que tava ajudando na divulgação, e o lendário Porca, que é um punk old school, tipo, punk da época do punk mesmo, que a gente deu um tempo na casa dele. Uma parte do som da noite e da bateria, a gente pegou emprestado com ele. E a casa do cara é do lado do bar, então a gente levou tudo no braço pro rolé, tocou, depois deixou lá de volta. E foi lá que a gente recebeu uma das grandes dádivas dessa turnê. Virou uma carreta de produtos de amendoim em Ribeirão Preto, e Rafones roubou um lote. Ou ao menos é isso que a gente deduziu, porque o bicho deu pra gente uma quantidade exorbitante de saquinhos de amendoim e de paçoquinha, que durou até o último dia da turnê!

De Ribeirão fomos pra Birigui, tocar no primeiro de três rolés no SESC que a gente fez nessa tour. O lance é que pra você tocar lá no SESC, a banda tem que ter um histórico que justifique. Como a gente tava com o vinil lançado, e a banda tava completando 15 anos, veio de longe, etc, facilitou esse processo. E o som da gente rola total por lá. A  gente só tocou um pouco menos barulhento, mas tudo bem.

Mas pra falar dos SESCs a gente tem que falar da nossa queridíssima Juliana, que é a esposa de Neri. Quem tava produzindo a turnê era Neri, mas quem fez todos os contatos com o SESC foi Juliana, que tá na Alemanha. Aliás, eles moram lá. Mas de lá, ela tava fazendo todos os contatos com eles e me passando todas as informações direto. Sem palavras do quanto Juliana foi importante pra gente nessa turnê! Neri e ela.

Momento fotinho de camarim, no SESC Birigui.

Os três SESCs foram realmente bem diferentes um do outro, não em termos de condições de palco, mas em termos de vibe mesmo. O backline nos shows do SESC foram todos absurdamente incríveis, melhor som em que a gente já tocou provavelmente. Do som no palco aos profissionais de som, iluminação e produção, foi tudo bala. Mas, como eu disse, a vibe foi muito distinta.

No SESC Birigui, que foi o primeiro, a gente tocou no hall de entrada do lugar. As pessoas iam chegando no prédio, pra ir pra academia, comprar na lojinha ou rangar na cafeteria, que ficava bem do lado, e davam de cara com o palco montado. O que fez com que uma parte do público na real estivesse ali meio por acaso. Mas isso foi massa.

O público era bem diversificado, de senhorinhas com jeito de grupo de tricotar da terceira idade a uns rockeiros jovens empolgadaços, tinha de tudo um pouco. O som no palco tava excelente e tão alto que a gente teve que segurar a pressão nos PAs pra não falecer uma parte do grupo da terceira idade.

Entre o camarim com ranguinhos gostosos (destaque pra uma jarra enorme com pão de queijo e – a marca dos camarins do SESC – inúmeras garrafas de suco de laranja, que eu levei pra tomar no palco em todos os shows) e a recepção do público, o rolé em Birigui foi bem foda. No fim a gente ainda comprou uns presentes na lojinha do SESC para nossas respectivas. Tudo muito “do bem” e com excelente qualidade nos designs e material dos produtos. Tivesse mais tempo (o show terminou bem perto da hora de fechar o lugar) teria deixado uma parte maior do cachê na lojinha.

Pão de queijo e suco de laranja no camarim do SESC Thermas, Presidente Prudente/SP.

Já o SESC Thermas, em Presidente Prudente, foi outro esquema. O palco ficava num espaço a parte, com jeito de ser mesmo uma área recreativa onde devem rolar os shows regularmente. Dessa vez não tinha piscina ou cafeteria ao redor, então quem estava lá tinha ido deliberadamente ver o show. E colou uma galera mais underground (poucas senhorinhas dessa vez).  Som foda, camarim cheio de sucos e sanduíches de palmito com alcaparras (!), venda de merchan e vibe diurna (o show foi de tarde) rechearam essa data.

Afonso, que é o batera do Subcut (banda classicassa, especialmente pra quem cresceu escutando grindcore em Mossoró), foi assistir o show e a gente trocou uma longa ideia com ele sobre o underground, as cenas, a necessidade da presença de bandas novas no rolé e tudo o mais. Cara gente finíssima. Infelizmente nesse dia não deu pra esticar o papo porque de lá a gente já subiu pra Maringá/PR pra fazer um show no mesmo dia, à noite. Esse foi o dia mais fisicamente exaustivo da tour, certamente.

03 | 02 – Maringá/PR – Groove Brew House
04| 02 – Londrina/PR – Bar.Bearia

A gente tocou em Presidente Prudente à tarde, viajou pra Maringá, chegou lá por volta das 10, 11 da noite, por aí. Quem tocou com a gente foi a Búfalos d’Água, que é uma banda foda, uma banda que tem 20 e tantos anos. Banda foda pra caralho, os caras muito massa, o som foi foda, a gente riu pra caralho.

Quando a Jubarte foi tocar, acho que era duas ou três da manhã. A gente tava só a lata, mas rolou.  A gente terminou de tocar de madrugada e aí foi ver onde é que a gente ia dormir, porque a gente não sabia direito. Paulão, o grande Paulão Wolf, que foi quem desenrolou esse esquema com a gente, chegou pra mim e disse, “eu vou dar uma grana pra vocês e vocês vão pra um hotel ou pra um motel e desenrolam aí”. E assim a gente armou.

Jubarte Ataca ao vivo em Maringá/PR.

Eu sei que na hora que eu encostei a cabeça no travesseiro num hotel bem pulguento, que os caras disseram que tinha cabelo no chão e tudo, já eram cinco e meia da manhã. E no outro dia tinha que acordar e dar uma entrevista às dez e meia, porque a gente foi dar uma entrevista pra um camarada que chama Cleber, que tem um canal no YouTube chamado 600ml. Acordei só o zumbi pra gravar essa entrevista, mas rolou, sobrevivi. No outro dia, já tinha Londrina.

Eu acho que Londrina foi um dos melhores show da turnê. Porque a gente vinha tocando um dia atrás do outro, quando gente chegou em Londrina todo mundo já tava afiado assim de tocar de olho fechado. E o rolé foi foda. Tocamos no Bar.Bearia, é o bar do Junião, que tem uma barbearia e um bar. Grande sacada.

Ao vivo no Bar.Bearia, em Londrina

O som tava massa, alto, o bar é como se fosse um corredor estreito, e a banda toca lá no fundo, então o som fica comprimido dentro do espaço. É como se você tocasse dentro de uma caixa de som. O som fica brutal. Aí a gente tocou com o Horrorself, o Fatsurfers e o Chernotrio. O Fatsurfers é uma banda “nova” só no nome, porque, na real, eles eram uma outra banda que só mudou um pouco a formação e mudou de nome, e o Horroroself também é uma banda mais antiga, mas a Chernotrio já é uma galera mais jovem mesmo.

Encontro com as amizades em Londrina

Aliás, uma coisa que ficou na minha cabeça depois dessa turnê foi a responsabilidade que uma banda como a nossa tem, por tudo que a gente passou, os anos todos de estrada, de ajudar ou, em certo sentido, informar a galera que tá chegando agora.  Vejo muitas vezes na cena gente que tem banda há muito tempo, banda “consagrada” e tal, que cria uma barreira com a galera mais nova. Isso é uma atitude de cuzão do caralho. A cena não se renova por causa disso. A gente quer trocar ideia com a galera mais nova que tá chegando agora no rolé, e contribuir no que for possível. Outras bandas já fizeram isso por nós, como a Mullet Monster Mafia e muitas outras. Agora o que eu mais quero é ir pra um show e ver gente jovem no palco e no público. Eu quero ser o cara véio do rolé, não o cara mais novo!

08|02 – Sorocaba/SP – Little Paul BBQ
09|02 – Piracicaba/SP – SESC Piracicaba

Depois de alguns dayoff, a gente caiu pra Sorocaba, terra do Little Paul BBQ, famoso churrasquinho do Paulinho. Rapaz, o que dizer do Little Paul, né? Foi o lugar que da outra vez que a gente tocou rolou a infame história do banho de vômito em Dandan. Quem quiser saber mais dessa maravilhosa anedota, eu contei no Podcast d’O Inimigo. Cerveja de 600ml tomada como longneck, gente doida dentro e fora dos balcões, curtição na noitada, tudo limpeza. Nesse dia a gente fez um set mais longo, com uns covers a mais que normalmente a gente não toca, porque o barulho da noite era só a gente mesmo. Foi diversão geral. Dessa vez sem banhos inusitados. Na outra manhã foi café, estrada e aportar em Piracicaba, pra penúltima data.

Alimentação saudável em Sorocaba/SP.

O SESC Piracicaba acho que foi o que teve a sensação mais “SESC” de todos. Quando a gente pensa no SESC normalmente a gente lembra daqueles shows em pequenos teatros indoors que acabavam virando programas de TV. E o SESC Piracicaba foi exatamente isso. Teatrinho gostoso, iluminação baixa, público sentado mas participativo. Assim que a gente subiu no palco um gurizinho gritou da plateia “eu gosto da bateria!”. No fim do show ele e os pais foram conversar com a gente.

O som tava turbinado, a gente tava bem azeitado a essa altura da tour e o show foi foda.

Checadinha no celular antes de fazer zuada no SESC Piracicaba.

Depois do show ainda rolou uma entrevista desavisada com um jornalista da Rádio Pam (se não me engano) que foi assistir o show. De volta no hotel (que era basicamente um apartamento completo por quarto… nunca tinha ficado num lugar tão chique na minha vida), a gente tomou as cervejas que sobraram do show do dia anterior, em Sorocaba (voltamos pra casa nesse dia com um fardinho de 12 latinhas do que não deu pra consumir no bar do Little Paul!), comemorando basicamente o fim da perna final da tour e o começo do carnaval.

Era o fim da última perna pra gente porque o show em Curitiba só seria uns 3 dias depois e esses 3 dias não seriam exatamente como os outros day off, já que a gente estaria em Curitiba curtindo o Psycho Carnival toda noite e dando rolé pela cidade durante o dia.

12|02 – Curitiba/PR – Psycho Carnival

Essa foi a segunda vez que a gente fez o Carnival. A outra tinha sido em 2020, no carnaval do fim do mundo. Coronga chegou chutando logo depois e o Brasil fechou. Essa experiência agora foi certamente uma melhora da parte da banda. A gente tocou numa posição melhor, bem no meio da noite, e numa noite aguardadíssima, que foi a que o Nekromantix fechou. E, pra gente, foi foda demais ver a recepção.

Primeiro que os caras do festival, muito acertadamente, separaram as bandas de surf, sendo basicamente 1 por noite. Então não criou marasmo de nenhuma forma, porque não teve repetição. Não que eu ache que fosse ter, até porque as bandas que tocaram eram muito diferentes umas das outras, mas, ainda assim, foi muito massa que cada um teve seu espaço. Quando a gente começou a tocar a galera ainda tava descendo do fumódromo (ponto central do “entre-bandas” no festival), mas antes da primeira tríade de sons terminar (“Peixe Demônio”, “Jubarte Ataca” e “Peixe Zumbi”, que a gente toca encarriado tudo de uma vez) o salão já tava cheio. E dava pra ver a galera pirando na violência e no sombrio do som. O repertório do show foi fundamentalmente o disco novo, com raras inserções de músicas mais antigas. Show curto, rápido, visceral, com gostinho de quero mais.

Ao vivo no Psycho Carnival, em Curitiba

Na última pancada na caixa, as cortinas fecharam e a gente ficou ouvindo o público gritando do lado de lá. Muito foda inclusive ter Neri ali fazendo o som e curtindo o show de perto. Quando terminou, ele subiu no palco e falou com todo mundo da banda. Neri é um irmão, de verdade, e o cara que eu mais admiro nessa cena doida da qual a gente faz parte. Produz as nossas turnês por SP e PR sempre, tem uma mão forte no trato que rolou pra prensagem desse vinil pela Otitis (ele quem fez o meio de campo entre eu e o Noah, do selo) e, no fim das contas, um dos grandes responsáveis pela Jubarte ter chegado aonde chegou.

Nossa primeira tour pela terra da garoa surgiu de um recado dele no nosso Facebook na época: “No dia que quiserem vir pra cá, só me dar um toque”. Demos o toque (na época acho que a gente só tinha um single do Válvulas termiônicas no ar… E ainda assim já chamou a atenção), firmamos as datas e fomos.

Outro lance foda foi o fato de, antes de pisar no chão do salão pós-show, a gente ter basicamente terminado de vender os últimos merchans. No palco ainda eu fui informado que 2 dos 4 vinis que restavam tinham sido vendidos. A gente nem conseguiu montar banquinha. Íamos tirando as camisas e discos das caixas e a galera ia pegando antes mesmo da gente montar o rolé. Essa parte terminou rápido. Acho que em 15 minutos de pós-show todo o merchan saiu pela porta.

Teve um cara na plateia que falou comigo logo depois que eu desci do palco: “Caralho, bicho, cês humilharam demais… Eu tenho é pena de quem for tocar depois de vocês agora”. Aquilo ficou na minha cabeça. É muito doido pensar que, num festival de psychobilly, uma banda como a gente, de surf music, sem drive, sem distorção, só com reverb no talo, mão pesada e virulência punk, consiga ter um impacto assim.

Pra fechar o comentário, acho que o mais foda do Carnival, além dos shows e da organização do evento, que é sempre excepcional, é a festança da comunidade mesmo. Os músicos ficam num mesmo hotel, todo mundo acaba se esbarrando, tomando café junto, saindo pra ir em sebos, lojas de disco, comilanças e biritas em geral. E isso é foda. É o que mais fica pra mim dessa coisa doida que a gente chama de cena.

Da galera do Kingargoolas, que eu finalmente pude conhecer sem máscara e dar altos rolés (o show dos caras também vi ao vivo pela primeira vez e ainda não me recuperei… que patada), aos nossos irmãos do Mullet… amigos de longa data, como a Amandinha da Kósmica (que conhecemos na época da Footstep ainda, quando Dandan acidentalmente vomitou água na bag de baixo dela… história que, por sinal, rememoramos sempre que a encontramos), Celsão do Kingargoolas, o grande maestro Alexandre “Arroz” Saldanha da Reverendo Frankenstein e Spitfire Demons (e do Garotos Podres mais recentemente)… Até os camaradas que a gente esbarra sempre pelos mundos do rock’n’roll selvagem, como o Cox e o Vlad do Sick Sick Sinners, Big Bull, o querido e lendário Duda Victor da Terremotor (esse que já se tornou um irmãozasso também)… Tanta gente que é difícil  pontuar todo mundo aqui. Esse é o tipo de evento que a gente ama fazer, o tipo de role que faz tudo valer a pena. O show dura 40 minutos, a festa dura 3 dias, as amizades ficam pra sempre.

Joaquim e Diego discutindo os planos da próxima tour da Jubarte Ataca

E, no fim, a questão que fica é essa: uma banda independente não são só quatro caras em cima do palco; são incontáveis mãos e corações se apoiando. Uma cena é feita de bandas, mas também de bares e festivais e produtores e jornalistas e fotógrafos… Uma cena é feita de amigos… e o underground é um rio furioso sempre em efervescência. Obrigado a todo mundo que faz parte disso.

2 respostas para “Jubarte Ataca – Das Profundezas Tour Report 2024”.

  1. ❤ Logo o festerê é aqui!! Tô torcendo!!!

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  2. satisfação imensa, meninos! Voltem sempre!

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