Por Jesuíno André
Oxalá é uma saudação divina de boas vibrações energéticas. Tudo converge e transcende para o bem comum cósmico seja qualquer a manifestação que o homem queira. Pense na música como elemento praticante dessa conduta quando realizada por cinco músicos experientes e talentosos, unidos numa mesma contemplação melodiosa, na malemolência do ritmo e de um groove hipnótico, formando assim uma via ideal para se falar do amor singelo, escancarado e definitivo que temos um ao outro. Imaginou? Então eis a banda paraibana Oxalah.
Idealizada e formada no começo de 2022 pelo cantor, compositor, guitarrista e produtor Ilsom Barros, pelo baixista Edy Gonzaga, o baterista Guga, tríade original da punkster Zefirina Bomba – ícone do rock nacional anos 2000 -, juntos com o percussionista Cesinha e o super trompetista Tarcísio; uma trupe capaz de embalar harmoniosamente o samba-rock, o reggae e a multiplicidade da MPB sem conflito e com propriedade musical de direito.
Ainda com poucos meses de formada, estão construindo compassadamente seu público nos poucos shows realizados até o momento, um vasto e coeso repertório de composições, além de um recém-lançado EP de estreia contendo oito faixas intitulado 1 (SubFolk/2022) – conhecido como o “disco da Rural” – que avaliza e serve como cartão de visitas inicial para se adentrar no universo da Oxalah.
Num breve bate-papo, exclusivo para a Revista O Inimigo, o frontman e líder Ilsom Barros apresenta aos leitores sua nova empreitada sonora. Aproveite a leitura e dê play no EP da banda, no Bandcamp.
Revista O Inimigo – O que lhe motivou a criar o grupo Oxalah, cuja sonoridade é bem distinta das suas bandas anteriores?
Ilsom – A motivação veio da necessidade, de precisar acreditar que as coisas iam melhorar, até o começo da pandemia, a Coalizão era o projeto que canalizando mais energia, estava rolando bem e tudo certo. Quando veio as medidas de reclusão e todas aquelas restrições, foi uma porrada. Eu realmente achei que o mundo ia acabar. Bateu uma angústia e nos primeiros dias eu não conseguia nem pegar num instrumento, levou um tempo até me dar conta que a música seria a melhor terapia pra aquilo tudo.
Eu estou na música desde 1997, e essa foi a primeira vez que eu não enxergava perspectiva. Senti-me fechado pro mundo e transtornado pelo silêncio, que nunca havia existido no meu trabalho. Foi preciso buscar na alma os sons que me trouxessem paz. Foi necessário desligar a eletricidade. Voltei-me pro meu violão Di Giorgio antigo de nylon, e comecei a procurar alento e ressignificado para as coisas. O Oxalah veio disso.
Não sei explicar bem o porquê, mas posso te dizer que tanto eu, quanto Edy e Guga e também Cesinha, quando nos juntamos há vinte anos atrás pra montar o Zefirina Bomba, o propósito não foi muito diferente, a instiga de hoje é a mesma daqueles dias, mas o groove hoje tá mais cadenciado. Muita gente fez essa transição do som mais cru pra algo mais leve e manteve o nome, eu realmente achei melhor começar do zero. Oxalá dê certo!
Particularmente como você descreveria o som da banda?
Sei não visse! Groove torto, samba coco. Tudo começou no violão e quando a percussão chegou deu o balanço pra conduzir as ideias. É música brasileira sem dúvida, mas não me atrevo a classificar.
Penso que tem muito ancestralidade, daquele universo da zona da mata, dos festejos, denominando a alegria, se fala em fuá, forró, sambada, tudo isso tá condensado, acho que a parada passa por aí, nessa junção de elementos que acabam conduzindo a gente.” Talvez nesse primeiro material gravado não apresente todo esse leque, mas nos shows a gente tem construído essa vibe.
Diante dos novos paradigmas causados pela tecnologia, como o artista independente é afetado, e como ele deve se sobressair nesse contexto?
A gente tem acompanhado com bastante interesse essas mudanças, somos do século passado, do tempo da fita K7 (que acabou voltando a circular há alguns anos), do tempo em que as coisas rolavam pelas parcerias e o boca a boca funcionava como impulsionador. Claro que ainda acho que a melhor forma de agregar é ao vivo, tocando pras pessoas. Mas as ferramentas de hoje favorecem muito o nosso trabalho, tem gente no mundo todo ouvindo nosso som. Imaginar isso tudo quando começamos era ficção científica.
Tudo tá mais acessível, não é mais necessário prensar um disco e enviar para se conseguir shows fora da cidade. Esse custo ou investimento está voltado para o vídeo, que promove um link direto com o ouvinte. Pra mim a grande diferença tá no retorno disso, o disco era um lance de ligação mais pessoal, a arte, os sons, a própria forma de ouvir, tornava a experiência mais íntima. Já o vídeo cria outro papel nessa cadeia produtiva. A tecnologia ajuda. Fato. Acompanha-la é desafiador. O lance é ir junto observando as tendências de uso e vê o que essas linguagens oferecem.
Quais os projetos traçados da banda para o futuro?
A gente quer muito rodar com esse trampo agora. Estamos com um set bem louco que nos proporciona fazer um show de 40 minutos ou de mais de 2 horas, basta a tomada tá ligada e povo querendo ouvir. Vai rolar aqui em João Pessoa dia 21 de agosto no Largo da Casa da Pólvora. Vai ser massa! Estamos colocando o bloco na rua. Agradecemos muito esse espaço!