Lá em 2010 comprei o disco homônimo de Lurdez da Luz, um digipack bonitão. É o disco solo de Lurdez após a dissolução do Mamelo Sound System, projeto no qual ela fazia dupla nos vocais com Rodrigo Audiolandro e ainda contava com o produtor Alexandre Basa. Lurdez entrou na carreira solo com um belo disco e de lá para cá não parou mais. Gana Pelo Bang saiu em 2014 e agora chegou aos streamings o EP Devastada, que vai ganhar ainda um lado B e sair em vinil. A artista tem outros trabalhos que eu não conhecia e que são ótimos também.
Além dos discos solo, Lurdez também traz no currículo colaborações com a banda Aláfia, com o compositor Victor Rice, trabalhos em trilha de cinema e peças publicitárias.
Devastada deixa saudade assim que acaba. As 4 músicas trazem o que de melhor Lurdez sabe fazer: rimar com suingue em cima de diversas influências musicais dando dinamismo ao EP. Os temas das letras também passeiam pela problemática da vida com o amor permeando tudo. Nesse ponto “Dólar” se destaca mostrando que o amor vale mais que qualquer dinheiro.
Batemos um papo com Lurdez sobre o EP Devastada que você pode ouvir no fim da entrevista e também os outros lançamentos nos links pela publicação.
Revista O Inimigo – Quando comprei o álbum homônimo lá em 2010, achei uma continuação do Mamelo Sound System. Sonoridades brasileiras com batidas eletrônicas. Já o Gana Pelo Bang, uma pegada mais eletrônica pop. E agora volta para o primeiro trabalho com um suíngue mais brasileiro, exceto por “Dólar”. É isso mesmo? E o que levou a essa escolha?
Lurdez da Luz – Salve Salve! É uma continuação na estética do Mamelo né? Já em conteúdo lírico menos, uma vez que uma mulher toma posse da narrativa, fora as participações masculinas. E tem faixas bem diferentes até em produção musical também do que o Mamelo costumava fazer, como “Ziriguidum” ou “Corrente de água doce”. “Gana” é minha visão musical da época, o que eu andava ouvindo e vivendo. Eu assino pela primeira vez direção artística de um trabalho e queria algo que ficasse forte só com DJ ao vivo. Minha ideia era fazer um show de Live P.A como fiz mesmo. Pop é linguagem né? Não é um gênero ou estilo musical certo. E isso tem desde o Mamelo. Faixas que soam mais pop, porém o experimentalismo anda junto. Ambos os conceitos tem em tudo que eu faço. “Dolár” não é menos brasileira em nada do que as demais, porém “Devastada” tem uma batida explicitamente nordestina que é o forró. Essa mistura de eletrônico e orgânico também me acompanha desde o Mamelo. Então, na verdade, são trabalhos diferentes como meus mestres da música brasileira, que fazem um disco revisitando o samba em outro o bolero, ou usam timbres dos anos 80 e não mais dos 70 porque estão nos anos 80, entende? Eu lanço mão do que é verdadeiro pra mim e sigo minha intuição.
Do Gana Pelo Bang para o Devastada se passaram nove anos. Por que tanto tempo entre um lançamento e outro?
Porque tiveram vários outros trabalhos entre esses, não teve esse hiato. Tirando singles e parcerias que lancei. Eu fiz um EP chamado Bem Vinda, fiz um disco acústico chamado Acrux, fiz um vinil com 2 faixas em parceria com o Quebrante na pandemia. Compus pra banda Aláfia umas 3 faixas, pro Paulo Miklos, fiz faixas com DJs como o Mauro Telefunksoul, Victor Rice, Another Magic de São Francisco, Tutti Sound System, Rizzie (cantor e ator do sul do país), algumas cyphers de rap, entre outros trabalhos como publicidade pra marcas e trilha sonora de cinema.
Devastada veio em formato EP, já os outros dois discos são álbuns. A escolha pelo formato é causado pelo excesso de lançamentos e pulverização nos streamings gerando uma procura mais por singles?
Sim, exatamente. Sabemos que um disco conta uma história, eu amo a concepção desse formato, porém alguns lançamentos na sequência ajudam a movimentar mais na internet, a crescer a base novamente. E a ideia de Devastada é lançar lado A agora e lado B em breve e prensar em vinil.
Tava ansiosa pra entregar pro público, pois foi um longo processo para as músicas ficarem prontas. Ficamos trabalhando à distância, o que dificulta um pouco o andamento. Daí eu quis soltar e logo mais teremos outros sons pra fechar essa fase com chave de ouro… Na verdade ir pra próxima fase que são os shows.
O disco foi feito com uma banda afiada. O formato dos shows segue o mesmo formato?
Sim, segue. Mas eu sempre trabalho também com DJ que é um pouco diferente.
Qual a possibilidade de subir pro Nordeste? Tem algo sendo articulado?
Era o que eu mais queria, sem dúvida!!! Por enquanto não.
Ouça Devastada, de Lurdez da Luz: