Se você acompanha essa seção sabe que no título já indicamos o local do show da banda que escolhemos. Eis que Os Bonnies, uma formação clássica do rock potiguar, que bandas mais novas não tiveram a oportunidade e o prazer de conhecer, ainda não têm um show completo disponibilizado nas plataformas digitais. Infelizmente. Na verdade até fotos deles é algo difícil. O perfil no Facebook é paupérrimo.
O quarteto Arthur “Tampinha” Rosa, Olavo Luiz, Thiago “Tijolo” Araújo e Rafael “Delega” Barros era responsável por animar, com pegadas de Rockabilly, alguns lugares que ficaram no imaginário dos natalenses. Podia ser no Hells, no Jazzy, no Galpão (ainda segurando a onda pelo que sei), DoSol, no Budda Pub ou até na casa de DJ Macacco, ninguém sabia como seria a apresentação. E isso era uma das motivações para ir curtir os shows.

A banda, que nunca declarou fim oficial, começou em 2000 e em 2005 lançou pelo selo Mudernage o EP homônimo. Posteriormente foi lançado virtualmente pelo selo Senhor F. Aí estava o registro do que era a banda no começo, influências clássicas como Beatles e Chuck Berry são visíveis. Esse disco tem uma música que nunca vi tocada ao vivo, “Cinema”. No disco o vocal é do guitarrista Thiago.
Nos anos 2000 era comum achar bandas que emulavam a sonoridade sessentista, mas como algo a ser reverenciado em apresentações burocráticas. Aí é que entra o diferencial e formou a aura que paira sobre o quarteto: os shows eram imprevisíveis. Podiam ser explosivos (inclusive com destruição, ou tentativa, de equipamentos como no bar Budda Pub e no festival Abril Pro Rock) ou morgados. O humor dos integrantes (entenda como quiser) movia as apresentações. Geralmente os shows em locais menores eram os melhores. Sendo assim o show no palco imenso do MADA, na Via Costeira, foi lamentável. Alguns dizem que as últimas palavras de Tampinha foram “se eu soubesse que seria assim, tinha ficado em casa”. Não lembro, sinceramente. Um contraste total com shows quentes quando a banda mandava “Sopa de Drogas” que nunca ganhou uma gravação. Além do MADA a banda se apresentou no Festival DoSol, Bananada (GO) e Abril Pro Rock (PE) nos tempos áureos com três palcos.
Arthur e Olavo (guitarra e baixo, respectivamente) usavam muitas animações para ilustrar as músicas. Em stop motion feitas no programa Paint do Windows. É isso mesmo que você leu, muitas delas estão disponíveis no Youtube e a banda chegou a ganhar um prêmio em um festival de cinema local como Melhor Clipe. Paralelamente as animações para clipes também foram responsáveis por criar a Galera Greiosa. Com personagens como Roni e Bira e a famosa frase “o cigarro é minha vida”. É engraçado e contraditório como eles conseguiam fazer essas animações, ilustrações e pinturas de Arthur, usar os meios audiovisuais a favor e ao mesmo tempo contra. Quase uma auto-sabotagem. Parte do acervo escasso de imagens está no Flickr da banda e também existem imagens espalhadas em outros como o de Débora Ramos, que fotografou o Festival DoSol 2009.
Depois do EP a banda lançou mais um disco, dessa vez um álbum. Novamente homônimo e que ficou conhecido como O Disco Azul. Também pela Mudernage. Nele já é possível ouvir a banda em transição, saindo do rock básico e quase juvenil do EP de estreia e flertando com experimentalismo, folk e psicodelia. A última publicação da banda no Facebook data de 2014. De lá para cá Arthur se dedicou a pintar e gravar sozinho, chegando a formar o Quint! com participação de Olavo e mantém uma produção prolífica onde alia suas pinturas à música em seu espaço no Bandcamp. Inclusive o último lançamento, Queimando os Amiguinhos, tem participação de Olavo. Thiago fez parte da Bop Hounds e Olavo e Rafael (bateria) tocaram juntos em uma das formações da ÓperaLóki.
Sempre que se toca no nome da banda em alguns círculos bate a saudade de um tempo em que todo fim de semana tinha algum show bom para ver e vários lugares para isso. A banda era realmente uma reunião de amigos. Pelos idos de 2006 assumi as baquetas na Rebelviz, banda irmã d’Os Bonnies e que nunca chegou a gravar um disco, e ensaiei algumas vezes em um estúdio (um quartinho) nos fundos de uma serralheria no bairro das Rocas – ao lado da Ribeira que sempre aportou shows históricos – que as duas bandas usavam. Nas paredes além de pixações haviam muitas folhas com letras que dariam alguns discos muito bons, com certeza. Prova disso é o último registro disponível, Rock And Roll Sem Nome, que já mostrava o caminho a seguir depois do Disco Azul com muita experimentação. “Ela foi Embora”, Não Aqui Não Agora” e a belíssima “Leve” são exemplos claros, mas o registro mais emblemático disso é “Extra“, que encerra o disco.
Pois bem, fiquem com Os Bonnies – Parte 1, um emaranhado de imagens captadas em lugares diversos e que é possível ver que o público nos shows da banda era parte das apresentações. A Parte 2 você acha nos vídeos relacionados.