Resumo da Ópera, disco conceitual de Dani Carmesin, passeia por 10 anos em 3 atos

Foto: Marina branco

Dani Carmesin está na ativa há 10 anos e tem em sua carreira EPs, álbuns e singles. Tratamento de Choque (Desconstruindo a a Imagem Ideal) é seu disco de estreia, um EP. De lá pra cá se vão quase 10 anos e a luta no independente é diária. Resumo da Ópera é seu segundo disco, sucede Das Tripas Coração (2015), e mostra em três atos sua história na música e na vida diária.

O disco passeia por rock, pop, pós-punk e synthwave. Resumo da Ópera foi gravado por Fernando S. na Home Studio Área 51. Fernando, que também assina a produção musical do disco, toca guitarra e sintetizadores, ao lado dos músicos André Insurgente no baixo, Tiago Marditu na bateria.

Batemos um papo com Dani sobre o disco, a carreira e as dificuldades inerentes a tudo.

O Inimigo – Pra começar, percebi que a sonoridade do disco fica no limiar entre o pop e o peso. Tanto que entrou em uma playlist Rock Leve. Isso foi pensado desde o início?

Dani Carmesin – O disco foi dividido em três atos, no primeiro começa mais denso e tem uma pegada mais rock. A partir da terceira música a gente já deu uma quebra pra entrar num segundo ato mais atmosférico, fazendo uma intercalada entre músicas mais dançantes e músicas mais introspectivas. E no final encerramos o disco até de uma forma dramática, questionando onde iremos parar como humanidade. É um disco conceitual, tentei resumir através da sonoridade do disco os 10 anos da minha carreira como se fosse um enredo mesmo.

O termo “resumo da ópera” é usado para cortar um assunto longo, digamos. Aí te pergunto: como foram esses 10 anos (incluso o disco já lançado) para você artista e o que inspirou esses dias?

Foram 10 anos de guerrilha mesmo. De muito sangue, suor e lágrimas derramados. Claro, aprendi muita coisa, tive trocas e parcerias que me fortaleceram e me ajudaram a crescer como artista, até hoje luto com preconceitos e julgamentos velados com certeza, luto contra a resistência em aceitar e reconhecer o meu trabalho, eu sinto muito isso, principalmente dos produtores e festivais. Mas também tenho consciência que não é só comigo, aqui na cidade tem várias bandas que estão há anos na ativa e que não conseguem projetar seus trabalhos por vários motivos: dificuldade financeira, a falta de apoio, aqui também temos pouquíssimos espaços abertos que comportam shows de bandas, também existe uma dificuldade em aprovar projetos em editais e de quebrar um ciclo vicioso onde praticamente sempre os mesmos artistas são aprovados, enfim… Mas apesar de tudo, particularmente eu tento sempre buscar outras vias e recursos e pra isso estudei marketing digital, auto gerenciamento de carreira, enfim… Todo dia é um aprendizado e se eu soubesse há 10 anos atrás o que sei hoje, muita coisa teria sido diferente. E falo tanto de parte burocrática quanto prática. E isso tudo claro, está refletido no disco em músicas como “A bailarina” e “Hellcife”.

Capa de Resumo da Ópera

O disco conta com várias participações. Gente importante no cenário musical de Recife. Conte um pouco como foi esse processo. Você já tinha ideia do que eles fariam e guiou ou deixou à vontade pra cada um contribuir?

No processo de composição das músicas eu já fui pensando na possibilidade de convidar alguns artistas que eu admiro e que já tinha vontade de fazer essa troca. Então convidei Kira Aderne pra dividir o vocal comigo na canção “Over and Over”, porque como é uma música cantando em português e inglês e Kira compõe e canta divinamente em inglês, então se encaixou perfeitamente a música. Também convidei Fernandes que é um baita guitarrista, além de ser cantor e compositor também, e ele super aceitou e gravou guitarra em duas faixas. E também convidei Neilton Carvalho da Devotos pra fazer a música “Víbora” e ele super aceitou, colocou a pegada dele na música sem perder a essência da sonoridade do disco e isso foi foda. Aliás, todos que participaram entenderam a minha ideia sonora sobre o disco e o resultado final ficou muito bom. Eu super curti e foi um processo divertido, sem pressão e deixou um gostinho de quero mais, sabe? Acho que esse tipo de troca só acrescenta. Quem conhece o trabalho dos artistas que participaram do disco sabe que tem a pegada, as impressões e as características de cada um ali fazendo uma fusão com minhas referências. E esse era o resultado que eu buscava mesmo.

Você já falou que os locais de shows aí estão escassos e isso é em todo lugar. Aqui em Natal fechou tudo. Qual a tática pra fazer o show do disco? Vai “criar” espaços para isso? Já tem datas previstas ou ainda no aguardo de tudo melhorar mais?

Eu espero profundamente que melhore em relação aos espaços, não é que não existam aqui, claro que tem. Mas são espaços pequenos que não são feitos pra shows com banda completa, sabe? É mais pra um show reduzido, intimista, voz e violão. Não que seja ruim, mas a gente sabe que esse tipo de show não contempla todo os estilos de músicas como um hardcore, por exemplo, entre outros. Eu já tenho alguns projetos encaminhados para shows e festivais virtuais por hora. Show presencial eu só pretendo retomar ano que vem mesmo. E já estou me programando pra fazer um show de lançamento do disco aqui em Recife e além disso também estou me organizando pra cair na estrada e levar. Eu espero profundamente que melhore em rolação aos espaços, não é que não existam aqui, claro que tem. Mas são espaços pequenos que não são feitos pra shows com banda completa, sabe.e levar Resumo da Ópera pra outros estados pra outros estados. Sair um pouquinho daqui e tentar fazer aquela tática de fazer ecoar o som de fora pra dentro.

Ouça abaixo Resumo da Ópera via Youtube.