Nós achávamos de 2020 tinha sido um ano ruim. Eis que veio 2021. E o pior que as incertezas continuam. O Inimigo se arrastou por 2021. Muito trabalho, estudo, tentativas de abstrair e poucos discos ouvidos devidamente. Definitivamente playlist não é a nossa praia. Curtimos ouvir um disco todo. Mas diante do caos é difícil parar e curtir a música como ela merece, passando longe de ser uma trilha para os dias. Sendo assim a lista esse ano foi até difícil de completar porque nem a memória ajudou. Curto mesmo a música produzida aqui no Brasil, então da minha parte só fiz o listão nacional. E o único disco gringo que vai entrar é um que descobri através da página No Deal do youtube. Uma página dedicada em quase sua totalidade a música feia. Discos rápidos, sujos na sonoridade, agressivos e do mundo todo. Lá vai meus 15 + 1.

Antônio Neves – A Pegada Agora é Essa
(Spotify / Bandcamp / Youtube)
Entre músicas autorais e releituras, o multi-instrumentista Antônio Neves lançou um álbum difícil de rotular. Em sua maioria instrumental, também tem cara de experimental. Por mais que esse rótulo já esteja bem batido. Fato é que o time que criou o disco é diversificado. Então você pode passear por jazz, samba, reggae e tudo mais que couber na cabeça do músico. Aperte o play e viaje. Uma das melhores descobertas de 2021.

Jadsa – Olho de Vidro
(Spotify / Bandcamp / Youtube)
Se algo palpável pode ser comparado ao disco da baiana Jadsa é a praia e o mar. E é assim que seu disco começa, suave como uma praia calma, sem ondas. Essa pegada se espalha por todo o álbum criando camadas sonoras percussivas e de guitarras que se cruzam. Tal qual o disco de Antônio Neves, Olho de Vidro é inclassificável. Experimente ouvir tomando uma gelada na praia observando a paisagem. Bate legal.

Djonga – Nu
A cabeça entregue na bandeja é uma síntese de Nu. Mais uma vez apontando para vários lados, Djonga deu a cara a tapa depois de um período afastado das redes, das declarações e atitudes que renderam vários questionamentos. Até cancelamento por parte dos fãs. O artista chegou a anunciar que é o último disco, que pra frente vai trabalhar mais com singles. O disco é recheado de participações e traz o que Djonga sabe fazer de melhor: dizer tudo na cara de forma direta.

In Venus – Sintoma
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Sintoma é um disco protesto. Um disco retrato. Um disco documental. Em 10 músicas a banda viaja por saúde mental, problemas crônicos sociais (crescentes) como a fome, passando por violência e pela necessidade de não se calar e nem baixar a cabeça. Se o pós-punk tem seu pano de fundo no som da banda, o todo vai muito além. A banda vem evoluindo desde a estreia com Ruína (2017). A banda foi uma das que passaram por aqui em 2021.

Manger Cadavre? – Decomposição
(Spotify / Bandcamp / Youtube)
A Manger Cadavre? leva aos seus discos o seu cotidiano. As letras, as vivências estão presentes, já que todos de alguma forma batalham pelo bem estar social da população na prática. Decomposição para alguns soou como um disco de transição para uma sonoridade mais arrastada. Fato é que ao longo dos 10 anos de carreira a banda sempre alternou entre uma sonoridade mais rápida e visceral com uma mais arrastada. Em meio a pandemia e mudança na formação da banda se criou um dos melhores discos de som extremo de 2021. Curtimos tanto que batemos um papo com Nata Nachthexen.

Vermes do Limbo – 1bu
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Som feio me apetece tanto quanto uma produção orquestrada como um Letieres Leite que nos deixou esse ano, infelizmente. A crueza, o som direto, simples e rasteiro é para muitos algo fraco, mal feito. Não concordo e ainda digo que a simplicidade muitas vezes é o que precisamos para dar uma mudada no dia. Um copo de cerveja gelada, um mergulho no mar, uma guitarra inquieta com uma bateria desgovernada/cadenciada e um baixo marcante. Tudo isso é Vermes do Limbo. É para quem gosta de algo mais organizado, norteado, 1bu tem esse diferencial. É um disco mais bem estruturado em torno das ideias.

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo
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Rotular como pop cabecinha (nome da música que abre o disco) é pouco. A banda que tem apenas dois anos de atividade passeia por pop, rock, psicodelia e qualquer doideira que der vontade. Se as letras ainda mostram a jovialidade dos integrantes, a musicalidade aponta para uma maturidade pouco vista na juventude badernista desse brasilzão. Aperte o play e se sinta de volta aos anos 70 com toda sua aura de inventividade.

Marina Sena – De primeira
Marina Sena é a artista de 2021. Não é uma novata, apesar da pouca idade. Fez parte da A Outra Banda da Lua e Rosa Neon. Em sua estreia solo com De Primeira, vem amealhando prêmios e colecionando haters. Até o momento os discursos de ódio não têm afetado a artista. Em recente declarações ela disse que não veio para fazer arte e não suprir expectativas. Se preparem para vê-la encabeçando todos os festivais pelo Brasil afora e seu álbum pop dançante.

Jotaerre – Tempestade
Jotaerre traz em Tempestade um disco onde ele assume seu lado vocalista e, desde a capa, uma temática sombria. Seja sobre o clima, sobre racismo ou sobre política. Que no fim pode ser tudo a mesma coisa: o ser humano e sua ganância por poder. Jotaerre é guitarrista da Psirico e se você chegou até aqui e ainda não deu o play, dê sabendo que não ouvirá pagodão baiano. Tá lá na essência, mas o músico vai muito além em sua guitarra e em suas parcerias. Refrões grudentos, batidas dançantes e uma guitarra que vai até o Metal. É ouvir para crer.

Juçara Marçal – Delta Estácio Blues
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Se pelo lado da ascenção Marina Sena foi o destaque de 2021. Juçara segue sendo destaque ano após ano, seja solo ou em parceria com Thiago França e Kiko Dinucci. São figuras quase inseparáveis. Falar em um é falar nos três. Em Delta Estácio Blues Juçara entrega um disco heterogêneo, onde começo, meio e fim não se interligam. Isso torna um disco ainda mais interessante pela falta de unidade. Juçara e Kiko brincaram com elementos eletrônicos, com a voz, com as parcerias. A abertura do disco com “Vi de Relance a Coroa” é uma das melhores introduções de álbuns em muitos anos. De uma riqueza impecável.

Lulina & Hurso– Vida Amorosa Que Segue – Vol. 1
(Spotify / Bandcamp / Youtube)
Lulina tem uma produção prolífica. Inclusive já lançou outro disco em 2021. O destacado aqui vai por um caminho de programações eletrônicas oitentistas escancaradamente voltadas para o amor. Letras simples sobre o dia a dia, assim como todos os seus anteriores. O disco bateu tão forte que fui ouvir tudo que ela fez antes. Ela está há 20 anos produzindo e fazendo arte, seja em forma de música, de vídeos e também livro.

João Donato e Jards Macalé – Síntese do Lance
Difícil até escrever algo sobre duas lendas da música brasileira produzindo juntos. Fato é que pela capa você já sabe que o disco é massa. Bossa, Jazz, Samba. Cabe tudo pelas mãos de ambos, mas principalmente pela de Donato que se sobressai nas produções dançantes e delicadas. Entrou de recesso, ouça na praia degustando um negocinho como o que Jards curte.

Bonifrate – Corisco
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Mesmo com algumas músicas feitas há anos Corisco passeia por um estranhamento dos dias atuais. Os temas podem até chegar ao espaço, mas sempre com um olhar fincado na Terra e na terra. A sonoridade segue a que o caracteriza desde os tempos da Supercordas onde o principal traço é a psicodelia em meio a mudanças que muitas vezes parecem mais um continuação entre uma música e outra.

Jubarte Ataca – Das Profundezas, emerjo!
(Bandcamp)
Sucedendo Falso + 4 (2016) o trio Jubarte Ataca volta com o vinil 12″ Das Profundezas, Emerjo!. O disco segue a pegada já conhecida da banda, surf music oscilando entre momentos cadenciados e mais acelerados. Em meio a tantos animais que habitam as profundezas, destaque para “De Volta às Abissais” que encerra o disco e que ficou a cara da Thee Automatics, clássica banda que anunciou fim este ano e que já contou com Joaquim (bateria) durante um tempo. O vocal da música ficou a cargo de Paolo Araújo (Bugs, Moloko Drive), responsável também pela gravação do disco no Ícone Estúdio. O disco que passeia por surf, garage e rock contou também com a participação de Luiz Teotônio no baixo e Augusto Pitombeira (Deuszebul) nos vocais.

Alessandra Leão – Acesa
(Spotify / Youtube)
A tradição e poesia dos rituais envolve Acesa. Novo disco de Alessandra Leão é um sucessor natural de Macumbas e Catimbós. Se nesse último disco o minimalismo era o centro, em Acesa esse centro percussivo ganha toques eletrônicos em seu entorno. O disco faz parte de uma obra que engloba uma web série em 15 episódios que são encontros com mestres e mestras, músicos e líderes religiosos, ligados à tradições do Coco, Ciranda, Maracatu de Baque Solto, Jurema, Umbanda e Candomblé. Encontros sem roteiro que desaguaram em um disco rico e que mostra que mesmo o tradicional, o ritualístico, abre espaço para o novo sem se perder.

NAG – Observer
(Spotify / Bandcamp / Youtube)
A NAG é uma banda punk de Atlanta, Georgia. Punk/Pós-Punk, sonoridade agressiva, dançante, pesada. Com apenas seis anos de existência tem dois álbuns muito bons que descobri por meio da página No Deal, no Youtube. Especializada em sons feios do mundo todo. A NAG atende por uma bateria e baixos que marcam bem as músicas enquanto a guitarra em loops esmerilha ora soando dançante, ora soando como uma motoserra destruindo o que estiver pela frente. Aliás, vale o passeio por toda a página da No Deal.