Mini Bad, da Satanique Samba Trio, é um disco de canções empoeiradas

A brasiliense Satanique Samba Trio (Munha da 7, Jota Dale, Sombrio da Silva, Lupa Marques e Ely Janoville).  lançou mais um disco. Mini Bad é um resgate de músicas que estavam empoeiradas num fundo de gaveta, uma volta pela trajetória do grupo. Quem já conhece a banda vai curtir tal qual um queijo de coalho com canjica, quem não conhece é uma boa pra iniciar e depois cair pra dentro de discos mais sombrios (rs) como a série Bad Trip Simulator.

Batemos um papo enviezado com Munha, baixista e maestro do grupo.

O Inimigo – Pra começar… li em algum canto que as músicas do disco eram sobras. Que também você não via unidade pra entrar (nos outros discos) e agora vê unidade. Explicaí.

Munha – São faixas que não foram incluídas em álbuns antigos e ficaram juntando poeira dentro de um HD qualquer. Algumas não estavam 100% prontas, então, na medida em que fui adicionando arranjos e mixando, consegui encaixar em uma narrativa mais orgânica. Aí, digamos, forçou-se uma unidade estética na última hora.

Esse disco foi pedido pela Rebel Up? E percebi que por último o disco chega no Spotify. Estratégia pra entrar uma grana no Bandcamp e tal?

Sim, Rebel Up. Exatamente. Eles deixam rolar a repercussão por uns meses, pra pingar uma grana via Bandcamp, aí quando a torneira começa a fechar, vamos para as plataformas da penúria.

Rapaz o disco tem a pegada já sabida de vocês. Mas senti uma pontinha ali de eletrônico. Como foi esse processo? Tem isso mesmo?

De eletrônico, dá pra dizer que temos “xenomorphus #5”: é uma faixa que devia ter ido para o álbum Xenossamba, de 2017. Seria uma versão muzak de “G# Ad Nauseam”, que também não incluímos em álbum nenhum até agora. Inclusive chegamos a lançá-la no Youtube na base do freestyle. Pensando bem, talvez a gente esteja deixando muito conteúdo na gaveta.

Tem muita música guardada?

Tem, mas estamos guardando para lançamentos futuros. Durante a pandemia tive um surto de produtividade e acabei me afogando entre folhas e folhas de partitura. Existe um risco considerável de saírem uns 4 álbuns novos em 2023, caso algum selo tenha coragem de lançar.

Capa de Mini Bad

E dessa produção aí há algo de diferente do que já fizeram? Uma guinada pra algum outro lado?

Até música com letra tem nessa bacia. Você não perde por esperar. Parcerias “polêmicas” também, por sinal.

Esse monte de música que você escreveu, com letra inclusive, já enxerga a forma que isso deve tomar? Digo, a forma musical em conjunto? Isso já foi pensado na hora que compôs?

Sim, parto de um conceito, depois para a forma e mais tarde para os arranjos/instrumentação. Já sai uns 70% pronta dos meus cornos.

Munha, tu acompanha a galera nova da produção musical?

Nem a nova nem a antiga.

(risos) Num ouve nada?

Nada. Só o que serve pra pesquisa do Satanique Samba Trio. De resto, a última coisa que quero na minha vida é ouvir música. Seria algo como trabalhar no meu tempo livre.

A questão era essa sobre pesquisa mesmo. Então, o que entra nisso? Como tu usa partitura para escrever dá uma ideia de erudição. Mas não necessariamente. Então o que influenciou essa leva de produção na pandemia?

Entra música popular brasileira rastaquera, basicamente. Só o pior da produção nacional, a rapa do tacho, os defensores dos clichês. O extremo oposto dos gênios do samba, do forró, etc. As bobagens mais caça-níqueis da história. O que influenciou o levante produtivo na pandemia foi a solidão, imagino eu. Fiquei maníaco, registrando ideias a mão, no papel, completamente desgraçado da cabeça.

Por falar em gênio, estava ouvindo esses dias o podcast do Charles Gavin, O Som do Vinil, e Gil falando sobre a tríade dos discos Re (Realce, Refazenda e Refavela) comparou a Banda de Pífanos de Caruaru aos Beatles. Achei interessante.

Eu não conheço Beatles o suficiente pra endossar essa opinião, mas se o Gil disse, tá dito. Assino embaixo.

Tu falou “Entra música popular brasileira rastaquera, basicamente”. O rastaquera eu entendo como popular e, pra muita gente, sinônimo de falta de qualidade. Mas vocês exploram isso. Só que uma sonoridade rebuscada. Rola do som de vocês ser visto como bom e o popular não. É preconceito? Ou falta de conhecimento mesmo?

O cômputo médio do que se conhece por ”rastaquera” é justamente o popular. Isso obviamente se dá por preconceito, não há o que se discutir. Eu, no entanto, me referia a essas venalidades que tocam nas rádios, feitas pra responder a nichos de mercado. Há muito mais valor musical e muito mais sofisticação em um sopro do pife de Sebastião Biano do que no CD inteiro do ET & Rodolfo, por exemplo.

Ouça Mini Bad via Bandcamp logo abaixo.