Deu ruim: Satanique Samba Trio lança disco que não deveria ser lançado

Foto: Celio Maciel & Adriana De Toledo de Macedo-Soares

Em 2019, o quinteto Satanique Samba Trio lançou o disco Mais Bad, continuação da série de canções Badtriptronics, com o mesmo empeno e conhecimento do imaginário musical brasileiro de sempre.

Em fevereiro de 2020 resolveram lançar nos stories do Instagram o primeiro disco líquido da plataforma, o Instant Karma. Uma iniciativa única até então. Uma música por dia, 28 ao todo, cada uma com a duração de um story (15s) e vida útil de 24h. As músicas foram gravadas em um celular ultrapassado que nem ligação faz mais. Era pra tudo ter parado por aí, mas a banda não contava com a astúcia da juventude badernista brasileira e da cara de pau de outros meliantes mundo afora.

Um ano atrás batemos um papo com Munha (baixo e mente doentia por trás de tudo) e mais recentemente saiu uma boa entrevista também no Hominis Canidae. Resolvemos entrar em contato, de novo, para entender porque o disco veio à tona. Leia a entrevista com Munha, reserve 7 minutos da sua vida e ouça o disco abaixo, via Bandcamp.

Vi no release de soltura do disco que a juventude fã do Satanique andou vendendo as músicas líquidas. Obviamente depois de arrumar um jeito de baixá-las do stories. É verdade, é fuleiragem? Você que descobriu isso e como?

Munha — Um amigo americano que gosta de garimpar música obscura na internet esbarrou com um site duvidoso de download pago que estava oferecendo algumas músicas do álbum. A princípio, o que me ofendeu foi o preço: 5 centavos de euro por faixa. Ri e deixei quieto. Passaram uns dias e esse mesmo amigo me mostrou outro site que também estava vendendo músicas diferentes do Instant Karma. Fui pesquisar melhor e não eram os únicos, tinha até site ofertando uma faixa do álbum como ringtone.

Mermão, achava que tinha sido algo mais de boa. E aí? Entrou em contato pelo direitos?

Não, mas quando fechamos o lançamento com o selo (Rebel Up! — Bélgica) e as notícias começaram a rodar, os mp3s desapareceram dos sites que mencionei.

Você tinha dito da última vez que conversamos que foi uma ideia em cima da liquidez dos dias e tal. Foram 28 músicas, uma por dia. Como foi a produção/pensar os 28 temas?

Já que iam ser muitas faixas, pra prover alguma variedade, nos propusemos a fazer uma galeria virtual de ritmos tradicionais brasileiros. Cada faixa representa um. Tem cacuriá, boi, samba-enredo, marchinha, etc, etc — tudo derretido, obviamente. Lista pronta, escrevi tudo e fomos gravando os arranjos com meu celularzinho véi. Do meu telefone para o telefone do espectador. Nunca achei que iriam ouvir as músicas fora do Instagram. Ledo engano.

Pois é. Eu fui ouvir no Bandcamp, porque não acompanhei pelo Instagram (quase não olho stories), e parece um compêndio da música brasileira em forma — de como você já falou — ringtones. Achei massa e ao mesmo tempo terrível porque queria mais. Como se deu a relação com o selo?

Na época da empreitada no Stories dois selos gringos — um deles bem grande — chegaram a nos abordar, mas o timing era ruim. A música ali, naquele momento, tinha o propósito de desaparecer, não de virar disquinho, então não demos trela. Agora, depois de toda a esculhambação, os contatos já tinham esfriado, aí procuramos o Rebel Up, que tinha lançado nosso último disco (Mais Bad, 2019). Estamos em casa agora.

Depois dessa experiência única no universo da música, já tem algo novo em mente?

Sim, inclusive estou organizando agora mesmo, MAS não posso entrar em detalhes por questões contratuais. Vai ser grande — ou como diria o Batman do Feira da Fruta — “Bom… o negócio é o seguinte: o pau vai comer solto aqui agora e, moçada, todo mundo pra trás”.