Desde dezembro está no ar o disquinho (formato 7″ amarelo) Cursed Brazilian Beats Vol.2 que é, ao estilo Satanique Samba Trio, um disco de Pagótico. O primeiro volume sairá na sequência e ainda terá um terceiro, fechando a trilogia que poderá virar tetralogia ou pentalogia. Para entender mais sobre essa lombra, conversamos mais uma vez com Munha da 7 que vive por aqui nas páginas da Revista O Inimigo. Pensando até em abrirmos uma seção só pra ele.
No fim do papo, ouça o disco.
Revista O Inimigo: Valorizei demais a cuíca, instrumento massa que parece estar em extinção. Agora o disco é vol 2. O vol. 1 existe?
Munha da 7 – O Vol. 1 existe, ja está pronto, mas só sai ano que vem. O selo que vai lançar achou por bem lançar quando a gente estiver fazendo a tour europeia, que começa em maio. Aí ja viu: o primeiro sai DEPOIS do segundo.
Conta essa história aí. Os discos já seriam gravados e caiu na onda da gravadora ou foi “exigência”. Vocês já estão trabalhando com o selo gringo faz um tempo né?
Os dois já estavam gravados, na verdade, temos um TERCEIRO na gaveta, também para 2023. Tentamos vender os três pra Rebel Up, mas eles acharam melhor lançar um só em 2023 (o que é perfeitamente compreensível). Nesse ínterim, a Perdido Records de NY se agilizou, fechou contrato pro lançamento do Vol.2 e já jogou pra galera.
Nunca te perguntei sobre selos brasileiros. Só está rolando os gringos agora? Já rolou pela Amplitude anos atrás. Como está o contato com as daqui?
Por selo brasileiro, o último que lançamos foi o Mó Bad (2015). Saiu pela Dom Pedro Discos. De lá pra cá, só gringo tem demonstrado interesse. Geralmente, eles vêm até a gente.
E qual vai ser dessa tour? Tudo fechado já? Pro lado de cá, nada?
Nem tudo fechado, ainda em negociação. Pro lado do Norte/Nordeste talvez role logo depois, assim que chegarmos no Brasil. A tour no exterior vive por um fio, dada a guerra na Ucrânia. Tem muita casa de show fechando por causa da crise econômica, festivais sendo postergados, cachês diminuindo, etc.
Porra. Agora seria a hora da retomada (pós-covid que não acabou). Que merda.
Sim, o circuito de shows na Europa tá levando surra atrás de surra.
Mas o disco 2 (que é o 1) já está gravado e a previsão é de lançar durante essa tour. Mantém a previsão?
Sim, o disco está garantido pra 2023. Com tour ou não, Copa ou Olimpíadas.
Essa trilogia é um estudo, mais uma vez, sobre sons brasileiros? Tu disse que já tem dois gravados e um na gaveta. Como é a onda?
Antes de mais nada, em primeira mão, já adianto que não necessariamente será uma trilogia. Talvez uma tetralogia ou até mesmo uma pentalogia, estou estudando possibilidades. E, sim, é basicamente um apanhado de variações estéticas da MPB, coisas que a banda nunca explorou, mas que sempre estiveram ali, cutucando a máquina. Em Cursed Brazilian Beats Vol.2, o primeiro da série, por exemplo, o objeto de estudo é o PAGÓTICO, algo que gravitava nosso redor como piadinha há anos. No próximo, vamos desbravar as lambadas e guitarradas do Norte brasileiro e assim por diante.
Eita, valorizo.
Você merece.
(Risos) Interessante o lance dali do Norte da galera ouvir rádio e pegar as cumbias e outros ritmos dos países vizinhos, ao mesmo tempo tem toda a história indígena da cultura deles e também da cultura negra. Uma mistura massa. Estilos que muita gente não conhece, ficam no Carimbó e Lambada. Vão explorar muita coisa ou gira em torno desses dois?
Como se trata de um 7 polegadas, não dá pra fazer um apanhado muito extenso, mas nos aventuramos em outros ritmos, como a Marujada, por exemplo.
Voltando pro lançado. Esses dias publicamos sobre um paraibano (Marcello Ferreira) que batizou o som dele como horror synth. Vocês meteram pagótico. Como funciona essas misturas/influências de uma coisa sobre a outra na hora de criar?
No nosso caso, foi 90% trabalho de pesquisa. Já tenho uma lista com clichês da MPB a qual sempre recorro, então pra agregar as características do pagode foi fácil. O difícil foi a parte do rock gótico, que era completamente alienígena pra mim a essa altura do campeonato. Tive que pedir ajuda aos CATEDRÁTICOS da área. Dali em diante, fui cruzando os marcadores estéticos.
Eu não gosto dessas músicas com menos de 2 min, mas você gosta. Num dá pra fazer uma popzera não, com uns 3 minutos? Poderia ser uma pauta hein?
Vou considerar sua sugestão. Talvez você se surpreenda em breve.
Rapaz, tu disse uma vez que não escuta música nas horas vagas. Que trabalha com música. Nesse caso aí dá pesquisa com os góticos, como funcionou?
Pedi para uns góticos me guiarem e ouvi o que julgavam ser essencial. Aí já não estamos falando de horas vagas, afinal, a pesquisa faz parte do trabalho. No meu tempo livre eu quero é andar de montanha-russa.
Sei que tu toma as rédeas das produções. Mas a galera mete o pitaco? Ou tu já chega “vamos fazer um pagótico e resolvam”?
A galera dá pitaco, lógico. Inclusive já me convenceram a desistir de algumas empreitadas que, hoje, me parecem roubadas óbvias. O problema é que, ali, na euforia da ideia inédita, eu fico meio desorientado e acho que dá pra fazer qualquer coisa. Aí preciso da ajuda dos coleguinhas para voltar ao mundo real.
Pra fechar a tampa: Legião Urbana ou Capital Inicial?
Musicalmente não sei, desconheço as obras em profundidade, mas acho que numa briga de rua entre as formações clássicas, o Legião ganhava fácil.