Sobre Viver e os 10 anos que Criolo decidiu seguir em frente

A história que sabemos é que Criolo estava desenganado com o caminho que o rap tinha mostrado a ele. Isso lá em 2012. Queria desistir. Ganjaman achou necessário registrar músicas que para ele eram ótimas, não podiam passar batidas. E nisso resultou Nó na Orelha, um discaço. E um showzaço visto aqui em Natal na Ribeira, com uma big band. Dessa big band vim a conhecer Marcelo Cabral e Thiago França (Metá Metá). Não lembro se Kiko Dinucci tocou aqui. Mas ele participa do disco junto com Ganjaman.

Dez anos depois – e vários discos excelentes na carreira que chamaram a atenção não apenas dos pobres mortais, mas também de gente como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque pra ficar em três imortais da música brasileira – chegou aos ouvidos de todos Sobre Viver. O disco, assim como os demais, conta com sonoridades e convidados variados, assim como o olhar sempre atento ao todo. Mas com destaque para o intrínseco das relações. Os pormenores.

A lembrança de 10 anos atrás já abre o disco exaltando o rap. O rap salva. E vem se reinventando dia após dia. Em meio a desconhecidos ou a medalhões já consagrados. Criolo segue escrevendo, e olhando, com os olhos lá de trás, sem deslumbramento. A cabeça é a mesma, quer um mundo melhor pela educação, pela cultura. Pelo reconhecimento de gente como o MC Hariel que está no disco assim como Milton Nascimento, Liniker e Maria Vilani que é sua mãe e a quem ele presta uma bela homenagem.

O passeio em meio a Sobre Viver traz o Brasil de sempre, mas um Brasil que também foi assolado pela pandemia e provocou mudanças sociais. Em recente entrevista a Roberta Martinelli Criolo falou sobre as mudanças que passamos. Passamos sim, mas muita gente ou não sofreu nada ou pior, sofreu uma mudança que os deixou mais escrotos do que já eram. Enquanto metade da população sofre com insegurança alimentar, o número de milionários cresceu. Muito com o auxílio da mídia que romantiza a desgraça.

Esse passeio vai por entre crianças, por entre pretos ganhando dinheiro e incomodando, intolerância religiosa, o estado e as milícias e o amor. Acima de tudo o amor, sempre. Só ele pode mudar o que vivemos.

Samba, rap, mpb, eletrônico. Por onde Criolo andar, boas obras virão. O disco conta com parcerias luxuosas de gente como Tropkillaz, Mayra Andrade, Milton Nascimento, Zegon, Marcelo Cabral e mas gente que você merece conhecer.