Apesar do período de pandemia, que já se arrasta por mais de um ano, e de todos os impeditivos e dificuldades que isso provoca para o setor artístico, a banda potiguar Boats continua muito ativa. Entre as novidades, está o relançamento do seu primeiro EP Fazendo o Óbvio Direto da Alma, originalmente gravado em 2013, ainda como um duo, e, mais recentemente, o lançamento do novo single “Calmin”, que traz o primeiro registro do grupo como quarteto e, consequentemente, novas influências e inspirações.
A Boats atualmente é composta por: Júlia Ferreira (vocal e guitarra), José Shirley (bateria), Gabriel Nogueira (Baixo e vozes) e Anny Klarice (guitarra). O som é uma mescla entre o indie rock, emo e pós-punk.
Conversamos com a vocalista da banda, Júlia Ferreira, sobre o single, próximos passos, o disco em si e as expectativas para o pós-pandemia. Confira:
O Inimigo – “Calmin”, último single lançado, traz uma sonoridade mais calma e voltada para o Indie rock. Se assemelha um pouco à pegada já apresentada no disco “Manifesto dos Sentimentos (In)Compreendidos”, mas com uma pegada ainda mais calma e cadenciada. Como ocorreu a composição da nova música?
Júlia Ferreira – A composição de “Calmin” foi muito rápida. Eu tinha passado uma noite na casa de um amigo, trocando ideias e conversando sobre coisas que, mesmo nesse caos, conseguem nos trazer um pouco de paz. E lembrei do mar, do som das ondas quando quebram… Aí fui dormir pensando nisso, e acordei cantarolando uma melodia, no mesmo momento peguei o violão e o celular e fui gravando e fazendo a letra já por cima da melodia, só fluiu. Mostrei pra Anny, ela curtiu, no decorrer do tempo só fui ajeitando até chegar no produto final. Tanto que no período de pré-produção lá no quartinhorex junto com Nanda, foi a música que menos teve alterações, só adicionamos ambientações e alguns efeitos. Foi o feeling mesmo. A gente ama “Calmin”.
Já este ano a Boats relançou o seu primeiro EP Fazendo o Óbvio Direto da Alma, de 2013. A sonoridade era mais crua e pesada que nos trabalhos posteriores, talvez também em função da formação diferente, em duo. Para o futuro pode-se esperar músicas nessa pegada ou o caminho é mais calmo e melódico mesmo?
O que a gente anda ouvindo influencia muito no que a gente faz. Na época de duo, eu e Rudrigo ouvimos muito stoner e hardcore, e isso refletia muito nas nossas músicas. Hoje é a mesma coisa. Anny ter entrado na banda trouxe muito mais essa pegada indie e post-punk, pois são as referências dela e é massa, porque dialogamos muito bem e temos gostos parecidos. Metade das músicas do disco novo são composições dela, e vai refletindo todas essas influências. Acho que a gente está, hoje, nessa fase mais melódica e calma e vamos seguir nesse caminho, eu acho. Vai que as influências mudam, né?
Sabemos que fazer música alternativa em geral no interior do RN é complicado, pois precisa criar público para o som e, muitas vezes, organizar os próprios shows. Como é a recepção do som de vocês dentro da própria Pau dos Ferros? Qual a expectativa para quando pudermos ter shows ao vivo novamente?
De fato, produzir música por aqui é muito difícil, muito mesmo. A gente vai andando na contramão, fazendo do jeito que podemos, produzindo nossos próprios eventos. O público de Pau dos Ferros é mais da cultura de massa, poucos são aqueles que valorizam de verdade o que é produzido por aqui, temos uma relação, nesse sentido, meio de estranhamento com a cidade. Há 9 anos a gente produz música autoral aqui e a maior parte do nosso público é de fora ou não sabe quem somos. A trajetória da Boats acompanhou a chegada do IFRN, UFERSA aqui na cidade e isso mudou a nossa perspectiva com relação a quem consome nossa música aqui na cidade, mesmo que a maioria do público seja de cidades vizinhas. O público construído aqui, são nossos amigos, pessoas próximas. Mas isso não desanima, vamos continuar produzindo eventos, com intuito de disseminar nossa música para que as pessoas que ainda não conhecem, conheçam. Outra coisa que tem nos ajudado bastante na produção musical, são esses editais de incentivo à cultura, como a Aldir Blanc. Se não fosse isso, não estaríamos lançando música nesse momento. Futuramente, com todo mundo vacinado, pretendemos fazer uma tour Nordeste ou Brasil, sentimos muita falta desse calor humano, e de todas as coisas e aprendizados que esses contatos com outras pessoas nos proporcionam.
Vocês passaram de duo, para trio e agora saiu o primeiro registro como quarteto. Que novas influências podem ser sentidas nos novos sons que a banda está criando?
Quando a gente tava compondo, no caso eu e Anny, não pensávamos muito em como iria soar, mas as coisas que fazíamos era simplesmente o reflexo do que ouvimos durante o processo de composição. É tanto que a gente fez uma playlist de influências pra galera que participou da produção ouvir, pra todo mundo entrar no clima. Nossas influências vão de bandas da região como Luan Bates ao clássico dos anos 80 A História Sem Fim. Vou deixar aqui o link da playlist pra quem quiser sacar:
Ainda sairão outros singles ou o próximo passo já é soltar o disco completo?
Simmmm, ainda sairá mais um single antes de sair o disco completo. Não sei a data ao certo, porque ainda estamos acertando com o nosso selo Nightbird Records a data deste lançamento. Mas posso dizer que é uma música em inglês e é feat.
Qual o nome do novo disco? Terá quantas músicas?
Em primeira mão aqui, porque era segredo até então… O nome do disco é Canvas e contém 7 faixas. Tem participação de um monte de gente foda que foi essencial na construção total desse trabalho. E foi financiado pela Aldir Blanc do estado do Rio Grande do Norte.