O último barulho dos Automatics

Thee Automatics em clima de despedida na loja Música Urbana, em João Pessoa (Foto: Jesuíno André)

Por Jesuíno André

Na tarde do sábado, dia 12 de março, o pátio da Música Urbana, no Centro de João Pessoa, ficou lotado de roqueiros e apreciadores de boa música para a comemoração dos 25 anos de existência da loja e também palco da última apresentação da banda natalense Thee Automatics. Ambas sinônimos de resistência e comprometimento cultural no cenário musical independente da região.

O quarteto Thee Automatics, liderado pelo veterano cantor, guitarrista e compositor Alexandre Alves, ícone do indie rock poptiguar, tem público cativo na capital paraibana – local onde mais tocou fora de casa -, a qual foi escolhida por motivos pertinentes para encerrar suas atividades após mais de vinte anos de existência, emplacando a marca histórica de banda independente com mais discos lançados –  o primeiro vinil que lançou na Paraíba -, entre outras curiosidades.

Nos preparativos antes de embarcar rumo ao estado vizinho, o guitarrista Adriano Azambuja ouviu com certo espanto o comentário de Alexandre que antes de vir ao derradeiro show havia feito mais cinco músicas! “Como é que a pessoa tá terminando e dando tempo nas suas atividades com a banda e ainda produz cinco novas musicas?”, disse surpreso Azambuja, pela primeira vez na cidade, para a Revista O Inimigo.

Valvulosa trouxe as novidades da cena potiguar. (Foto: Ricardo Pinto)

Por volta das 15 horas tivemos o show de abertura com o quinteto punkster Valvulosa, uma das gratas surpresas do rock natalense sob o comando do casal Gabrielle (vocalista) e Rafael F (guitarrista) com o privilégio da façanha abrir para o último barulho dos conterrâneos. Uma galera que estreou em terras paraibanas destilando uma mistura energética post-punk, grrrl punk e art-punk fruto dos dois EPS e um álbum de sua recente discografia, cujo set de dez músicas teve destaque as faixas “Carnaval no Abismo”, “Distopia Petrolífera” e “Sputinik 666”; cuja apresentação agradou bastante aos presentes, entre os quais o professor Ramsés Nunes, lenda viva do rock paraibano, que confessou para a nossa reportagem: “Banda legal, bem interessante. Eu pensava que fosse um som tipo mais indie-rock, mas é punk toda. Gostei!”

Adeus, até a próxima (?)

A maioria do público nem imaginava que o Thee Automatics estaria fazendo seu último show. Essa sensação viva ficou para muitos, mesmo com os avisos do vocalista. O som começou com as características de sempre: guitarras, baixo e bateria no volume máximo, vocal sobreposto e um hit atrás do outro. No set, foram 15 músicas com direito a um repertório selecionado – “Surfsonic”, “Paralyzed Out”, “Hide”, “Everlost”, “Against” até encerrar com a clássica e emocionante “Liquid Love Letter”. Outro ponto a se considerar é que em solo paraibano sempre há novidade no “line up” da formação, que dessa vez veio com Alexandre na voz e guitarra, Christiane Pimenta no baixo, Adriano Azambuja na guitarra e Augusto César na bateria.

Mais uma apresentação fabulosa, sem firulas, que foi bem prestigiada pela comunidade rock pessoense no qual registramos a presença de bandas e artistas como Musa Junkie, Carburadores, Precog Zero, Bromance, Venuz In Fuzz, Patativa Moog, entre outros.

Em verdadeira sintonia com a galera, a banda Thee Automatics cometeu mais de um dos seus excelentes shows e após seu término, Alexandre com a voz quase rouca encerrou com a enigmática frase: “Valeu e até a próxima!”  

Pegando o gancho e dando um descanso para o rapaz respirar, fizemos uma derradeira interpelação:

“Alexandre, Thee Automatics acabou mesmo?”

“Sim, nesse momento encerro. Vou me dedicar para atividades pessoais e familiares. Quando meu filho Alex Dylan aprender a tocar bateria, aí vou pensar em tocar com a banda novamente…”

Já estamos aqui contando os dias.