Chegamos a mais um fim de ano, menos um ano em nossas vidas maravilhosas. E tal qual os anos anteriores, não foi fácil. Mas uma coisa boa na criação musical foi termos nos livrado dos temas “ex-presidente” e “pandemia”, parcialmente pelo menos. Tava insuportável o duo pandemia/fascismo. Com a melhora dos dias, e ainda precisa melhorar muito, os artistas voltaram a se preocupar com a beleza da vida. Parte dela. Como escuto basicamente música brasileira, é mais um ano que vou me ater a ela. E como muitos discos bateriam com os de Alexis Peixoto e Pedro Lucas, fechei em 20 discos (+ 1) que possivelmente gostei e não estão na listas deles. A ver. Uma lista que tem discos tributo, metal, marchinhas de carnaval, pop, eletrônico, pós-punk e rock de guitarra dos anos 90. Entre eles, feliz em colocar alguns discos potiguares na lista. Se eu fosse criar uma lista gringa seguiria a curadoria do canal de música feia No Deal.

Filipe Catto – Beleza São Coisas Acesas Por Dentro

(Spotify / YoutubeTidal)

Gal Costa deixou esse plano, mas sua obra fica. E Filipe Catto explorou diversas músicas de sucesso em releituras deixando-as mais introspectivas ou mais explosivas em assuntos que vão do amor a política, do social ao religioso. Uma obra que ajudou o artista em sua vida pessoal como contamos em matéria aqui mesmo. Um disco bonito, derivado de um show no SESC que ajudou Catto a se redefinir como ser e artista.

Jovens Ateus – Jovens Ateus

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A banda paranaense Jovens Ateus começou em 2020 e depois de alguns singles chegou ao disco de estreia, o EP homônimo. Um disco com tudo o que o post punk tem de bom. Introspecção, batidas dançantes e até uma versão em espanhol de “Igreja” dos Titãs, batizada, obviamente, como “Iglesia” que grupo na cabeça. Um baixo-astral contagiante!

Test – Disco Normal

(Bandcamp)

O duo paulista, Test, formado por Barata (bateria e tudo que se possa pagodear) e João Kombi (voz e guitarra) lançou Disco Normal que já mostra na capa, através de colagens, ao que veio: experimentação. E o disco é normal porque a dupla vem fazendo isso já em outros discos como o Espécies e O Jogo Humano. Com colaboração nas letras de gente que vai de Jair Naves a Fernando Catatau, passando por Quique Brown. E o disco virou doc com direção de João Kombi e Tomás Moreira. Pra saber mais sobre o disco, escrevemos sobre ele em setembro.

Diablo Angel – O Que Te Dá Prazer

(Spotify / YoutubeBandcamp)

Mais uma banda que passou aqui no site. Batemos um papo com a vocalista Kira Aderne onde ela esmiuçou o disco que fala sobre o prazer feminino, ainda um assunto polêmico mesmo com tanta informação e evolução social. Mas bom lembrar que passamos por um período de retrocesso recentemente. O disco trata do tema com uma pegada que vai do introspectivo ao dançante com uma cara de rock dos anos 90.

General Junkie – Homem Grotesco

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O trio Gustavo Lamartine, Paulo Souto e Marcelo Costa é uma das melhores formações do rock potiguar. Dezoito anos depois do disco homônimo, a banda soltou Homem Grotesco, de novo pelo selo DoSol, gravando músicas clássicas que não entraram no primeiro disco e a bônus “As Mina do Long” que destoa. O resultado é uma volta aos anos 90 onde a banda circulava pelos bares cantando e tocando causos das ruas por onde eles andavam. Registro importante, pelas músicas e pela partida de Paulo Souto meses depois. Batemos um papo com Gustavo e Marcelo no pod/videocast da revista.

Luiza Lian – 7 Estrelas | quem arrancou o céu?

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Um disco lento feito durante a pandemia, que reflete o estado que estávamos e estamos. Sim, as sequelas existem e devem permanecer por tempo indeterminado. Luiza explorou isso junto com Charles Tixier, parceiro há mais de 10 anos, em um disco que oscila em sua criação. Relacionamento, política, futebol, está tudo no disco. Luiza como artista visual que é, coisa vista facilmente em seus shows, desdobrou o disco em curta-metragens tendo como base nas músicas “Forca” e “Cobras”.

Polara – Partilha

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Em uma onda de volta de bandas, a da Polara foi certeira. O disco roda fácil com temas que passam pelo dia a dia, a partilha do título é isso. Músicos veteranos, Carlos Dias (voz), André Satoshi (baixo), Mario Cappi (guitarra) e Fernando Cappi (bateria) voltaram para lançar um disco de guitar band com toda a cara de anos 90 onde a banda começou. Partilha é um disco que continua Tempestade Bipolar e Inacabado. Redondo, com temas fáceis de cantar e um instrumental que se entrelaça de forma perfeita ao ponto de se conseguir visualizar um show da banda mentalmente.

Manger Cadavre? – Imperialismo

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Dos melhores discos de música feia de 2023, começando pela capa. Trilha sonora perfeita para o genocídio que Israel comete contra a Palestina, sendo transmitido em tempo real enquanto a ONU se reúne para mostrar que não serve de nada. Músicas como “Peregrinos”, “Enfermos” ou “Iconoclastas” são o roteiro da barbárie com letras que passam pelo dia a dia do capitalismo, mas que cabem para o conflito. Em passagem por Natal gravamos o podcast com Nata Nachthexen. Uma aula de independente.

George Belasco & O Cão Andaluz – O Trabalho Mortifica

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Direto de Fortaleza, um disco de post punk com pegada new wave, eletrônica e synthpunk. Mais um disco sobre os dias desgastantes que literalmente moem as pessoas. Entre ruídos de maquinário e vocal perturbado, um bom disco para botar no domingo de manhã com os pés na areia da praia, bebendo um gelada. Batemos um papo com ele que você pode ler aqui.

Lurdez da Luz – Devastada

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Um EP com quatro músicas cheio de rima e suingue. Depois do lançamento do disco Lurdez já lançou 3 singles. Em papo com ela aqui no site, ela revelou que esse EP é como um “lado A” de um disco de vinil. E as músicas que estão vindo formam o “lado B”. Um disco cheio de amor e entre as influências musicais tem até o Forró. É para ouvir no repeat.

Clara Luz – Clara Luz

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Mais uma artista que passou pelo podcast após o lançamento do EP homônimo. Clara tem uma longa carreira pela música seja solo ou em bandas. Cantora de voz potente o disco homônimo dá uma nova guinada na carreira com uma pegada eletrônico oitentista, dançante e reflexivo ao mesmo tempo. Além de ouvir o disco, veja o show.

Xande de Pilares – Xande Canta Caetano

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Xande de Pilares, conhecido por ter feito parte do Grupo Revelação de 1991 a 2014, gravou, tal qual Filipe Catto, um disco tributo com suas versões para clássicos de Caetano Veloso. Difícil achar que um disco em cima de uma obra consagrada seja possível ficar melhor, mas ficou. Xande consegue dar mais vida as canções, interpretações únicas para cada uma. Isso foi facilmente visto em um churrasco quando o disco começou a tocar. De imediato ele se tornou o centro da conversa. De música de fundo para a birita virou tema. Entre tantos destaques, fico com “Alegria, Alegria”.

Ratos de Porão – Isentön Päunokü

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Depois do álbum Necropolítica lançado em 2023 e autoexplicativo, a Ratos de Porão lançou o EP Isentön Päunokü com 10 músicas em menos de 8 minutos. A sonoridade remete ao início da carreira da banda com uma pegada punk crua. O EP é um disco de versões de músicas da banda finlandesa Terveet Kädet, já as letras em português são de João Gordo. E claro que a política e a religião estão entre os temas. “Ungido de Excremento” sintetiza bem a pegada das letras.

Sara Não Tem Nome – A Situação

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Sara Não tem Nome é mineira, artista multimídia que ataca na música, artes visuais e cinema há mais de 10 anos. Lançou em 2015 o ótimo disco Ômega III e em 2023 A Situação, seu segundo álbum. Um disco feito durante a pandemia e que pode ser ouvido como uma obra que aponta para vários caminhos, sejam eles políticos, sociais ou de relacionamentos. As vezes tudo é uma coisa só. Batemos um papo massa com ela que você pode ler aqui. E uma busca rápida vai mostrar que ela produz muito e colabora com muita gente. Destaque do disco é a marchinha “Pare”.

Ava Rocha – Nektar

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Do eletrônico ao samba, Ava Rocha fez um discaço para dar sequência ao também ótimo Trança. Com colaborações de Negro Leo, Saulo Duarte, Thiago Nassif, Jonas Sá e Iara Rennó, o disco passeia por relacionamentos e seus desdobramentos nos dias. Tornando-os solares ou não. Um disco dançante, psicodélico, romântico, ancestral. Destaque para “Seringueira da Veia” e os sambas “Longe Longe de Mim” e “Barco nos Pés”.

Antiskieumorra – Pronto Pra Desagradar

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Se passaram 10 anos desde o último disco, Mais Rápido Que Imediatamente, e 20 do começo da banda. O quarteto conhecido pelo hino “Abadá Maldito” está de volta com Pronto Pra Desagradar com a fórmula consagrada de HC, powerviolence, crossover e tudo mais que couber em termos de música feia e pauleira. Vinte anos de banda e vinte temas que passam por política e sociedade. Nessa altura da vida é uma lástima que a banda não tenha uma canção de amor. Sigo esperando.

A Espetacular Charanga do França – Baile Espetacular

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Carnaval chegando e carnaval bom é o de rua, com as famosas bandas arrastando os foliões a pé. Olinda é o exemplo e isso quase me levou a botar o Carnaval Chanson da Eddie com versões para clássicos do carnaval pernambucano. Mas lá em São Paulo o onipresente Thiago França comanda a Espetacular Charanga do França pelas ruas da cidade no carnaval. Para quem não sabe charanga é uma banda formada por instrumentos de metal, pode ter percussão também. O último disco lançado tem clássicos como “Lata D’água” e “Eva” e versões carnavalescas para músicas mais novas como a dobradinha “Meu jeito de Amar/Amor de Quê”, gravadas por Duda Beat e Pabllo Vitar, respectivamente.

Sarah Oliver – Manha

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Sarah Oliver é da nova safra de artistas potiguares, mas com uma alma passada no alho e manteiga da terra da vida. Vide a foto da capa do disco no Bar do Litrão na Ribeira. Bairro que combina totalmente com seu EP de estreia. Um disco recheado de Natal, da Redinha, da ginga com tapioca, do mar que pode ser calmo ou revolto e do brega eletrônico que emula toda uma história de cantoras e cantores brasileiros. Uma cidade para amar e odiar, mas Sarah prefere, com uma voz manhosa, amar e amar tomando uma e fumando um. Escolhas. É dar o play e sentir a vontade de dar um mergulho. Não disse onde ou em quê. Disco com participação de gente como Gustavo Lamartine, Walter Nazário, Gabriel Souto e Dante Augusto.

Satanique Samba Trio – Só Bad

(Spotify / YoutubeBandcamp)

Pela capa, percebe-se que a pomba é uma obsessão da Satanique Samba Trio, ou de Munha que é o cabeça por trás dessa lombra sonora. A pomba pode significar várias coisas, eis que sempre vai bater bem com as músicas do Satanique. Em mais 30 músicas a trupe subverte o forró e o samba. Tem até música com mais de 2min! Essa dá pra dançar, as outras só pra fazer raiva. Já que quando você começar a entrar no clima as músicas acabam. Malditos!

Banda Del Rey – O Disco

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Disco em homenagem a Jovem Guarda na pessoa de Roberto Carlos, mas com composições de gente como Tim Maia, Getúlio Cortes e Renato e Seus Blue Caps. O disco é uma consequência do que Chinaina, Chiquitito Corazon (órgão, synth, pandeirola e vocal), Felipe S. (guitarra), O Príncipe (guitarra, violão e vocal) e Vicente Machado (bateria) fazem há 19 anos com um repertório mais abrangente. Diferente de obras tributo como a em homenagem a Odair José e ao Raça Negra onde foram vários artistas dando um caráter mais diverso, o disco tem uma pegada pop dançante, com exceção de “Quase Fui Lhe Procurar”, que é roedeira pura. Serve até de parâmetro para saber como seria um possível show de RC se ele não tivesse escolhido viver o resto da vida preso ao passado. Bom para botar no domingão enquanto prepara o almoço degustando uma ampola. Destaque para a versão ska rock para “Negro Gato”.

Se você chegou até aqui, incluí um disco extra que só vim a ouvir 30 anos após o lançamento. Logo, pra mim, é novo.

Sepultura – Chaos A.D.

(Spotify / YoutubeTidal)

O Chaos A.D. do Sepultura bateu valendo. Melhor que o Roots sem sombra de dúvidas. Não sou fã de metal, fato sabido de todos, mas curto alguns discos pontualmente. Conversando com Alexis Peixoto e Pedro Lucas sobre o fim da banda, disse que só gostava do Roots por causa da pegada batuqueira. Eis que Alexis atentou que isso já tinha rolado no Chaos A.D. e lá fui eu escutar. Começa logo com “Refuse/Resist” que eu conhecia de um trecho que Chico e Nação Zumbi adicionavam a “Lixo do Mangue” ao vivo. Vício imediato devido a bateria tribal. Sensacional. Difícil explicar o que é a bateria nesse disco. Destaque para a acústica “Kaiowas”.

Uma resposta para “Melhores de 2023: Hugo Morais”.

  1. […] na redação nos últimos dois anos, deixei de fora alguns discos que estariam na minha lista, mas já apareceram na de Hugo Morais, como os do Antiskeumorra e o do General Junkie. Assim, abri espaço pras mais coisas estranhas na […]

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