Precog Zero é um projeto do paraibano Marcello Ferreira Soares Junior. Músico que colaborou com a cena da Paraíba nos anos 1990 e 2000, tocando ou produzindo. Marcello fez a produção musical do disco da Star 61, fez parte da Alba Savage e compôs músicas de câmara tocadas pela Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba. Com a pandemia Marcello criou o projeto Precog Zero e em dois anos já produziu cinco EPs com uma temática Horror Synth, inspirado por filmes de ficção e terror e suas trilhas sonoras.
Batemos um papo com o artista sobre os discos, o estilo e influências.
O Inimigo – Marcello, vi que você lançou o primeiro trabalho no bandcamp em 2021. Me fala sobre a sua carreira. Como começou, se já fez parte de alguma banda ou esse é o primeiro trabalho artístico?
Marcello Ferreira – Já toquei em bandas de garagem e outros projetos em João Pessoa, também produzi o EP Você Não Sabe o Que Perdeu, da Star 61, estudei música erudita e composição. Também integrei o projeto Hard Rock chamado Alba Savage. Em 2017 resolvi voltar a produzir meu material e criei um projeto one man chamado Ofmaers que foi um laboratório… Desse projeto lancei dois álbuns virtuais. Dizem que há males que vem para o bem… Com a pandemia senti a necessidade de colocar minhas influências de hard rock, gothic e synth pop. Aí parti para uma estética mais Synthwave. Numa demografia mais Noir Synth e Darkwave, muito incentivado por amigos como Wilame (Electro Bromance e Diskotronic) e Hansen.
Aí surgiu o Precog Zero, em 2020, que no início tinha uma vibe mais neo noir, influência do Phillip K. Dick do qual tirei o nome Precog do seu conto Minority to Report. Mas logo fui migrando em direção ao horror synth com influências de John Carpenter (de sua música e seus filmes) e trilhas sonoras (como as trilhas do Goblin para os filmes do Dario Argento) de filmes de horror e slasher dos anos 70 e 80.
Trabalho em ciclos. Os dois primeiros trabalhos (Case #1975 e Carnival, Neon and Fangs) foram um ciclo de amadurecimento. O terceiro (The Mysteries of Aislado Town) é um momento de ruptura e início do direcionamento dos dois últimos trabalhos (Tales of Scary Places e An Occult Trinity).
Então você segue explorando a sonoridade e as criações. O estilo tem ganhado muitos adeptos de uns anos pra cá. Você tem alguma explicação pra isso?
Bom, fazer laboratório e pesquisar referência é algo que está no centro de toda criação artística. Afinal, nada vem do nada. Ou melhor, quando você acredita que pensou em um conceito inédito, procure mais, pois provavelmente, alguém já pensou nele antes. (risos) Cara, o synthwave de forma geral, apesar de ser um gênero recente, tem muitos adeptos. Tenho contato com uma gurizada brasileira e latino-americana que produz coisas muito boas. Mas o synthwave tem diversas demografias: vaporwave, retrowave, outrun, darksynth, dreamwave.
E o synthwave está presente da música, nos games, HQs, filmes. É um manifestação da cultura digital. Um boa introdução é o documentário Rise of The Synths (2019). Inclusive outro dia li um TCC da UFRN sobre a estética darksynth. (risos)
Localizo o Precog Zero num segmento chamado horror synth que tenta se aproximar da música de trilhas sonoras dos filmes dos anos 80, que foi a primeira era de ouro do uso de música com sintetizadores em trilhas sonoras com uma abordagem mais próxima a música pop com cara como John Carpenter, Giorgio Moroder, Tangerine Dream, Dennis Tenney, Cláudio Simonetti, Brad Fiedel e o Goblin. Isso só os caras que fizeram trilhas para terror e thrillers nos anos 80. Atualmente, tem um cara genial como o Cliff Martinez. Por essas influências o horror synth tem um apelo muito mais imagético.
Aqui é um pequena lista de alguns artistas brasileiros de synthwave: Adam Lucker, Ankh Wave, Gabriela Marcia, Walmind, Night Ride Station, HEIRISIX, Turbo Hamster, Igor Tortellini, MonoSix, Romero Synth, Shock Neon, Retro Mah, Dhastron, Stormin87/Corporatesix, Misanthropix, KR1ZZ, Nov 88, Chypriann, ApolloDx7, Delfinex.
Não sei como é o “mercado” desse tipo de som. Aqui tem no centro da cidade um evento semanal com discotecagem que rola synthwave e adjacências. Organizam até festa. Você já chegou ou pretende (busca) mostrar seu som em palcos?
Em geral o synthwave é um lance meio que acusmático, ou seja, é um gênero basicamente instrumental que um lance de ser ouvido como um música que revele as emoções internas ou imaginário do ouvido ou de ambiente, como um viagem de carro ou uma caminhada noturna por aí. No caso de apresentações ao vivo, as vezes elas ocorrem com apoio de projeções visuais. Temos alguns artistas do gênero que fazem discotecagem (o que é mais comum no Brasil). Lá fora é mais comun alguns artistas terem sets de apresentação ao vivo, no caso de artista que gravitam num flerte com o metal como Perturbador e Midnight Danger. Performance de palco é mais comum com a galera do Synth Pop, pois o repertório é muito mais voltado a canções. No Brasil tem uma banda de BSB (que não recordo no nome) e o Night Rider Staton de Curitiba que fazem essa linha e fazem apresentações. Por Sinal o NRS acabou de lançar um álbum bem legal.
Cara, não penso muito em palco no momento até porque para reproduzir o material ao vivo de forma decente demandaria um conjunto grande de recursos e até músicos. Como sou um one man band no momento não é algo que passa por minha cabeça.
Esqueci de citar que por exemplo no eixo sul-sudeste e Buenos Aires existem algumas festas de synthwave e temáticas como a Hotline Miami, no Rio de Janeiro.
Existe algo no idéario do Synthwave bem curioso. Ele é muito pautado no universo contemporâneo do tempo sozinho e ao mesmo tempo conectado. Lembro que é um gênero que nasceu junto com a ideia de internet livre nos anos 2000. Além disso, tem o lance de fazer sua música por sua expressão algo digamos que herdado do punk, até por isso hoje há uma discussão em torno dessa “uberização” dos artistas pelas plataformas e que muita gente do Synthwave tem discutido se isso tem haver com o tonos do gênero. Eu particularmente decidi que não lançarei mais nada em plataformas como spotify ou algo do gênero. Prefiro ficar com Youtube (sem monetização) ou um BandCamp (para quem se sentir afim de apoiar).
Pelo Youtube da Precog Zero a experiência com o som fica bem melhor, já que Marcello Ferreira editou uns vídeos para dar um clima de filmes de horror. Aperte o play abaixo e viaje.