Cajón & Carrilhão estreiam com EP dançante

A dupla Cajón e Carrilhão, sorrindo e fazendo o L (Divulgação)

Pelos nomes Cajón e Carrilhão eles podem passar despercebidos, mas por Claudio N (Astronautas/Chambaril) e Chiquinho Fernandes (Dona Margarida Pereira e os Fulanos) muita gente deve conhecer, principalmente quem é de Recife e dos estados vizinhos. Em 2019, o duo de produtores resolveu mexer em músicas de gente como Lulu Santos e Duran Duran e daí em diante não pararam mais. Essas experimentações podem ser vistas no perfil deles no Instagram. Ambos atuam como DJ seletor, interessados em pesquisa musical, em colocar as músicas nas festas sem usar efeitos para mudá-las.

Em 2023, a dupla lança o EP Ijexarme, que sai pelo selo Hominis Canidaes Rec. Primeiro trabalho autoral de Cajón & Carrilhão, o disco mantém o conceito de música digital periférica com referências a Luiz Caldas e a sonoridade afro-pop brasileira dos anos 80.

Batemos um papo com o duo para entender como chegaram ao projeto atual, que conta com participação de Givly Simons (Figueroas) e Benke Ferraz (Boogarins), e música em “homenagem” ao ex-presidente da República e futuro presidiário.

Para começar quero saber a história de vocês com a música. Vi que faziam remixes de músicas e lançaram o trabalho autoral. Mas e antes disso? Qual a história de vocês?

Claudio N – Eu já toquei numa banda de Rock (Astronautas), depois criei o Chambaril, que depois se tornou banda de palco. Participei das trilhas sonoras de alguns filmes pernambucanos como O som ao redor, Viajo porque preciso, volto por que te amo e Boi Neon, por exemplo. Fiz parte do duo Nascinegro (também focado em trilhas), lancei alguns trabalhos solo e um disco repleto de convidados chamado Claudio N & A turma do deixa disso. De 2011 ao presente também atuei como dj seletor. Em 2011 criei com amigos a festa Altos Brotos. Essa festa especificamente está num hiato, mas tenho tocado sozinho em lugares e situações diferentes. Casamentos, pub underground, restaurante chic, festas particulares, bares alternativos, etc…O repertório varia com as condições do local.

Chiquinho Fernandes – Eu fiz parte da banda DMP & Os Fulanos nos anos 90 em Recife. Eu desde 2008 atuo como técnico de som (P.A. e monitor) e DJ.

O que é um DJ seletor?

Chiquinho Fernandes – No meu caso, não mixo as músicas uma nas outras, scratches, não coloco efeitos ou uso técnicas de RAP/eletrônico. Meu foco é na pesquisa de novas sonoridades e tendências ou obscuridades e lado B. Seria tecnicamente mais como um DJ de soundsystem do Reggae/Dub.

O trabalho atual começou em 2019. Foi motivado pela pandemia, como muitos outros artistas? Teve um movimento no instagram de DJs, o #30dias30beats.

Claudio N – Começou com um remix de Lulu Santos. Ideia de Chiquinho. Depois em 2022 voltamos com o Duran Duran no mesmo ritmo do anterior, arrochadeira. Eu já participei do #30dias30beats. Mas de maneira solo, em 2021. Esse disco ia ser do Claudio N & A Turma do deixa disso. Foi feito o bruto em 2021. Em 2022 depois de retomarmos o C&C com os remixes, propus a Chiquinho de ele se juntar nessas músicas também e usarmos a marca C&C e com a colaboração dele na concepção dos arranjos. Quando o bruto foi feito, eu estava perdendo a minha avó que estava distante (e eu não tinha condições de visitar) e bebia e ouvia axé para evitar a tristeza. Procurei me cercar de lembranças da infância na Bahia para me manter menos triste. Até que minha avó infelizmente faleceu e eu deixei de me sentir bem forçando uma alegria. Aí um ano depois, mais forte, chamei Chiquinho para fortalecer para finalizarmos e lançarmos esse trabalho. Mesmo nesta fase, Chiquinho já opinava e eu acatava. Mesmo não sendo oficialmente C&C.

Chiquinho Fernandes – Em 2018 por conta do trabalho como DJ, fiz pesquisas sobre o ritmo Ijexá, indo dos grupos mais tradicionais (Filhos de Gandhy, Afoxé Alafin Oyó) até os artistas como Walter de Afogados, Moraes Moreira, João Alfredo & Chico Evangelista que também tocavam o ritmo de forma moderna.

Claudio N – Além da minha pesquisa de memória afetiva da infância em Paulo Afonso, Chiquinho me apresentou muita coisa além do que eu ouvia no rádio quando menino e somou bastante no resultado. Na verdade, Chiquinho influencia meus gostos positivamente desde o fim dos anos 90 quando passamos a ser amigos. Nessa época eu também estava bitolado na ideia que Luiz Caldas é o Prince brasileiro. Daí Chiquinho veio com o nome e Ijexarme, que acho que pega a junção desse pensamento que eu tinha. Hoje em dia nem comparo mais. Acho Luiz Caldas superior.

Esses dias troquei uma ideia com Marcello Ferreira, da Precog Zero, que faz um som que batizou de horror synth. E perguntei sobre tocar os discos dele. Ela não visualiza isso. Vocês vão botar pra frente, fazer ao vivo?

Claudio N – Sim. Mas nem sempre estaremos nós 2 no palco. Por enquanto as condições financeiras e geográficas não nos favorecem. Por enquanto, Chiquinho divulga nossos trabalhos em SP em pistas de dança, enquanto eu estou cuidando de uma formação (enxuta) de palco.

Chiquinho Fernandes – Se Cláudio quiser tocar ao vivo, serei o técnico de som do show. Particularmente não me vejo como “artista” em cima de um palco. Prefiro trabalhar no estúdio compondo e arranjando com ele. Mas ele é livre pra fazer a gig sem mim.

As músicas também vão ganhar vídeos (já existe um para “O Pega Bêbo“). Já tem em mente como será o da música em homenagem ao miliciano ex-presidente?

Claudio N – O da música do presidente ja estava até pronto, mas todo dia agora tem uma notícia boa fodendo aquele imbecil, que vale esperar mais para finalizar a edição.

Chiquinho Fernandes – Antes de “O homem da boca podre” tem vídeo de “Chocante”, letra de múltiplos sentidos em parceria com Givly Simons (Figueroas). A gente até pensou em lançar o “Melô do Fujão”, mas a esquerda legalista com seus excessos de republicanismo junto ao STF tá adiando o lançamento. O clipe estava pronto, mas a cada semana a gente vem atualizando os conteúdos com os fatos que vem surgindo como o fim dos sigilos, genocídio contra o povo yanomami e a tentativa de golpe. Se demorar muito pra prendê-lo teremos que lançar a versão extended remix video pra caber todos os acontecimentos.

Como chegaram ao Givly Simons? Ele teve um hype danado anos atrás e sumiu.

Claudio N – Eu o conheci com o Figuerôas. Aí no mesmo fim de semana que saiu a música “Bicho Caloteiro”, de Claudio N & A Turma do Deixa Disso, saiu a “Caloteiro” dele. Aí isso foi um pretexto para eu entrar em contato com ele. Desde então nos falamos ocasionalmente. Ele pretende regravar uma música chamada “O Sucesso” de C.N. & A.T.D.D.D.

Ainda vai rolar vídeo, divulgação e etc. São 4 músicas e um remix de Benke Ferraz. Tem planos de expansão do EP já?

Claudio N – Sim. Em breve sai o single “Fauna Brasileira”. Inspirada na sonoridade dos discos da SOMAX e no lirismo dos “Siris jogando bola“. Chiquinho pode detalhar melhor essas referências da sonoridade.

Chiquinho Fernandes – Estúdio Somax era um estúdio do grupo CONDIL, dono da rede de lojas Aky Discos, no Recife. Nos anos 80 e 90 o SOMAX estava para o estúdio Rozenblit nos anos 70: gravava todo mundo. Detalhe que nos fim dos anos 80 tinha aquela sonoridade das baterias eletrônicas Simmons em discos gravados por lá como Walter de Afogados, Assisão, Banda Pinguim. Artistas locais que tocavam ritmos regionais com timbres futuristas modernosos.
Era o início da era digital nos estúdios. Paralelamente, essa mesma sonoridade era usada por baianos como Celso Bahia, Banda Reflexu’s e Banda Mel.

Acho que as bandas da lambada comercial também usavam.

Chiquinho Fernandes – Sim. Era comum o uso de bateria eletrônicas simmons nessa época. Inclusive as bandas de rock farofa usavam. Aqui os trios elétricos usavam. Devia ser porque como é eletrônica, não precisava microfonar as peças separadamente, facilitando assim a vida da equipe técnica, evitado também sobras de microfonia ao vivo. Já reparou na semelhança das viradas da bateria simmons com as viradas eletrônicas do Piseiro, Arrochadeira, Bregadeira e no Forró eletrônico anos 90? O baterista Riquelme é o elo. Uma banda referência para os pernambucanos é a “Banda Versão Brasileira” do cantor Marrom Brasileiro.

Ouça abaixo o EP Ijexarme, lançado pela Hominis Canidae Rec.