Respeita a União da Fé e da Força: Festival Dosol encerra sua primeira etapa de 2022

Foto: Luana Tayze

Foram algumas mudanças de datas, reorganizações de dias e line-ups e reformulações até o Festival Dosol finalmente concluir sua versão “2021” em pleno 2022 quando a pandemia arrefece mais pós-vacinação e um futuro mais promissor pra festivais independentes se desenha no horizonte. O Festival Dosol deve ter ainda em 2022 um calendário arrojado que continua trazendo nomes diversos às ruas natalenses. O festival em si deve tradicionalmente ocupar seu lugar no calendário da cidade em Novembro. Depois de shows catárticos de Marina Sena, ÀTTØØXXÁ, Academia da Berlinda e grande elenco, a fase final dessa retomada do Dosol trouxe ao palco móvel montado na Capitania das Artes Rachel Reis (BA), Gilsons (RJ) e FBC (MG) no último domingo de maio (29/05).

            As atrações couberam nessa data também por uma demanda dos diversos vaivéns advindos das ondas de COVID-19 que assolaram qualquer programação de festival independente nos últimos meses. Porquanto não conversem tanto entre si em sonoridade, pode se dizer que a ponte que ia da baianidade swingada de Rachel Reis, estendia-se por um ijexá prolongado simulando um sotaque carioca no vovô Gil dos Gilsons e terminava na cultura de baile trazida à casa pelo rapper mineiro FBC, trouxe de volta aos nossos palcos a característica principal de um festival brasileiro: a pluralidade e a possibilidade de incluir diversas sonoridades num mesmo lugar.

Rachel Reis por Luana Tayze


            Também nessa lógica, a baiana Rachel Reis demonstrou estar um tantinho verde pra estar em grandes palcos, ainda que a força de sua música autoral a faça ocupar o espaço como uma cantora de axé dos anos 90 rediviva; mas de repente ter um momento voz e violão mandando um medley de Tigresa (Caetano Veloso) e Morena Tropicana (Alceu Valença) poderia ter sido limado do setlist, principalmente quando ela arregaçou as mangas pouco antes e entregou uma original versão de Ando Meio Desligado, dos Mutantes. Expoente da nova música baiana, trazendo debaixo do braço seu hit “Maresia”, Reis acabou sendo posta à prova com tempo suficiente de palco, mas esperemos que na próxima ela venha com seu disco cheio sem precisar enxertar com covers seu repertório.

Gilsons por Luana Tayze

            Em outra categoria de vacilo, os Gilsons colaram no palco do Dosol referendados por seu DNA e por seu hit da fofura incondicional “Várias Queixas”. O show dos caras basicamente era uma reiterada confissão sobre as saudades da Bahia, ainda que lá pras tantas no fim do show um dos três Gils soltou com seu carioquíssimo sotaque que “lá do Rio de Janeiro a gente não tem dimensão do nosso público Brasil afora”. Ainda que este repórter não tenha dado muita bola pra nova geração da prole de Gilberto Gil, pincelei a versão inevitável de uma faixa do avô/pai, “Palco”, e a reação extasiada do público à execução do instagramável (não sei se tiktokeável) hit “Várias Queixas”.

            Centro de muita polêmica na pequena mas barulhenta bolha do Twitter potiguar, o rapper FBC surgiu sem o seu dileto parceiro de assinatura VHOOR, que segue em carreira solo por outras paragens, mas conseguiu trazer pras imediações da Avenida Câmara Cascudo todo seu cabedal de dialetos e linguagens que formam a cultura de baile. Tocando versões sintéticas dos hits de seu disco Baile e algumas pedradas de seu disco S.C.A, como “17 anos e um 38”, Fabrício, com sua simpatia & vocação pra mestre de cerimônias, mandou muitos Lula-Lás (assim como o Gilsons, importante salientar), lembrou que tocou “na Natal antiga”, em referência a um show que fez na antiga Disconexa, em 2019, e se despediu sem bis pouco além das 22h30 do domingo. Parte do público, claro, xingou muito no Twitter e culpou a organização do Dosol, por sorte de sabe-se lá que boato de que a produção do festival pedira pra encurtar o show. A realidade foi revelada pelo próprio organizador do baile: dos 60min de sua apresentação, 20 são de responsa do seu DJ, que tocou violenta coletânea oitentista de batidões diversos. No fim das contas, a ordem era esquecer tudo e vir pro baile, portanto, fica a mensagem do rapper mineiro pedindo respeito pra União da Fé e da Força.