Quando chega dezembro, além dos “hohoho” do Papai Noel, das propagandas otimistas na televisão e da cesta de Natal São Cristóvão por essas plagas, sabemos que é época de soltar as sumárias listas de melhores do ano. Por vezes é uma batalha contra o esquecimento: um disco lançado em janeiro costuma desaparecer da memória, um disco lançado sem muita divulgação e sem muitos plays se perde completamente na pletora de outros sons que surgem ao longo do ano, aquele disco legal que você ouviu durante três semanas em abril sequer tem o nome lembrado a essa altura do ano. Mas num geral, o listão de fim de ano tem um propósito: salvar pros próximos anos um retrato desse ano que passa, com a melhor das intenções. Dito isto, segue uma listinha breve com breve descrição, por consequência, de dez pérolas de 2025 na música nacional e internacional.

Rosalía – LUX

(Spotify / Youtube)

A catalã Rosalía ressurgiu no início de novembro, com a régua já ameaçando passar nas redações especializadas, com uma estética nova desbloqueada: sem motos e ritmos das ruas latino-americanas, a proposta em LUX é reformular uma espiritualidade feminina, a partir da recolha da história de santas e religiosas (como Hildegard von Bingen, Santa Teresa D’Ávila, Sun Buer, Santa Olga de Kiev, etc). O resultado é um disco com orquestra, sintetizadores sutis, coros emocionados e vasto repertório no Duolingo – o disco é cantado, além do espanhol e do catalão, em árabe, ucraniano, japonês, português, latim, italiano, alemão, francês, hebraico, siciliano e mandarim.

Bleeds – Wednesday

(Spotify / Youtube)

Rock guitarroso cheio de refrões bonitos da Wandinha comandada por Karly Hartzmann e MJ Lenderman, dois feras da nova música americana arquivada ali entre os catálogos de alt-country ou outra coisa que o valha. Por vezes o banjo e o slide cantam mais alto e o clima de verão olhando as luzes no alto da Carolina do Norte se faz extremo.

PinkPantheress – Fancy That

(Spotify / Youtube)

No Reino Unido, durante os atribulados anos finais do século XX naquele cerco de mundo, os porões de pubs e outros estabelecimentos se achavam apinhados de jovens construindo um tipo de som eletrônico que ficaria conhecido como UK garage. A tradição desse som mais pegajoso foi se proliferando dentro da música pop até alcançar, uns 30 anos depois, um misto do legado das ruas inglesas com uma dicção singular, afetada por outros conteúdos da música pop. Essa formação é a origem de artistas como PinkPantheress. Com Fancy That, mais uma mixtape que um disco cheio, PinkPantheress chega ao pódio da música pop trazendo consigo os embalos da tradição eletrônica inglesa, proporcionando hits do quilate de “Illegal” (sucesso no TikTok), “Girl Like Me” e “Stars”.

Oklou – Choke Enough

(Spotify / Youtube)

Meio mística e meio entrando sorrateira na festa do triphop pós-anos 2000, Oklou fez um dos discos mais melancólicos e cabeçudos de 2025. Mas essa melancolia e esses saberes musicais estão ali ocultos em camadas de texturas que lembram a música minimalista de Steve Reich, porquanto também é um embaralhamento de clichês da música pop e eletrônica. O clichê, no entanto, está só de passagem: o triunfo de Oklou é transitar entre vários lugares sem parar em nenhum deles, caminhando para um estranho e melancólico espaço único.

Pelados – Contato

(Spotify / Youtube)

A banda de SP chega ao terceiro disco como consagração do bom humor, da ironia e da eventual esquisitice nos arranjos e nas ideias. Valendo-se de um procedimento que reprocessa baterias e instrumentos orgânicos, o som do Pelados se torna mais barulhento e robótico, fruto de verdadeiros experimentos de laboratório, onde a banda tenta sair de seu natural indie rock e entrar em outra seara, fugindo dos rótulos. Por vezes soam como um LCD Soundsystem, como em “Music is supposed to be fun’” ou mais psicodélicos à la Mutantes, como em “Modric” e “Estranho efeito”.

Addison Rae – Addison

(Spotify / Youtube)

A música pop num geral viveu nos últimos anos um impasse mercadológico: ou abraçava o hyperpop e o brutalismo eletrônico (à la Charli XCX), ou a melancolia romântica (à la Lana del Rey) ou repetia os termos clássicos sem inventar muito. Addison Rae apostou em pegar isso tudo duma vez e gerar seu próprio rosário de sonzeiras, como “Diet Pepsi”, “Summer Forever’ e “High Fashion”.

Titanic – HAGEN

(Spotify / Youtube)

O projeto da dupla Mabe Fratti (prolífica e sem parar, com uma doidera nova por ano pelo menos) e I la Católica (ou Héctor Tosta) não teme misturar jazz, chamber pop e ambient music numa cerimônia de vozes órficas e arranjos cerebrais. O cello, as guitarras e as baterias atravessadas somam uma travessia por um território caudaloso, cheio de surpresas – um instrumento soando desesperado aqui, um som de violoncello soando esperançoso ali, nesse mix.

Horsegirl – Phonetics On and On

(Spotify / Youtube)

Em ano pródigo pra bandas nova-iorquinas, vide o sucesso dos jovens do Geese, as Horsegirl apresentaram um disco à la Yo La Tengo, Electrolane ou Stereolab. Belas canções com a produção da habilidosa Cate Le Bon, o disco das Horsegirl é um conjunto de refrões assobiáveis e bonitas melodias de guitarra.

Rochelle Jordan – Through the Wall

(Spotify / Youtube)

Não tenhais medo na pista de dança: embebida na house music, no R&B e no swing pras pistas, Rochelle Jordan não parou de groovar no seu Through the Wall. Em pérolas como “Get it Off”, “Sweet Sensation” e “Crave”, sua saga de desejo & curtição na noite deu nova liga ao movimento mundial da house music em retorno – esperamos o dia que ela venha aportar na Rua Chile, em Natal, em noite apoteótica no Clube Frisson.

Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – Handycam

(Spotify / Youtube)

Nomes ascendentes da nova geração da música brasileira, a dupla Sophia Chablau (conhecida por seu trabalho junto da Uma Enorme Perda de Tempo, sua banda) e Felipe Vaqueiro (do Tangolo Mangos) refizeram um roteiro clássico na música br do século XX: baianos e paulistas se juntando e formando uma terceira coisa, meio tropicalista. O disco foi gravado com as luxuosas participações de Marcelo Cabral no baixo e Gabriel Basile na bateria e traz canções intimistas, cheias de zumzum de violão, com arranjos focados na voz e na passagem da ideia em letra, da composição em fenômeno. Um disco meio lado B que pode ser uma boa curiosidade na discografia de ambos os compositores daqui uns anos.

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