João Mário vinha há anos lançando singles sob a alcunha de El Presidente sem muita pretensão além de registrar suas composições solo. Depois de alguns singles, o músico de Aracaju, que recentemente voltou a assumir o baixo do trio Renegades of Punk, foi pra guitarra, synth e voz e se juntou a Fábio Aricawa (baixo e voz), Matheus André (guitarra e voz), Gabriel de Oliveira (bateria) e, com com produção de Benke Ferraz (Boogarins), transformou o projeto de singles em banda e depois, em disco. Lançado este ano, Beleza Tem Cura é um disco para se ouvir aos poucos, percebendo as várias nuances, usando as chaves para curtir as músicas que quase acabam, desaceleram, voltam, crescem. Destaque para a faixa “Lua em Áries”.
Batemos um papo com João Mário, o cabeça por trás do projeto todo, sobre a jornada do El Presidente de projeto solo a banda, o processo de gravação do disco, mensagens secretas entre as faixas e planos futuros.
Leia ouvindo Beleza Tem Cura, via Bandcamp.
Revista O Inimigo – Cara, descobri o El Presidente e quando fui atrás de mais informações vi que você já vem lançando alguns singles faz muito tempo. Qual foi o ponto da mudança pra virar banda?
João Mário: Pois é. Comecei a fazer músicas sob essa alcunha logo que saí da Renegades, em 2015. Fiquei um tempo com a El Presidente sendo só um meio de eu gravar minhas canções da forma mais solitária o possível, ao mesmo tempo que eu tentava gravar tudo e fazer com que a coisa soasse o máximo como a banda que eu queria ouvir. Geralmente não era nada de mais, um baixo, uma guitarra, uma bateria que eu experimentava ali com uns midis mesmo. Depois foi surgindo a vontade de tocar e eu comecei a conversar com Gabriel Perninha (The Baggios) sobre fazer disso uma banda. E foi aí que ele me falou que gostava muito de Fabinho (Fabio Aricawa, da Cidade Dormitório) tocando baixo. Perninha tinha visto ele tocar baixo alguns dias antes com uma banda que nem me lembro mais no Caverna, que era literalmente uma casa no centro que recebia bandas do nosso meio. Pouco tempo depois, quando lancei “Piso de Cabeças” com a El Presidente ainda como banda solo, Fabinho compartilhou positivamente o lance. E acabou dando brecha pra que a gente se falasse. Convidei ele logo em seguida pra tocar comigo e Perninha. Daí começamos a ensaiar e fomos curtindo criar músicas juntos, nos ensaios mesmo. No processo foi se tornando naturalmente uma banda, eu trazendo uma ou outra canção, mas no grosso, a maior parte das coisas passou a vir dessa interação. Quando Fabinho passou a morar no Rio, convidamos o Gagau pra fazer sub dele no baixo, ele fez alguns shows com a gente nesse formato e a gente se deu muito bem, quando Fabinho voltou foi unânime a ideia de que Gagau permanecesse e que, como ele era guitarrista, assumisse finalmente a guitarra faltante na banda. De resto tudo continuou igual, ele foi se somando a esse processo criativo e daí seguimos o baile.
As músicas que você lançou solo já têm a gênese do que é o disco. Mas o álbum mesmo ficou bem mais viajoso. E eu lembro você exatamente no Renegades. Com aquele punk dançante. Como foi construir esse disco com os caras? Em termos de composição mesmo.
Eu tinha escrito algumas dessas músicas em outras versões, é o caso de “Beleza tem Cura” e “Perigo no Sol”. No entanto elas foram completamente mexidas, meio que foram atravessadas por todo mundo e depois voltaram desse jeito. “Korreção (com K)” nasceu na nossa pré-produção, mas eu aproveitei e colei com uma outra música que tinha feito há mais de 5 anos e que só tinha basicamente o refrão. No final, quando Benke chegou, ainda somamos mais uma outra parte que tinha escrito, que é a ponte para o final mais apoteótico da música. “Lua em Áries” é uma canção que tínhamos feito em estúdio, na mesma época de “Edf. Futuro”, mas que não demos um acabamento na época e acabamos reinterpretando ela com uma direção ativa de Benke, que foi por fim o responsável por dar uma intensidade muito maior principalmente no final dela. As outras músicas foram feitas inteiramente em jams, na pré, sendo que “Sintominhas” foi uma letra que Fabinho escreveu já nos minutos finais da gravação. Em “Baía Branca” a ideia do “sobra boçal” veio de Ricardo, técnico de gravação. Então de modo geral todo mundo que ia vendo alguma alegria em pintar algo ia fazendo e a coisa ia sendo colocada de acordo com nosso humor mesmo. Muita coisa não colava e a gente desistia, outras foram ficando mais convincentes com o tempo e a gente retomava. De modo geral foi assim!

Não sei se você conhece uma banda chamada Glote, do selo Transfusão Noise. O disco é bem variado com experimentações. E no meio de uma das músicas tem uma fala dos caras assim, “tá estranho, mas tá maneiro pra caralho”. Associei ao trecho que tem no disco de vocês falando sobre a chave. Teve algo que não entrou no disco por estar “fora do conceito”? “Estranho”, como os caras da Glote falam?
Não conhecia a Glote. Já salvei aqui pra ouvir hoje mais tarde! Eu acho que o disco nunca teve um conceito muito fechado. A produção de Benke foi muito libertadora pra gente, porque ele aproveitava os takes mais inusitados, gravava a gente quando a gente nem imaginava que já era o take que ia ficar no disco mesmo e tava focado mais em dar uma dinâmica pra gente no estúdio do que em fazer uma coisa mega polida, editada, com takes infinitos. Nesse processo de gravar muita coisa fica pelo caminho mesmo, inclusive tem duas faixas que gravamos e não lançamos nesse disco e que de repente vão iniciar um próximo. Não sei se não entraram por falta de conceito, mas lembro da gente combinar que elas não cabiam no disco. Acho que podemos dizer que estavam fora do conceito sim, mesmo que não tivesse muito claro pra gente que conceito seria esse. Até um dia desses nem sabíamos que esse seria o nome do disco mesmo. Quando chamamos Yves para gravar com a gente, pedimos para que ele escrevesse algumas coisas para nós também, não eram letras, mas frases esquisitas mesmo, do jeito dele, que por aqui já conhecemos muito bem nos discos da Cidade Dormitório. Ele inseriu algumas delas nas partes instrumentais de “Lua em Áries”. Essa história da chave surgiu de uma conversa que eu e Yves estávamos tendo na hora e Benke e Ricardo deixaram o rec ligado. Yves é ótimo em iniciar conversas esquisitas e meio que só de seguir o fluxo dele já vai acontecendo naturalmente muita coisa. Então essas conversas são meio que resultado de assuntos que estávamos conversando na hora. Antes da coisa da chave aparecer eu estava reclamando pra Yves realmente de que eu não estava achando a chave da minha casa.
Esse processo todo entre se juntarem e finalizarem o disco durou quanto tempo?
Começamos uma pré em fevereiro de 2021. A partir daí fomos compartilhando as músicas com Benke, que passou cerca de uma semana por aqui em agosto de 2021. Nessa semana gravamos tudo, esse processo foi bem rápido. Depois disso não fizemos mais nenhum take novo de nada, só adicionamos o arranjo de vocais de Tori em “Beleza tem Cura”. Tivemos uma pausa até que Benke começasse a mixar as faixas, quando ele também fez uma pós-produção — pelo que me lembro ele começou esse processo do início para o meio de 2022 — sei que ali por maio, junho de 2023 a gente já tinha o disco pronto. Nesse período estávamos focados também em outros processos. Eu e Perninha estávamos envolvidos na gravação de uma outra banda nossa, a Madame Javali, Fabinho e a Cidade Dormitório também estavam trabalhando o álbum novo deles, entre outras coisas, e fomos adiando um pouco pra finalizar o lançamento. Então o processo todo acabou durando praticamente 3 anos.
E agora como estão os planos de botar esse disco pra circular em forma de shows por aí?
Vamos fazer um lançamento no próximo dia 23 de março aqui em Aracaju e por enquanto é o que temos marcado. A gente passou os últimos dias montando um show que fosse interessante pra gente — está sendo bem massa de inventar, então queremos aproveitar esse ano pra tocar o máximo que pudermos — mas por enquanto só temos o lançamento mesmo! Será no Che, no dia 23 de março, com Cidade Dormitório e a Casulo.
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