Nem parece que já fazem quatro anos desde que Ana Frango Elétrico lançou Little Electric Chicken Heart, o disco-estouro que colocou a jovem cantora, produtora e compositora carioca no Grammy Latino, no Multishow, na premiação da APCA, no vlog do Anthony Fantano, e por aí afora. De lá até aqui, e com uma pandemia no meio, pode parecer que Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, o novo álbum que Ana lança agora pelos selos RISCO (Brasil), Mr. Bongo (Inglaterra) e Think! Records (Japão), é uma espécie de volta depois de um período de recolhimento. Mais ou menos. Na verdade, o disco é fruto de um período de bastante trabalho, experimentações e colaborações que expandiram o horizonte da artista como instrumentista, produtora, e arranjadora.
Entre o disco anterior e esse, Ana lançou dois singles – “Mama Planta Baby” e “Mulher Homem Bicho”, esse premiado no WME Awards – co-produziu trabalhos para outros artistas como Bala Desejo e Sophia Chablau E Uma Enorme Perda de Tempo, publicou um livro de poemas e ilustrações, e sobretudo, ouviu muitos discos.

Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua evidencia esse percurso no amadurecimento técnico e estético das faixas, que se alimentam de referências distintas no espaço e no tempo para criar algo como um programa de rádio pop daqueles que talvez já não existam mais, em que o suíngue cosmopolita da candidata à hit “Electric Fish” e a lírica vulnerável de “Insista em Mim” convivem sem que nada pareça fora do lugar.
Ana, que dirige, canta, toca, canta, compõe a maior parte das faixas e assina a produção musical de Me Chama de Gato… , admite que o trabalho surgiu a partir do desejo de fazer um disco que expressasse a sensibilidade de um amor não-binário, mas também da vontade de fazer “um álbum sobre produção musical”, com liberdade para experimentar timbres e referências de décadas variadas, instrumentos retrôs com processamentos modernos. Essas duas correntes aparentemente opostas tonificam o álbum que, apesar de poder ser ouvido primeiro como um disco de ideias por quem assim preferir, convida a outras audições pela forma lúdica e aberta com que aborda todo esse catálogo de referências. Mesmo quando parte de um ponto muito particular, como em “Boy Of Stranger Things”, que tira onda com sua semelhança física com o ator Finn Wolfhard da famosa série da Netflix, Ana dá um jeito de chamar o ouvinte pra rir junto, e sair dali com um pedaço da piada para si. “I’m jealous because my love show me/ sides of me I pretend I do not see”, ela canta e é difícil achar quem não se identifique em alguma medida.
De posse de um vocabulário musical amplo, Ana Frango Elétrico apresenta em seu terceiro disco uma capacidade de coesão que é rara mesmo em artistas que se utilizam das possibilidades e referências múltiplas da contemporaneidade. Costurando épocas e outras vozes como se fossem extensões ou versões da sua própria, a artista fez um disco inegavelmente seu, para todos dispostos a ouví-la. Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é mais um belo passo em uma trajetória até aqui cheia de acertos. Sorte de quem vem junto.
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