Foto: Melanie Radford/Divulgação

Lê Almeida segue imparável. Depois de percorrer mais de 10 países com a sua banda Oruã e mais alguns tantos como membro da Built to Spill, o compositor e multiinstrumentista carioca volta pra casa e lança novo disco solo, I Feel In The Sky, já disponível nas principais plataformas de streaming. Escrito e gravado na estrada, em estúdios espalhados por uma linha imaginária que conecta São Paulo a Búzios, passando por Seattle e Nova Iorque, o álbum revela um lado diferente de Lê: menos abrasivo, mais complexo e rítmico.

Capa do disco I Feel In The Sky. Arte por João Casaes, Beeau Gomez e Josimar Freire.

Os arranjos intricados dão a pista que este trabalho foi feito em outro passo, diferente do estilo mais direto e cru que marcou alguns dos registros mais emblemáticos da carreira solo de Lê, como Mantra Happening ou Paraleloplasmos. A chave é o movimento, a impermanência que virou estado permanente durante boa parte dos dois últimos anos.

“Esse disco foi feito enquanto eu viajava com o Oruã. Trabalhava nele nos tempos de folga e aproveitava pra ouvir em vários aparelhos de som diferentes pela estrada”, conta Lê, num papo rápido via whatsapp. “Aproveitava também as estadias em lugares favoráveis para criar e gravar e às vezes me enfiava em alguns retiros de gravação, gastando horas lapidando faixas”.

Esse processo de experimentação marcou muitas faixas do disco, incluindo o single “Bicho Solto”, apresentado em setembro como o cartão de visitas de I Feel In the Sky. Composto a partir de uma faixa de beat minimalista criada em um encontro do projeto Beat Brasilis, o single conta com a contribuição de diversos artistas, como  Ana Zumpano e Beeau Gomez (da banda Retrato), Alejandra Luciani e Raphael Vaz (da Carabobina e Boogarins), Danilo Sansão, Otto e Yann Dardenne (da Goldenloki).  O clima delicado e ácido lembram tanto a psicodelia sessentista da Califórnia quanto uma faixa perdida de algum trio vocal brasileiro, algo como Tincoãs encontra Arthur Lee, do Love.

E essa, que fique claro, é só uma referência possível. Pelas 11 faixas de I Feel In The Sky, ouvidos atentos poderão pescar toques de krautrock, jazz, música brasileira, afrobeat e outras linguagens que refletem o turbilhão de encontros e trocas que o artista vivenciou durante suas viagens recentes. E foram essas experiências que deram significado ao nome do trabalho, que antes só existia como uma frase anotada pra referência futura.

“Foi um nome que ficou na minha cabeça por anos”, diz Lê. “Eu me sentia perto do céu todas as vezes que eu estava na estrada tocando e viajando. Acho que é bem isso que ele reflete pra mim”.

Residência nos EUA e Oruã em pausa

Enquanto o disco ganha o mundo, Lê pega a estrada novamente. Dessa vez, o destino é Seaview, cidade na costa do estado de Washington, onde o músico fará uma residência artística de duas semanas, que deve render uma nova criação. Depois, a ideia é dar uma chegada em Portland e Seattle.

Com isso, o Oruã deve ficar em pausa pelo menos até o começo de 2024. Enquanto isso, Lê diz que os planos são aproveitar esse descanso sem shows para terminar de mixar o material do sucessor de Íngreme que, aliás, deve ganhar uma edição em vinil em breve.

Ou seja, parado Lê Almeida não vai ficar.

Ouça I Feel In The Sky a seguir no YouTube, ou no seu streaming de preferência.

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