“Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga“, cantava Marcelo D2 lá em 2000, no álbum A Invasão do Sagaz Homem Fumaça. A mistura já mostrava que a fonte era vasta. E ainda é, ainda bem. Ver a mediocridade em que muitos artistas vivem é triste. Não se pode nem dizer que D2 migrou do rock pro rap, porque a fusão sempre esteve no cerne das músicas do Planet Hemp. Mas D2 seguiu e juntou o rap ao samba, união que já vem na temática desde suas origens já que ambos os estilos falam da periferia e seus problemas como a violência e discriminação. Além de D2, artistas como Criolo, Rappin’ Hood, Lurdez da Luz, Rincon Sapiência, o falecido Sabotage, entre outros, são referência da mistura. D2 continuou seguindo em frente até chegar em Iboru, disco recém lançado e que é em essência um disco de samba no qual D2 canta “eu só morro quando meu samba morrer”.
Ao ouvir o disco, de cara me veio a imagem dos roqueiros tradicionalistas recriminando. Ou daqueles que após os posicionamentos políticos de D2 em redes sociais foram reclamar para não misturar política com música. Não sei qual Planet Hemp eles andaram ouvindo nesses últimos 30 anos, o que eu ouvi sempre foi o totalmente ligado à questões políticas e sociais. E isso me remete imediatamente ao corte da nossa entrevista com o guitarrista Breno Xavier que viralizou no Instagram, sobre “o rock perder sua relevância com a juventude”. Não é de hoje que o problema de interpretação afeta boa parte da população.
Iboru responde essa questão de uma forma clara, que é mantendo um pé no passado, um no presente e os olhos voltados para o futuro. D2 traz artistas consagrados há décadas e nomes contemporâneos que já conquistaram seu espaço, mas ainda lutam para mantê-lo. Mateus Aleluia, um monstro da música popular brasileira, está ao lado de Luiz Simas, que é um monstro da história social do Brasil, amigo de D2 de copo no Bode Cheiroso e que virou parceiro de composição. Também estão no disco Alcione e Zeca Pagodinho e os contemporâneos Metá Metá, Mumuzinho, B Negão e Xande de Pilares, além de Nega Duda, que exalta a cultura baiana.
As composições, como “Abrindo os Caminhos”, exaltam os mestres, a família (áudios da mãe de D2 estão no disco), os amigos. Misturam o Candomblé com samba e MPB. A segunda faixa, “Povo de Fé”, é um belo exemplo disso. E como o título do álbum diz em tradução livre: que sejam ouvidas nossas súplicas. Súplicas de dias mais simples, mais tranquilos, mais iguais, mais lentos. Que os dias nos deixem saboreá-los. Estamos precisando. D2 mostra, assim como tantos artistas, que precisamos olhar para trás para enxergamos o que está por vir. Precisamos viver um bundalelê de vez em quando para sentir e entender que os dias precisam ser mais leves.
Marcelo D2 segue sempre mudando, crescendo, abraçando. Iboru promete desdobramentos. Só ficar de olho. Salve o samba, o rap, o rock’n’roll, a psicodelia, o hardcore e o ragga. Viva a música e abra sua cabeça.






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