Em 1996, conheci um amigo para a vida e, junto com ele, uma banda para a vida. Renato, o amigo em questão, é primo de Lula, primeiro baterista da General Junkie, banda liderada por Gustavo Lamartine e Paulo Souto, o Txio Paulinho, que faleceu no domingo passado (11 de junho), em decorrência de um câncer.
Naquele ano, fui com Renato ver um show da banda em Pirangi do Norte, o único que vi com Lula empunhando as baquetas. O segundo show, no Bar do Buraco, com Eddie (ainda com Karina Buhr na percussão) e Jam 97 (primeira banda de Anderson Foca) já foi com Marcelo Costa na bateria. Dali em diante foram inúmeros shows pela Ribeira, marcados por hits do underground natalense que traduziam personagens e cenas típicas da cidade, como “Quem Matou Brigitte?”, “Brinquedo do Cão” e outros. Uma época boa, que remete a outras bandas que ficaram pelo caminho, assim como points de shows.
Gustavo e Paulo Souto eram os cabeças da General Junkie, guitarra, baixo, vozes e composições. Juntos, praticamente criaram um circuito pelos bares de Natal nos anos 90, tocando do jeito que dava, até encerrarem as atividades já em meados dos anos 2000. A General acabou? O fim nunca foi decretado, mas logo depois Paulo surgiu com a DuSouto e uma proposta diferente.
Do projeto anterior, permaneceu a intenção de colocar um pouco do localismo natalense, misturado com influências diversas, como dub, drum’n’ bass e samba. A DuSouto surgiu como trio com Paulo Souto, Gabriel Souto e Fidja. Pelo menos é o que minha memória diz (e se eu estiver errado, fiquem à vontade para corrigir). Vi os primeiros shows da banda, com o repertório ainda dominado por versões de artistas como Jorge Ben, na beira mar de Ponta Negra, no extinto Pé na Areia. Talvez o melhor lugar de shows que já existiu em Natal.
A DuSouto cresceu, mudou, saiu Fidja e entrou Joab Quental (Bugs) na bateria, e Gustavo Lamartine na guitarra. Paulo e Gabriel seguiram como os cabeças, com Júlio Castro projetando imagens durante as apresentações e completando o quinteto. Dessa união surgiu o álbum homônimo lançado em 2006 com música “Iê Mãe Jah”, que entrou na trilha do jogo FIFA World Cup.
O grande trunfo do álbum não é esse, mas sim as nove músicas que compõem o disco lançado pelo selo Nikita. Nove músicas boas que caíram no gosto popular e fizeram da banda onipresente na noite natalense e a levou a voos fora do RN.
Como os espíritos de Paulo e Gabriel sempre foram inquietos, no segundo álbum a banda deu outra guinada na sonoridade, indo para uma pegada caliente e assumidamente da fuleiragem que marca as boas noitadas de festa regadas a certas substâncias. “Txio Paulinho, bote logo esse fininho” virou uma marca e Paulo, a figura de proa que identificava a banda. Agora um trio com Paulo, Gabriel e Gustavo.
Com o álbum Malokero High Society, a DuSouto mais uma vez caiu no gosto popular, permitindo sempre mudanças que agradariam seu público. Obviamente como qualquer obra, não é unanimidade. Eu sou fã do primeiro disco e essa guinada não me agradou. Mas sou um entre milhares, já que as festas que a banda comandava na noite natalense seguiam à toda, lotadas com todo mundo dançando até o chão. Músicas como “Cremozyn”, “Piscininha” e “Fazendo a Cabeça” viraram hits porque são músicas que lidam com o popular, com o potiguar, aliando influências diversas dentro da música.
A facilidade de Paulo & cia em criar obras que caíam no gosto popular batizou até evento. O Arraiá do Outro Par é referência à música “Aonde está meu outro par da sandália havaiana“, um dos clássicos da DuSouto. Na festa, a banda aproveitava o clima junino e adaptava suas criações para a linguagem do forró.
Essa facilidade em agradar era uma marca de Paulo Souto, que sempre viveu em alto astral. Sempre com energia positiva e contagiando quem estava ao seu redor. A prova disso é toda a demonstração de carinho que vimos pelas redes sociais com sua partida prematura.
Em dezembro de 2022, tivemos a satisfação de ver o último show da General Junkie, na Sede Cultural DoSol. O show foi um reencontro comemorativo dos 20 anos do primeiro álbum da banda, mas também do lançamento do disco Homem Grotesco , com músicas do começo da banda que não haviam entrado no disco anterior. A gravação foi o último registro em estúdio de Paulo e o show provavelmente foi o último do trio, já que sem Paulo não existe General Junkie.
Paulo Souto, o baixista e vocalista da General Junkie, banda que uniu o rock ao repente, e o Txio Paulinho da DuSouto eram a mesma pessoa. Um artista que deixa uma obra vasta e de importância sem tamanho para a cultura potiguar. Além do DuSouto e da General, fez parte também da Orquestra Greiosa e lançou um disco solo, em comemoração aos seu aniversário de 50 anos. Em todos esses trabalhos, deixou uma marca e um sotaque inconfundíveis. Um dos principais criadores do que hoje a gente pode chamar sem medo de Música Potiguar Brasileira.
Vá em paz, Paulo. Aqui ficam os amigos, familiares e fãs com saudade. E sua obra que é eterna tal qual seu carisma e criatividade.






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