Gabriel Thomaz é compositor, guitarrista, vocalista, idealizador do Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira, manager do @maxilarmusic, escritor do livro Magnéticos 90. Criador e único integrante original da Autoramas, banda na ativa há 25 anos. Também fez parte da Little Quail And The Mad Birds e recentemente se lançou em carreira solo com o disco Multi-Homem. Um disco de músicas inéditas com influências da guitarrada paraense, música baiana, jovem guarda e regravações de músicas da Autoramas em outras versões.
Batemos um papo com ele sobre os 25 anos de carreira do Autoramas e o disco novo, que você ouve no fim do papo.
Revista O Inimigo – Esses dias vi você falando sobre os 25 anos da Autoramas e me lembrei do primeiro show que vi de vocês aqui em Natal. Na Ribeira que voltou a ficar abandonada. Na época fui ao show (2 dias após minha filha nascer) achando que não veria vocês de novo (Internet e circuito de festivais engatando). Vi vocês várias vezes. Olhando de lá pra cá. Como você analisa esses 25 anos?
Gabriel Thomaz – Aquela vez que a gente tocou em Natal, acho que estávamos lançando já o terceiro disco. O Nada Pode Parar os Autoramas, se não me engano. Ali já foi um momento de mudança na banda, foi quando a banda se tornou profissional. Ganhamos os prêmios na MTV, e nesses 25 anos sempre mantivemos o nosso estilo musical: baixo com distorção, efeitos na guitarra, as batidas dançantes. A gente nunca abandonou, apenas aperfeiçoou. Era difícil de gravar, não era um padrão, por isso não são todas as gravações do Autoramas que eu curto. Mas a gente sempre foi na força de botar o carro para andar. O “Go For It“, que o Devo fala. E esse espírito a gente também teve de desbravar o mercado independente. Se falava em mercado independente, mas ele não existia. Nossa geração que fez o mercado independente rolar e o Autoramas talvez seja o principal expoente dessa atitude, dessa realização. Difícil falar da própria banda, mas a gente sempre abraçou as outras bandas. Tentamos fazer parcerias com bandas, artistas, é isso.
O lance que você falou do mercado independente é interessante porque, passados esses 25 anos, ainda tem gente hoje que acha que os outros é que têm que dar espaço para as bandas. Como se existissem mecenas. E vocês sempre fizeram o corre da banda.
Quando falei de mercado independente me referi às bandas se colocarem no mercado. Das bandas independentes terem o seu espaço. Claro que ninguém tem obrigação de dar espaço. Depois de fazer muitas turnês pelo mundo, fizemos 47 onde 16 foram na Europa, e vimos artistas de vários segmentos artístico sendo apoiados. Seja por selos, pelos seus países, por empresários. No Brasil o apoio é infinitamente menor e por isso as bandas independentes demoraram tanto tempo para conseguir seu espaço. Outra coisa doida é que os festivais e as bandas se ajudaram muito, teve até gente de banda que foi fazer festival independente. Os festivais começaram como festivais de rock e hoje quase não tem rock. Cada um foi conquistar seu espaço do jeito que achou que fosse melhor. É doido olhar pros anos atrás e ver hoje perfis tão diferentes. Os artistas têm que manter uma coerência em sua carreira, se é que você em entende. (risos).
Ir atrás de fazer show, procurar casas e etc. E não esperar alguém produzir pelas bandas.
A galera da nossa geração fazia a parada. O que eu chamo de mercado já não é criar espaço, é conquistar o Brasil e outros países. Conseguir viver da música. Tem isso de procurar produzir, é uma fase, mas eu estava falando de produzir com destaque no cenário. Fazer tour pelo país inteiro. Tocar em festival numa posição boa. E se auto bancar com produção boa artística e tecnicamente.
Exato. Inclusive seu disco solo lançado em janeiro acho que segue a questão de manter a coerência que você falou antes, certo? A pegada das músicas, temáticas… gostei. Elas não cabiam como Autoramas? Por que solo?
Eu sempre compus pra muitos artistas, coisas que não eram pra minhas bandas. Sempre teve uma consciência estética de que o que não entrasse no estilo usaria de outra maneira. Sempre tentei emplacar músicas com outros artistas e consegui. Muitas dessas músicas que não cabiam no Autoramas eu botei no meu disco solo, porque elas têm outras influências. “Peru Pará”, influenciada pela guitarrada da Pará. Aliás, no Autoramas eu tentei, gravamos duas guitarradas e tentei aproximar pro estilo da banda. Mas “Peru Pará” é muito influenciada pela guitarrada e brega paraense e pela chicha e cumbia psicodélica peruana. Sons, timbres e ritmos percussivos. “Carambola” é um axé, até rotulei de garagem axé, com Márcia Castro que cantou comigo. Tem a “Que delícia, que loucura”, que é um tecnobrega. É uma mistura, mas tudo tem o meu sangue musical. Meu jeitinho de vomitar a música. Tem versões, eu gosto muito de fazer versões. Tem versões de músicas do Autoramas que a gente não tocava. Então são várias coisas que eu queria fazer baseado em vontades artísticas. Quando falei em coerência é em se manter fiel a si próprio.
A mistura ficou muito boa. Como estão sendo os shows? Galera tá curtindo?
Nos shows eu toco uma do Erasmo Carlos, uma do Júpiter Maçã que é bem jovem guarda. No disco gravei uma do Leno, “Eu tenho febre”. Erasmo e Júpiter já foram embora aqui desse problema e a de Leno eu gravei quando ele ainda estava vivo. Leno que é de Natal, inclusive. Ele faleceu uma semana depois que lancei o single. Nos shows a música dele é um dos destaques. Estou fazendo muitos shows solo e em 2022 fiz 29 shows. Não é uma quantidade grande, mas mostra uma regularidade. Em 2023, em três meses já fiz a mesma quantidade. E é uma época ruim, começo de ano, carnaval. Fazia anos que não fazia uma turnê de carnaval. Esse ano fiz. Está sendo muito legal.
Vi uns videos do formato duo. Você e o batera. O disco foi gravado por você sozinho ou nesse formato também? E show sempre será assim nesse formato?
No instagram tem uns vídeos mais novos, no youtube são vídeos do primeiro show. Tudo sendo testado. A guitarra que usei nesse show nem uso mais, mas é basicamente a mesma coisa.
Tem articulação pra subir pra cá? Faz tempo que não vem.
Faz tempo que não vou, mas está muito complicado. Vivemos uma época que as empresas low cost facilitaram tudo isso. BRA, WEBJET, a própria Gol, Azul, Avianca, a gente aproveitou. Hoje as passagens estão muito caras. Isso faz parte da história do Brasil, tinha gente que tinha raiva de ver a gente no aeroporto, e de outras profissões (risos) e aconteceu o que aconteceu. Espero que a gente volte aos trilhos. Eu adoraria ir, não sei se há interesse da galera que levava a gente. Dez anos que a gente não vai, fomos num DoSol. O show foi muito animal e fomos direto pro aeroporto que a gente ia para outro lugar. Fomos umas 4 ou 5 vezes num curto espaço de tempo que sempre foi muito bom. E isso aconteceu com muita gente.