Anos atrás, talvez mais do que eu queira admitir, vi o Zumbi do Mato num desses programas que João Gordo apresentava nas tardes da MTV (calculem por aí a época). Não lembro se gostei do som, mas achei os caras bem presepeiros, engraçados demais. Tanto que resolvi escrever pro email de contato que eles divulgaram no programa só pra puxar papo e perguntar por que a banda se chamava Zumbi do Mato.
Pra minha surpresa, o vocalista Löis Lancaster respondeu e ficou bem feliz em saber que eu era de Natal porque, ele contava no e-mail, havia tido um professor muito querido que era de Caicó. E casualmente contou que o nome Zumbi do Mato veio de um filme trash, criado pelo grupo de amigos que começou a banda.

Lembrei dessa história pela primeira vez em muito tempo assim que dei o play no documentário Quem é Mais Idiota Do Que Eu? (2013), que narra a trajetória da banda e abre justo com a história por trás do nome. E o que é o Zumbi do Mato? Essa é talvez a pergunta mais recorrente ao longo do filme, ainda que destinada a ficar sem resposta.
Falar em “rock regressivo”, como quer o subtítulo do filme, nem arranha a superfície da proposta musical do Zumbi, um dos principais nomes surgidos na cena underground do Rio de Janeiro nos anos 90. Dadaísmo com samba, punk rock com free jazz, metal com tropicália sem guitarra – são muitas tentativas de classificação, nenhuma suficiente. Mas o mais divertido não é chegar numa resposta, mas conhecer as possibilidades.
Ao longo do filme, que conta com depoimentos de integrantes de quase todas das muitas formações da banda e de amigos, jornalistas e fãs que gravitam ao redor, cada um dá sua contribuição. Das muitas, chama atenção a do tecladista Marlos Salustiano, para quem o Zumbi não fazia “pós-música”, mas sim “para-música”, ou seja, uma música que era tão consciente do próprio discurso que tinha liberdade e capacidade total para criticar e parodiar esse mesmo discurso.
Mas que isso não crie a impressão de que o Zumbi do Mato era uma banda intelectualóide, com mais conceito do que som. A liga que unia e fazia todas essas influências doidas funcionarem era aquela mesmo: a boa e velha fuleiragem. É só passar rapidamente por algumas músicas da banda, tipo “Potinho de Anhanha” (versão musicada de uma piada de fanho), “Massagistas de Massachussets”, “Ah! Bem Suado Guitarrista” (do clássico verso “Segura na mão do Steve e vai”), entre outras pérolas.
Faz sentido? Se não, melhor ainda. Ouça clássicos como Macacomóvel, Menorme ou Adorei a Mesinha e tente entender por conta própria. E, claro, dê o play no documentário, disponível completo no YouTube.