Disco novo do Planet Hemp não deu lombra

A formação do Planet Hemp em 2022 (Foto: Fernando Schlaepfer / Divulgação)

No longínquo ano de 1995, descemos pra Ribeira, pro Casarão, pra ver o primeiro show do Planet Hemp em Natal. A molecada no entorno dos seus 18 anos vinha recebendo muito bem as músicas da banda, cheias de incentivos ao consumo de maconha e que vociferavam contra a polícia e políticos. O sucesso foi tanto que a banda subiu pro Nordeste sem disco, que viria a ser lançado meses depois pelo selo Super Demo. O Casarão estava longe de ser uma casa de shows, caindo aos pedaços. A banda fez sua apresentação em cima de um palco improvisado de uns 50cm de altura. Banda e público se misturavam e dividiram a fumaça. Foi uma catarse.

Corta para 2016 no MADA. Um show de “volta”. Longe do palco, na tenda de lançamento do livro 100 discos do rock potiguar (Para escutar sem precisar morrer), eu observava a juventude se deliciando com as músicas e o sentimento não era o mesmo. Óbvio. O show e o discurso continuavam afiados, o Brasil estava cada dia pior e ninguém imaginava o que estava por vir, mas o peso não era o mesmo.

Capa de Jardineiros, primeiro disco de inéditas do Planet Hemp em 22 anos.

Eis que 22 anos após o último disco, o ótimo A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, o Planet Hemp voltou com Jardineiros. O disco abre com uma fala de Marcelo Yuka (“Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável”) e leva a músicas com sonoridades que seguem passeando por diversos estilos entre rock, rap, funk e reggae. Toca fácil, mas sem a força de antes. As letras não causam mais o furor de décadas atrás quando eles chegaram a ser presos. Por onde eles passavam naquela época criavam um clima tenso, de levar a juventude pro mal caminho. Lembro como se fosse hoje das palavras de Frango, vocal da Galinha Preta, num Festival DoSol: “as drogas me tiraram da igreja”. A frase é mais forte que o disco inteiro do Planet. A igreja que ele se refere, cada dia mais se excita com quem anda contra a lei, se excita com armas e dinheiro.

De 2000 pra cá, D2 gravou vários discos solo aclamados, B Negão também com Os Seletores de Frequência e quem atende por letras e sonoridades inventivas é o rap. E faz tempo. Um dos estilos que marcam a história da banda. Chamada até de rap rock. Uma mistura que botava Bezerra da Silva pra dançar um hardcore. O tempo passou e o melhor a se fazer é ouvir as obras solos dos integrantes ou os três discos anteriores do Planet Hemp. O que o passeio pela obra do Planet Hemp que Jardineiros traz é a nostalgia, a vontade de ouvir os discos anteriores e até voltar aos tempos de shows na Ribeira.

O disco se perdeu no absurdo dos dias atuais, o discurso combativo se perdeu no meio das fake news e da religião usada como argumento para matar o próximo.

Fico com a frase de Yuka e a do Frango.

Ouça Jardineiros, do Planet Hemp, no YouTube: