Vale Tudo Com Tim Maia – ou quase

Tim Maia diante do microfone: novo documentário traz boas histórias, mas poucas informações novas

Estreou no fim de setembro a série documental “Vale Tudo Com Tim Maia” no canal Globoplay. A produção do canal tem a mão de Pedro Bial e direção de Nelson Motta, autor da biografia “Vale Tudo: O Som e A Fúria de Tim Maia”. Com apoio na produção de nomes do quilate de Charles Gavin e André Barcinski, grandes pesquisadores da música brasileira e produtores de conteúdo em livros e áudio visual.

Pôster da série Vale Tudo com Tim Maia, disponível no Globoplay.

Indo direto ao ponto: a obra documental, narrada pelo próprio Tim Maia e dividida em 3 capítulos, não acrescenta em nada quem conhece a vida de Tim. A vida do artista foi contada pelos próprios veículos de imprensa que sempre deram voz a ele, que gostava muito de abrir sua vida pra gente como Bruna Lombardi, Jô Soares e Otávio Mesquita. Então, as passagens polêmicas como a prisão e deportação dos EUA com Tim ainda jovem, a briga com Roberto Carlos, o uso de drogas abertamente e o envolvimento com a Universo em Desencanto são tratados quase como folclore. Isso muito porque o próprio Tim travava tudo na base da piada, como se fossem passagens corriqueiras de sua vida. Fato é que esses poucos fatos citados influenciam diretamente na carreira dele.

Pontos pouquíssimos explorados são o começo da carreira junto a Roberto Carlos, Erasmo Carlos (que ensinou a ele o básico do violão) e Jorge Ben. A ida aos EUA e contato com o soul americano através das igrejas, a infância e adolescência de Tim onde ele sofria bullying e uma das melhores características da obra de Tim: o passeio por diversas influências como a mistura do soul com forró e outras influências ao longo da carreira. Sem falar na sua defesa extrema dos negros e o fato de que ele era dono de sua obra na íntegra, afinal compunha, registrava, gravava e lançava. Era o independente real.

Quem viu a cinebiografia lançada em 2014 e não tem interesse em saber mais a fundo sobre a obra de Tim, pode ficar nela. Incrivelmente o documentário tem várias passagens de entrevistas com o jornalista Paulo César de Araújo, que dão a entender que mais material interessante foi deixado de fora. Paulo César é profundo conhecedor da música popular brasileira, escreveu a biografia “Roberto Carlos Em Detalhes” e foi processado pelo próprio (ex)Rei. Biografia excelente inclusive, muito acima da escrita por Nelson Motta que trata o gênio Tim Maia quase como uma criança inconsequente.

Mas nem tudo é em vão. Muitas imagens inéditas foram cedidas por Carmelo Maia e mostram um Tim generoso (também nenhuma novidade), cenas de shows em palcos menores abarrotados de pessoas em cima (além da Banda Vitória Régia) e com públicos na beira do palco curtindo cada momento dos shows com a simpatia contagiante de Tim como chama de ignição. A reclamação de Tim décadas atrás sobre a má qualidade dos equipamentos de som dos contratantes e que o irritava profundamente, ao ponto do famoso “mais grave, mais agudo, mais retorno” virar uma marca em seus shows.

Se você já conhece a obra de Tim Maia, não vá pensando que vai ver algo extraordinário. Verá muitas imagens inéditas interessantes, entrevistas hilárias e um Tim com um coração enorme. Agora se você não conhece a obra deste gênio da música brasileira, vale cada minuto.