De Partida, de Rio Viana, é um disco carregado de lembranças

Rio Viana é um jovem artista potiguar com um EP lançado (Exquadros) e que no momento se encontra fazendo o mestrado na Europa. Vem de uma família humilde da Grande Natal e desde cedo viu que a música fazia parte da sua vida. Em 3 de setembro, ele lançou o álbum visual De Partida na Cervejaria Resistência, com presença do diretor Tales Santana. Batemos um papo com Rio para saber mais sobre a obra e sua vida.

As gravações do projeto aconteceram no fim do ano passado: a parte musical foi realizada no Rêverie Estúdio e H Studio; já a parte visual foi executada pela Produtora NAV.

O Inimigo – Rio, fala um pouco sobre sua história, sobre a musical principalmente.

Rio Viana – Meu nome é Ricardo Mesquita Viana, nome artístico Rio Viana, tenho 28 anos, sou turismólogo e nasci em Natal, mas morei quase toda vida em Parnamirim. A música sempre fez parte de mim, e muito por intuição. Não vim de uma família de músicos, nem nada parecido e isso fala muito da minha trajetória na música. Porque sendo filho único, pobre de uma periferia, e adotado, sempre tive um sentimento de responsabilidade pelo futuro que me fez desviar um pouco da música na época da escolha da faculdade, porque no meio onde fui criado, música nunca poderia ser a minha profissão principal, sempre apoiaram a música, mas no lugar de hobby. Então na faculdade de turismo eu fui me afastando aos poucos e só retomei a música em 2018, quando já tinha 25. Desde criança eu tinha muito claro que cantar e performar era o que me fazia feliz. Cresci com múltiplas referências, ouvi muita coisa desde Gil, passando por Ella Fitzgerald a Mariah, sempre fui fã de vozes que tinham o poder de emocionar mesmo quando não sabiam que palavras eram aquelas. Enfim, tentei seguir o meu rumo com a música paralelo ao trabalho de turismólogo e aí veio a pandemia e tudo mudou.

A música passou a ser minha principal profissão e eu comecei a compor e contar as minhas histórias através das minhas canções. Fiz muitos projetos nesses últimos dois anos, fui solista da Parnamirim Jazz Sinfônica, fiz um projeto de homenagem à mulher negra na música com a participação de Khrystal, lancei um EP em parceria com artistas visuais do estado e lancei meu primeiro álbum visual que é o meu maior e mais audacioso projeto até hoje, algo que eu não imaginaria ser possível até dois anos atrás e se concretizou de forma muito bonita.

O disco parece ser uma biografia sua. Passeia por várias épocas, influências e vivências. É isso mesmo?

Sim, e eu acho super engraçado porque foi muito não intencional, algumas músicas como “Rio” e “A Noite e Noiva”, surgiram muito antes do projeto e do conceito dele. Mas eu acho que (e esse foi um papo que tive com a Khrystal até, que é uma grande inspiração como compositora para mim) eu componho sempre sobre a minha vida ou minha visão das coisas e acabo sempre deixando ou tentando deixar as canções de uma maneira universal. De modo que todo mundo possa entender o geral, mesmo que se perca em alguma das referências e quando eu precisei pensar no conceito desse projeto para poder escrever eu percebi que já tinha escrito músicas que cabiam nele. Então só complementei com algumas lacunas e claro a produção dos músicos maravilhosos que me acompanharam nessa jornada.

Conta como foi fazer esse projeto. O disco mais a parte visual. Tales Santana disse que tinham muito pouco tempo pra produzir. O disco já estava pronto e vocês fizeram a parte visual depois ou fizeram tudo junto?

Foi tudo junto e em tempo recorde, o projeto surgiu de uma necessidade, eu precisava fazer esse projeto antes de começar meu mestrado aqui na Europa. Então batalhei muito para ser aprovado na lei e conseguir o patrocinador. Quando consegui vencer essa burocracia de meses, me restava menos de dois meses para terminar de compor, gravar as músicas e os vídeos, então foi uma loucura real e o Tales Santana – que é meu amigo de longa data – me aceitou prontamente e em questão de dias já tínhamos o roteiro e conseguimos filmar tudo, grande parte usando apenas faixas guias, visto que não daria tempo esperar finalizar as músicas com todos os instrumentos e edições, antes de rodar os vídeos. E no final com um trabalho gigante de pós-produção acabou dando certo.

Rio”, “A Noite e Noiva” vieram antes e se encaixaram. As demais foram durante o processo. O título é referência a sua ida pro mestrado? Acho até que combina com um pouco das lembranças que permeiam as letras e tem um pouco de melancolia também nas músicas, como uma despedida.

É sim, e eu acho um máximo que você tenha percebido isso. Porque De Partida tem um sentido muito dual para mim, ao mesmo tempo que tem a alegria do novo, da descoberta e do crescimento, deixar o meu lugar traz uma sensação agridoce. Então a melancolia e nostalgia estão presentes sim em várias faixas, e não só pela despedida do lugar, mas também do tempo, da infância, da juventude e por aí vai.

E quais são os próximos passos além do mestrado? Vai tentar mostrar esse trabalho por aí ou só quando voltar ao Brasil?

Sendo bem sincero, o mestrado além de ser uma segurança, claro, foi um meio que eu escolhi para poder vir para cá e tentar, claro, mostrar minha arte por aqui. Eu já cantei em alguns bares de Bordeaux, passei o verão cantando nas ruas e cafés franceses, fazendo um extra e também praticando e divulgando a música brasileira e a minha. Agora estou produzindo um single com um DJ turco que devo lançar para o segundo semestre.

Ouça e assista De Partida, de Rio Viana.