Atemporal, João Donato lança mais um belo disco

Foto: Ekaterina Bashkirova

Ouvir Serotonina, de João Donato, é lembrar que dia desses e ele e Jards Macalé lançaram um disco juntos. Síntese do Lance saiu em 2021 cheio de significados, partindo da capa como os dois vieram ao mundo. Exceto o bonezinho inseparável de Donato e o óculos de Macalé.

Também impossível não lembrar de Donato na série sobre Nara Leão. Ele estava lá na criação da Bossa Nova, já de boné – parece até que ele já nasceu esse tio/avô bonachão – criando um jeito único de tocar que se perpetuou e aparece em Serotonina.

Da abertura com “Simbora”, um forrozinho bossa nova pra dançar miudinho, passando por “Estrela do Mar”, que se espalha suave como espumas de ondas na maré seca, o disco traz um clima de calmaria embalada pela voz de Donato.

O recém lançado disco é um convite a dias melhores, dias românticos, dias onde o sim impera sobre o não. Composições que parecem sofisticadas, mas são de uma simplicidade ímpar. A bateria é um esmero em dizer quase nada. E nessas sutilezas é que o disco mostra que menos é mais. O encaixe simples entre os acordes de instrumentos variados (Allan Abbadia no trombone, Bruno Buarque na bateria e percussão, Fábio Buarque no contrabaixo acústico e Will Bone na flauta e trompete) é o que faz do disco uma bela obra. Mais uma.

Tal qual Elza Soares, que nos deixou há pouco, João se juntou com gente “nova” como Céu e Rodrigo Amarante ou com o veterano Maurício Pereira para criar seu primeiro álbum solo com letras em 20 anos. As parcerias renderam demais, formando uma aliança doce vocal. Entre passagens ensolaradas, dançantes, ou mais contemplativas, o disco com pegada jazzy latina se propõe ao que veio: traz felicidade.