Tatá Aeroplano é um artista inquieto. Imparável. Entre discos com a Jumbo Elektro, a Cérebro Eletrônico, em parceria com Bárbara Eugênia e os solos, já são 16 álbuns. O novo Não Dá Pra Agarrar passa por momentos de euforia e vai até a melancolia. Todo composto durante a pandemia, falando da vivência solitária ou coletiva, o disco é cheio de lirismo olhando para os pormenores do dia a dia.
Ir da euforia a melancolia foi e é uma coisa recorrente a muita gente nesse período que vivemos. Um sopro de esperança e alegria sempre é interrompido por mais uma notícia ruim. Afinal, não temos apenas a pandemia para nos tirar a paz, é toda uma problemática diária de “ser brasileiro”. O trabalho de Tatá quando aponta para uma pegada mais dançante abraça algo como uma psicodelia tropical. Aquele som viajante, dançante, pra curtir numa praia com os amigos. Mas também passa por momentos introspectivos para se curtir a sós olhando para dentro.
Batemos um papo rápido com Tatá sobre o disco, influências e parcerias. Confere a seguir:
Revista O Inimigo: O disco aponta para vários caminhos, até para excessos. Para uma vida sem freio, como muitas canções suas. Até que ponto essa urgência é algo bom nos dias atuais?
Tatá Aeroplano: Eu sigo muito o fluxo do inconsciente. Isso vem desde pequeno. Eu vivo vários momentos tomado por uma intensidade existencial e componho muito a partir dessas vivências.
A pergunta me levou a uma série de reflexões e estou até agora pensando sobre os excessos e essa urgência.
Desde 2012 eu comecei a criar discos emendados nos outros. Logo depois que gravei o primeiro álbum com Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque em 2011 tive um aprendizado tremendo dentro do estúdio. Esse é o nosso sétimo álbum juntos, o mais coletivo de todos. A gente tem uma afinidade muito legal em estúdio e nos palcos. Foi isso que nos levou a fazer um disco novo no primeiro momento que pudemos nos encontrar no fim de 2021.
Você procura lirismo nas pequenas coisas para criar as letras e músicas, já que vivemos períodos tão difíceis?
Eu passo o tempo inteiro pensando e observando tudo, lendo, escutando canções, vendo filmes, conversando, andando pelas ruas, caminhando por muito tempo, trocando muitas ideias. Eu comecei a observar muito mais a natureza a partir de um sonho que eu tive em 2010. Esse sonho que me fez conectar com os pássaros de uma maneira muito intensa. Pra onde eu viajo eu observo os pássaros. Fico conectado com eles. Antes desse sonho eu vivia muito dentro dos meus próprios pensamentos, não compreendia muito o lirismo nas pequenas coisas que agora me inspiram a fazer canções e a passar por esse período tão difícil que estamos vivendo.
O disco também é permeado por sentimentos confusos e antagônicos que marcaram – e marcam – a pandemia. Muita gente ainda não se recuperou. Como foi criar esse disco nesse período?
O disco foi todo escrito durante a pandemia. Exceto a canção “Grilos na Festa”, composta há alguns anos atrás. A primeira canção que surgiu logo no início da pandemia foi “Na Beleza da Vida” a partir de uma letra que eu recebi do Yrahn Barreto, logo na sequência escrevi “Sinfonia da Manhã” durante um período em que passei na casa da minha mãe no interior. A canção “Discrepância” fui escrevendo aos poucos e convidei o amigo Peri Pane para terminar ela comigo. As músicas são bem diferentes entre si, por isso o título do álbum Não Dá Pra Agarrar, é o reflexo dessa mistura de sentimentos confusos e antagônicos, a gente vai se recuperando aos poucos.
Yhran Barreto é potiguar – como nós – e no disco, você musicou uma letra dele. Esse encontro no tributo virtual a Sérgio Sampaio foi amor à primeira vista?
Foi um grande presente conhecer o Yrahn Barreto durante o tributo virtual ao Sérgio Sampaio, eu chapei demais nos discos dele. Lembro que o primeiro álbum que eu escutei de sua discografia foi Ao Gosto dos Anjos e fiquei curtindo toda a discografia. A gente ficou trocando ideia pelo Zap e num dia ele me enviou a letra “Na Beleza da Vida”.
Eu comecei a ler a poesia e imediatamente coloquei melodia e tirei os acordes. Eu gravei e ficava de madrugada escutando a canção nos fones de ouvido, vivendo várias imagens e situações. Foi a primeira música que registramos em estúdio durante a gravação do disco e foi o primeiro single também. Essa semana a música ficou em primeiro lugar no TOP 50 na Cena no Popload e é uma das músicas mais escutadas nas plataformas. Não vejo a hora de conhecer o mestre Yrahn pessoalmente!
O disco é produzido com Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque, trio experiente e entrosado por tocar com muitos bons nomes da música brasileira. Como foi esse trabalho conjunto, em quê eles atuaram de forma determinante na construção das músicas?
Esse foi nosso disco mais coletivo. Estamos gravando e produzindo juntos desde o primeiro álbum lançado em 2012. São sete álbuns juntos e muitas e muitas histórias. Somos uma banda e nesse disco durante a pré-produção, num dos encontros que eu tive com o Dustan ele sugeriu da gente pegar uma tarde ou duas no estúdio para criamos coletivamente em vez de eu chegar com as todas canções prontas, com letra, melodia e harmonia.
A gente pegou um pouquinho da segunda e a terça-feira inteira para criar a partir dessa ideia do Dustan. Três músicas entraram pro disco. A música “Chá Delícia” foi criada a partir de uma base e harmonia feitas pelo Dustan que também apresentou pra gente uma belíssima canção que ele tinha composto em 2009 e que coloquei letra e melodia. Fizemos coletivamente a canção “Solta o Desejo”, primeiro a base com bateria, baixo e guitarra e depois a letra e melodia com a ajuda do Dustan que lançou pra mim a a frase que dá título a canção. Nosso próximo trabalho vai ser todo criado dessa maneira. Coletivamente no estúdio.
*Ouça o álbum Não Dá Pra Agarrar no YouTube ou na sua plataforma de escolha.