Pra uma banda que não existe de corpo presente há dez anos, o Sonic Youh segue na ativa. Nada surpreendente para quem sempre se pautou pela necessidade de movimento, pelo compromisso de nunca ficar parado na mesma posição por muito tempo. Essa existência além-túmulo então, que compreende o recém-lançado In/Out/In e a impressionante desova de bootlegs e raridades do projeto Sonic Youth Archive, pode ser entendida como um último ato de teimosia contra a inércia, um espasmo final. Mesmo sem cabeça, o corpo ainda se move porque não sabe ser de outra forma.

In/Out/In, o tal “disco novo” em questão, reúne cinco improvisos inéditos registrados em estúdio entre 2002 e 2010. Ou seja, estão aí incluídos fonogramas da “fase Jim O’Rourke” e do breve retorno à formação em quarteto, já mais pro fim daquela década. Como os fãs mais aguerridos do SY sabem, o recorte temporal importa muito. Cada década da banda é uma forma diferente de ataque. Depois da fase no wave da primeira década, e do status de deidade alternativa conquistado nos anos 90, os últimos dez anos da banda foram marcados em igual medida pela experimentação, pela reestruturação, e pela retomada do equilíbrio. A criação da quinta vaga – ocupada pelo já citado O’Rourke e depois por Mark Ibold, também baixista do Pavement – , a mudança interna na formação com Kim Gordon assumindo a terceira guitarra, e o arco discográfico do difícil NYC Ghost and Flowers (2000) ao rockão direto de The Eternal (2009) são exemplos desses movimentos de avanço e recuo.
In/Out/In soa como um passeio a limpo por esses momentos de reta final, e serve inclusive para ilustrar os pontos de conexão entre eles e com a trajetória da banda em geral. O SY nunca soou tanto como o Velvet Underground quanto em “Basement Contender”. “In & Out” é a típica faixa liderada por Kim Gordon, de andamento tenso e espaçoso, letra falada, em conexão direta com o que seria o trabalho dela pós-SY, no duo Body/Head. “Machine” e “Out & In” são as que mais se aproximam de faixas “convencionais” da banda, enquanto “Social Static” dá a liga com os EPs experimentais da série Sonic Youth Recordings.
Chega a ser poético, pra não dizer lógico, que os anos de busca e exploração sonora da banda sejam concluídos com um disco quase todo instrumental, de livre improvisação, sem “canções”. In/Out/In é o som do Sonic Youth curtido & curado, enfim livre de todas as amarras – das estruturas convencionais da canção, dos fantasmas corporativos, do olho público. É a cena do filme em que os alienígenas do bem, após cumprir a missão na Terra, retornam ao seu planeta de origem. Debaixo do sol, de braços abertos, tudo que é rock se desmancha no ar e se sublima em um milhão de partículas de poeira. O Sonic Youth já não é mais uma banda, é uma ideia. O que é bem mais poderoso e difícil de ser, aliás.
Ouça In/Out/In no Bandcamp do selo Three Lobed Recordings:






Deixe um comentário