Acompanhar a produção do Hurtmold é se embrenhar em uma cena inteira que brota dos dedos dos integrantes. Só puxando pela memória dá pra citar uns tantos bons projetos paralelos que surgiram das fileiras do sexteto paulistano: Chankas, MDM, m.takara, São Paulo Underground, GOATFACE!, Bode Holofônico, GMZ… a lista segue. Isso sem falar nas colaborações dos integrantes com outras bandas e artistas, como Rakta, Rob Mazurek, Forgotten Boys, Paulo Santos, Marcelo Camelo, HAB, Polara, Againe, e por aí vai.
Desses projetos todos, falemos hoje do Bode & Elefantes, puxadinho solo do multi-instrumentista Guilherme Granado. No início, era uma banda-de-um-cara-só que fazia música eletrônica caseira, pesada e empenada. E é mais ou menos essa a pegada do primeiro disco, homônimo, que saiu em 2008 pela Submarine Recs.
Em 2010 saiu o segundo álbum, Behold The Ice Goat, também com Granado tocando tudo, mas que já revelava uma mudança rumo a uma criação mais colaborativa, que veio a desaguar na formação em octeto (ou “quarteto duplo”) flagrada no vídeo a seguir.
Na apresentação, gravada em 2015 dentro do projeto SESC Instrumental, Granado (teclados e eletrônicos) toca ao lado dos companheiros de Hurtmold Marcos Gerez (baixo elétrico, teclados), Rogério Martins (clarinete, clarone e percussão) e Maurício Takara (bateria, cavaquinho), com Ricardo Pereira do Black Snake 808 na percussão, Thomas Rohrer do GOATFACE! no sax soprano e rabeca, Rodrigo Hara no baixo acústico e Leandro Archela nos teclados.
No set com 5 músicas, vislumbres das referências que compõem o universo sonoro dos integrantes: pós-rock, jazz, afrobeat, krautrock, punk, psicodelia e outros bichos. O improviso e o livre diálogo entre os instrumentos dá a liga, e embora os timbres possam sugerir um certo futurismo, Granado é ligeiro em apontar na entrevista pós-show que a filosofia da banda aponta mais para a recuperação de uma “forma antiga” de fazer música, de criação coletiva e sem formatos estabelecidos. As músicas apresentadas no vídeo, diga-se, são criações de palco e não estão no repertório dos discos anteriores do projeto.
A aparição no palco do SESC rendeu ainda dois vídeos-bônus. Um é o programa Passagem de Som, um mini-doc com entrevistas com Granado, Fred Finelli da Submarine Records e os músicos da formação corrente da Bodes & Elefantes. Vale a pena ver pra conhecer as origens do projeto e o método de composição de Granado, além das impressões dos músicos sobre seus respectivos papéis na criação do som.
O outro, mais curtinho, é o registro da entrevista com a jornalista Patrícia Palumbo, que tradicionalmente rola logo após o show no palco do Sesc Instrumental. No papo, desde perguntas-praxe (“De onde veio o nome da banda?”, etc) até curiosidades sobre o show, a dinâmica da banda e as versões das músicas apresentadas.
Curiosamente, nos dois vídeos de entrevistas Granado fala sobre a vontade de gravar um terceiro disco do B&E reunindo a formação em octeto. A ideia acabou se transformando em outra banda, a já mencionada GOATFACE!, que reúne alguns membros da formação do vídeo acima mais o baterista Cacá Amaral (Firefriend, Rumbo Reverso), e estreou em disco em 2021 com o álbum AKHENATEN BAZUCAS, lançado pelo Selo Sesc. Aliás, vale ver a sessão ao vivo deles, também no projeto SESC Instrumental.
Na paralelo, além de continuar no Hurtmold, Guilherme Granado lançou alguns trabalhos assinando com nome próprio e o projeto Bodes & Elefantes parece ter sido desativado, ao menos por enquanto. Pra acompanhar outros projetos de Granado – e dos caras e amigos do Hurtmold -, vale dar uma chegada no Bandcamp da Submarine Records. É só correr lá e ouvir tudo enquanto outro disco do Bodes & Elefantes não vem. Se é que vem.