No momento em que digito essas linhas, você já deve saber do quiproquó com Neil Young, o Spotify e o podcast do negacionista Joe Rogan. Em resumo, Young decidiu retirar todo o seu catálogo da plataforma por não concordar com a promoção de conteúdo anti-vacina pelo Spotify que, aliás, paga pelo podcast de Rogan.

Em tempo: os discos de Young não foram retirados pelo Spotify nem ele exigiu que o Spotify derrubasse o podcast do ar e retirou os discos em retaliação quando não foi atendido, diferente do que alguns veículos lá de fora noticiaram e Folha, G1 e outros jornalões daqui copiaram. Ou seja, não houve nenhuma tentativa de “censura” por parte de Young, como fica claro na carta aberta em que ele comunica a decisão.

Barn, disco de Neil Young & Crazy Horse que saiu no fim de 2021.

Enquanto a novela segue , vale lembrar que há outras maneiras de escutar o catálogo do véio, que segue disponível em nas plataformas de streaming que não financiam desinformação e naqueles estranhos objetos chatos e furados que os antigos chamavam de DISCOS. Qualquer que seja a via, além dos clássicos vale a pena ouvir também o recente Barn que, a despeito de ser o 41º disco da carreira de Young e o 14º ao lado da sua fiel Crazy Horse, é um discão de rock pra menino nenhum botar defeito.

A Band A Brotherhood A Barn, o filme que acompanha o disco, subiu no YouTube dias antes da polêmica estourar e segue à disposição pra quem quiser como a vida analógica funciona.

Dirigido por Daryl Hanna, é uma espécie de Get Back da Crazy Horse. Como no filme dos Beatles, a proposta aqui é registrar sem firulas o processo criativo em estúdio (no caso, um celeiro do século XIX no meio das montanhas do Colorado), as trocas de ideias entre os músicos, as tentativas e erros. A diferença é que o ambiente aqui é bem mais leve, sem pressões comerciais ou tretas mal resolvidas à vista.

Ao contrário, o que aparece na câmera é a evidência da amizade e da confiança entre Young e seus velhos camaradas Ralph Molina (bateria), Billy Talbot (baixo) e Nils Lofgren (guitarra e piano). O processo criativo dos caras pode até parecer desleixado, mas na verdade é muito mais guiado pela espontaneidade do que pela técnica. Tudo é preparado para que a gravação role com o mínimo de intervenções e overdubs possíveis. O filme tenta capturar esse sensação com takes longos e estáticos, e time lapses da paisagem.

O filme infelizmente não tem legendas, mas nem faz muita falta já que o negócio aqui é mais som e menos conversa. Mete o play e vai.

Deixe um comentário

LEIA TAMBÉM