Do Lixo, Munha ganha o mundo

Mais uma vez estamos dando espaço para Munha, dessa vez em forma solo (pero no mucho) para suas doidices. Lixo é um título forte para obras engavetadas que se não agradaram a quem deveriam, ele meteu no mundo assim mesmo porque sempre vai agradar alguém. Nós, por exemplo, curtimos o SS3 quando nem existia O Inimigo, vejam só. De lá pra cá já foi tanta coisa que ele e sua trupe fizeram que até viraram estrelas do Instagram (Sombrio da Silva). Com Lixo, disquinho disponível, por enquanto, apenas no Bandcamp porque nem só de like se vive, Munha chega a sua produção solo (tem outras disponíveis no perfil dele no Bandcamp) e batemos um papo com ele sobre o lançamento. Dessa vez em formato Faixa a Faixa.

Para ouvir o disco você pode clicar no link de cada título ou ir pro fim do papo e ouvir o disco completo numa lapada só.

Boa viagem.

“Peça para Violão Desafinado e Criança Possuída“: É o tema principal de uma trilha que compus e nunca foi usada pois o FROUXO do diretor largou tudo e foi vender Hinode durante a produção. Tivemos um trabalho desgraçado pra gravar o violoncelo (cuja partitura era dificílima) e a percussão, para no final das contas, o resultado final não sair da gaveta. Pois agora a mesa virou e está aí para o mundo todo ver.

“Snague”: Essa eu fiz em parceria com o Droid-on, atual imperador do chiptune japonês. Partimos de uma peça para piano que eu tinha escrito nos meus tempos de UnB e passamos nota por nota em processadores eletrônicos diferentes. Meus professores certamente odiariam (vou mandar pra um deles em breve).

Estudo Sobre Despertador Eletrônico Barato”: Parte da trilha sonora do curta-metragem Quinquilharia, do diretor goiano Maurício Campos. O mote parte do despertador e vai se alinhando em progressão aritmética a outros instrumentos, de acordo com os valores numéricos das figuras de ritmo. Me lembro de postá-la no Soundcloud, mas algum vagabundo deixou um comentário dizendo que parecia com uma música do Blue Man Group aí tirei do ar e só tive coragem de publicar novamente agora.

Estudo Sobre Relógio de Corda Falsificado”: Também é parte da trilha do Quinquilharia, mas adicionei um spoken word do meu amigo e parça Rafael Mordente pra dar um molho orgânico. Tava faltando voz nesse disco, né?

“fi”: “fi” é um dos hits da minha primeira banda instrumental, o lusbel is a jazz project (tem umas músicas no Youtube, caso haja curiosidade). Reimaginei a instrumentação especialmente para o Século XXI. Se originalmente era baixo elétrico, teclado, guitarra e bateria, nesta versão encaixei baixo acústico, piano, violão e violoncelo, pois não há nada mais contemporâneo do que o unplugged.

“Grugue”: O nome vem de “Fred Grugue”, uma pronúncia meio desatenta de “Freddy Krueger”, o vilão da franquia “A Hora do Pesadelo”. Estava revendo a parte IV (que por sinal é uma merda) quando comecei a escrever os arranjos e me lembrei de um moleque burraço do ensino fundamental que nunca acertou o nome do bichão com mão de garfo (??) em TODA A VIDA.

O Inimigo – Ouvi o disco de manhã e tinha suspeitado que algumas coisas eram de trilhas. Mas o que me veio a cabeça foi “Munha fica no twitter arriando lombra e o povo quando ouve as coisas que ele faz num deve entender que o cidadão é maestro”. Às vezes passa isso pela sua cabeça?

Munha – Não passava até virem comentar. Volta e meia alguém estranha o fato de eu ser compositor e usar bermuda de tactel. Eles esperavam o quê? Que eu andasse de FRAQUE, segurando uma batuta?

Bermuda de tactel quem usa é surfista, em Brasília nem onda tem. Claro que é estranho.

A moda surf chegou em Brasília no final dos anos 70 e jamais saiu. Temos o Lago Paranoá, it’s good enough.

As composições são todas suas? Inclusive a execução dos instrumentos?

As composições são minhas, nota por nota, mas a maioria dos instrumentos aí eu não toquei. Na verdade, planejei não tocar absolutamente NADA, mas não consegui levar adiante por questões orçamentárias. O melhor instrumento é a partitura, eu quero que os outros se fodam.

Rapaz, do disco o que me chamou mais atenção foi “Grugue” que tem uma pegada popzera, com o perdão da palavra, coisa que foge as composições suas e do SS3 e outros projetos. Uma pegada até surf ali em determinado momento. E remete no título a um moleque e ao vilão de terror. O que diabos tem a ver? Como foi a criação disso?

Não surgiu, digamos, por iniciativa própria. Um diretor de teatro me encomendou um surf rock para uma peça, mas ele achou o esboço torto demais e preferiu não usar, aí pra não desperdiçar papel de partitura, terminei a música entortando mais ainda. Guardei pra lançar um dia, eventualmente. Ei-la.

Inclusive estou ouvindo dois discos que não conhecia! O Tchose e o Sofrido. Você vem lançando bastante coisa e muita que fica guardada. Nesse arquivo tem algo fora desses empenos conhecidos, algo mais pop? Mais radiofônico?

Tem muita coisa mais erudita, até uma ópera no meu arquivo pessoal, mas material pop não tem. Isso eu deixo pra quem sabe fazer.

Hummmm modesto. (risos) Munha, muita gente tem usado esse período de pandemia, com tudo que envolve ele negativamente, para botar pra fora criações. Você criou mais nesse período ou segue como antes?

Criei bastante, foi uma maneira de me manter minimamente são. Enquanto estava concentrado em minhas músicas horríveis não tinha espaço mental para a hipocondria.

Bem lembrado, tu escreve muito sobre doenças ou estados doentes e porradaria (risos). É quase um ciclo que se completa. Fora as fuleiragens do Curious Cat. Isso tudo entra como influência nas composições?

Só se for inconscientemente. Faço o possível para que o meu processo de criação seja o mais racional e vazio de emoções possível. Não deve dar muito certo, mas que eu tento, eu tento.