Hugo dos Santos está de volta em clima caseiro

Foto: Gabriel

Hugo dos Santos, músico radicado no Piauí, está de volta com disco homônimo. Na ativa há mais de uma década, o artista soma os trabalhos solo com bandas como Trinco e Guardia Nova. Além do trabalho com o DJ PTK que deu origem a Tupi Machine.

Durante a pandemia, assim como muitos artistas, Hugo dos Santos produziu bastante. O primeiro trabalho é o EP homônimo, fruto das vivências e reflexões do período que ainda não acabou. Além do EP, ainda tem muita música por vir. A produção é assinada por Levi Nunes (Da banda Ultrópico Solar; Nevi Lunes) e conta com a participação de membros da Ultrópico na sua feitura. O disco foi gravado na casa do produtor Levi Nunes em Parnaíba-PI e mixado e masterizado no BlackRoom estúdio em São Luís-MA.

Batemos um papo com Hugo sobre o disco e as perspectivas sobre o trabalho.

O Inimigo – Cara, para começar, você tinha me dito do acidente derramando água no computador. O EP é fruto da salvação das gravações ou já são novas composições?

Hugo dos Santos – Foram salvas. Soube por um outro amigo que em Brasília o povo é bom de resolver problemas como esse. E deu certo por lá recuperar. Mas, tipo, do que seriam dois discos (um instrumental), pegamos só uma pequena parte do instrumental que fizemos num tarde de improvisos que virou a faixa “Vela”. Que é um improviso em cima de um tema que já existe. Mas tem um material que não entrou. Experimental. E todo esse material foi recuperado.

Cara, esse seu EP novo ficou interessante, Explora uma pegada de samba ao mesmo tempo que vai até a Jamaica, com um pé ali na psicodelia. Como foi a composição desse disco? Tinha um norte a seguir?

No começo não. A música “Telha” ficou com o Levi durante um tempo, ele guardou uma gravação que fiz e foi trabalhando. Quando me mostrou os primeiros experimentos eu já gostei muito. Por outro lado, eu estava compondo muito durante o primeiro ano de pandemia, e essencialmente no violão. Levi gosta muito do disco Trincado – Todos os Santos e ele pensava em um disco que fosse o próximo passo desse caminho, a continuação dessa linha mais violão brasileiro, Nordeste. Digo isso porque tenho outros trabalhos com outras características. Daí que as composições já puxam um tanto pra uma direção que a gente sabe mais ou menos algum rumo. Mas a coisa se deu mesmo quando nos unimos, Levi , André Oliveira e eu. Acendemos a vela e começamos a tocar. E a coisa não tava rolando de começo. Não foi aquela coisa “chegamos e tudo fluiu”. Chegou um momento que tive que parar para a gente conversar na vera porque não estava rolando. Tipo, rolou tensões também e por isso uma entrega muito específica. Essa estética do resultado final também passa muito pelo diálogo com o Sandoval, que é quem mixou e masterizou. Ele também botou piano no disco e alguma coisa de batida. E também o fato de ser um disco gravado em casa, underground, assumindo essa estética. Falo que é um disco do rio pro mar. Teresina pras praias da região ali de Parnaíba.

Capa do disco Hugo dos Santos

Realmente tem uma estética caseira, mais crua. Apesar das inserções de elementos. Mas parece aquela coisa “casa na praia”. Você disse que compôs muito no primeiro ano da pandemia. Cabia um álbum? Por que lançar um disco menor?

Foi o que deu pra fazer nos poucos dias que tivemos. Acho que gravamos esse disco em uns 5 dias. E também pelo fato de já ter um disco da Tupi Machine em processo de mixagem. Tenho feito umas pré produções em casa, então meio que essas 5 [músicas] pareciam representar bem esse caminho que elas mesmas puxaram. Já a parte instrumental ter entrado só uma parte, foi uma escolha mais do Levi. Ele ficou com o material e fez o retalho. E achei massa, mas fiz músicas pra uns dois discos.

Tem o da Tupi e outro solo? Vi que vai sair uma colaboração com a Ferve também.

Isso. Tem uma música pra sair em parceria com a Ferve, tem o disco da Tupi que tá com Esmeraldo (Chico Correia), tem uma pré-produção de um disco que tenho feito em casa e quero gravar também um disco ao vivo em estúdio com a banda que está tocando comigo agora, um trabalho também com novas composições. E isso já tá bem encaminhado, mas é no tempo de Deus (risos).

Muita coisa. E os planos de shows (mesmo com essa pandemia dentro da pandemia)?

Cara, tinha coisa marcada, mas tá caindo tudo. Eu mesmo estou me recuperando de gripe muito forte. Situação complicada, começo de ano estranho. Então acho que é lançar isso tudo que tem pra ser lançado. Compor e ouvir música me energizam muito. Me faz muito bem. Fiz alguns shows fim de ano e viajei, acabou que o resultado foi adoecer e isso traz todo um desgaste. E ver isso acontecendo de uma forma geral, essa conexão… Tenho ouvido o disco também porque é um diálogo com tudo isso que perdura. Esse momento. Às vezes, como hoje que está um dia nublado em Teresina, me vem uma ideia de acerto de contas com nossos tempos e formas de viver. Uma ideia de transformação. Charlie Parker tocando agora e esperando pra fazer um raio X da lombar que tá me matando. Dia nublado e a loucura a me vigiar. Como diz em “Bile”, terceira do disco.

Ouça abaixo o EP homônimo de Hugo dos Santos.