Antes tarde do que nunca deixo aqui uma lista de discos que consegui parar para ouvir em 2021 e que por algum motivo me chamaram mais a atenção. Não necessariamente a lista segue em ordem de interesse, mas todos foram discos que em algum momento do ano parei para ouvir. Alguns bateram logo de primeira, outros após algumas audições mais aguçadas, mas são coisas que acontecem.

Gojira – Fortitude
O 7º disco dos franceses do Gojira traz um som que trafega entre o agressivo, técnico e melódico. Se no disco anterior, Magma, eles deixaram de lado o Death Metal, aqui existe uma volta ao estilo. Podemos dizer que Fortitude, é uma mescla de influências que vão do “L’Enfant Sauvage” (2012) ao próprio Magma, cada vez mais azeitado. As letras continuam diferenciadas da maioria das bandas de metal, com temas que abordam o social e a ecologia. Os destaques ficam para “Amazonia” e “The Chant”, porém todas as faixas são boas.

Iron Maiden – Senjutsu
Há alguns anos não parava para ouvir os novos discos do Iron Maiden. Os dois últimos não me deram vontade de repetir a audição. Senjutsu mudou essa sequência, é um álbum com ótimas faixas, ainda que alguns possam reclamar da duração de algumas delas. As três últimas, por exemplo, tem 10 minutos ou mais cada. Os vocais de Bruce Dickinson estão impecáveis e os instrumentais muito bons, mesmo que também exista quem vá reclamar de trechos repetitivos ou faixas com trechos parecidos com as de outros discos… Isso já acontecia desde o Killers. Enfim, é um ótimo disco dos ingleses e demonstra que a banda ainda tem muita lenha para queimar.

Manger Cadavre? – Decomposição
Decomposição mostra uma Manger Cadavre? mais death crust, com músicas mais pesadas e arrastadas, mostrando até um lado mais doom, saindo um pouco do hardcore. As letras continuam sendo outro ponto forte, carregando forte carga política e psicológica. Esse é o primeiro disco com a nova formação que conta com Paulo Alexandre (guitarra) e Bruno Henrique (baixo), além dos dois remanescentes Nata Nachthexen (vocal) e Marcelo Kruszynski (bateria).

In Venus – Sintoma
Esse é um disco caótico com pegadas que trafegam pelo punk, pós-punk e garage rock. Um emaranhado de sonoridades, guitarras estridentes e distorcidas, baterias rápidas e quebradas, sons de saxofone, vocais agressivos misturados, entoando discursos políticos… Enfim, é um disco que se distancia do que a banda apresentou no disco anterior e se coloca no caminho de uma sonoridade mais rápida e caótica.

Dinosaur Jr. – Sweep It Into Space
Esperar algo totalmente diferente de uma banda com 40 anos de estrada é complicado, porém os muitos anos de estrada sempre azeitam o som e com isso tornam possível que os discos saiam mais lapidados e com algumas pitadas diferentes. Em Sweep It Into Space a banda continua a investir no mesmo rock rasgado e bons solos de guitarra. O novo disco investe em uma mistura de crueza e melodia, a dualidade entre a fúria e a calmaria e versos acessíveis. É um disco equilibrado e gostoso de ouvir.

OQuadro – Preto sem Açúcar
Eu nem sou muito adepto da sonoridade, mas o rap do terceiro disco da OQuadro conseguiu fisgar meus ouvidos. A lista de participações especiais inclui Jorge Du Peixe, Ellen Oléria, Xênia França, Vanessa Melo, Russo Passapusso e outros nomes. Apresenta um som repleto de originalidade, as letras são contundentes, poéticas e realistas. É um disco cheio de experimentações e muito interessante.

Jadsa – Olho de Vidro
O álbum de estreia da baiana Jadsa, que é compositora, guitarrista e diretora musical, traz uma fusão de ritmos, estilos e referências da artista. O disco conta com momentos mais intimistas e outros mais ritmados, transitando por ritmos como o samba e o reggae, pitadas de rock e alternativo em geral. Tem participações de Ana Frango Elétrico, Kiko Dinucci, Josyara, Raíssa Lopes, entre outros.

Nervosa – Perpetual Chaos
O primeiro disco da nova formação da Nervosa, que passou de trio para quarteto, traz uma sonoridade Thrash Metal com algumas faixas puxando para o Death Metal. É um disco pesado, versátil e que possui ótimas participações de gente como Erik Ak (Fltosam & Jetsam), Marcel Schmier (baixista e vocalista do Destruction) e Guilherme Miranda (Entombed AD). Considero que este seja o melhor disco da banda até o momento.

Mdou Moctar -Afrique Victime
Pós-punk, rock, psicodelia, ritmos africanos… Esse disco é um emaranhado de sonoridades e uma riqueza de detalhes. São elementos percussivos e cânticos que nos levam à África, porém também com guitarras e timbres do rock alternativo, pitadas de reggae e até algo que se assemelha à música paraense. As letras fazem uma mescla entre o tuaregue (predominante) e o francês. Vale conferir.

Viagra Boys – Welfare Jazz
(Spotify)
Viagra Boys é uma banda sueca, que mistura punk com garage e pós-punk. O disco traz um ritmo dançante e letras irônicas, com humor ácido. Carrega por vezes timbres pesados no baixo e na guitarra, bateria pulsante e descontentamento nas letras. Tudo isso, com um tom que se mostra divertido e não pesado e massante.

Deafheaven – Infinite Granite
O mais novo álbum da Deafheaven deixa praticamente de lado os vocais guturais. Outro traço claro é a desaceleração das músicas. Para alguns esses seriam elementos ruins. Particularmente, gostei do novo caminho criativo buscado pelo grupo que ressaltou mais o seu lado post-metal e um evidente refinamento dos arranjos. São guitarras atmosféricas, delicadas paisagens instrumentais, distorções comedidas e momentos de maior calmaria. Um álbum que seguramente mostra uma evolução criativa da banda, que não tem medo de viajar por diferentes sonoridades.

Alda – A distant Fire
O novo disco do Alda investe mais uma vez no atmospheric black metal, com vocais guturais e a mistura de passagens mais calmas e mais agressivas, trechos acústicos e de guitarras altas. Se não é um disco que traz ineditismo, mostra uma banda que faz um som muito competente. São músicas longas, mas que passam longe do cansativo e possibilitam viagens sonoras para quem tiver os ouvidos mais atentos a cada detalhe.

Tomahawk – Tonic Immobility
Tonic Immobility é o quinto álbum de estúdio do grupo e já começa com um tremendo chute na porta. Agitado e dançante. É um disco seguramente consistente, atrativo e bem feito. Com músicas que trazem um Mike Patton inspirado nos vocais, mostrando toda a sua versatilidade e instrumentais criativos que trafegam por diferentes sonoridades.

Converge / Chelsea Wolfe – Bloodmoon: I
O disco traz composições que misturam as influências da banda de Metalcore e o rock gótico, doom metal da cantora, resultando em canções densas e íntimas das criações de Wolfe, porém, guiadas em essência pela bateria dinâmica e completas pelo som ruidoso que escapa das guitarras. O disco mescla a aceleração com a dramaticidade em músicas muito interessantes.

Garbage – No Gods No Masters
O novo trabalho do Garbage traz canções com temáticas políticas ligadas a movimentos sociais como o feminismo e a luta pela igualdade de direitos, da forma mais direta possível. Traz um rock alternativo inventivo e sem amarras. Os versos vêm embalados em instrumentais ora soturnos, ora groovados, dançantes ou melódicos. Enfim, é um disco que merece estar nas listas de melhores do ano, com toda a certeza.