Vermes do Limbo trazem novidades boas e feias em 1bu

Vermes do Limbo tocando o terror em estúdio.

Depois de muitas sextas-feiras só com as mesmas coisas feias de sempre, eis que a sexta passada (uma sexta 13, não por acaso) terminou com uma coisa nova, boa e feia. A saber: 1bu, o disco novo dos Vermes do Limbo.

Capa de 1bu, dos Vermes do Limbo.

Disponível no Bandcamp, 1bu é o décimo sexto lançamento destes professores do empeno, contando álbuns, singles e fitas cassete. Neste, os Vermes fixos (Guilherme Pacola, bateria; Vinicius Patrial; baixo e voz) retornam com o apoio do guitarrista Nick Smith, que já participou de discos anteriores da banda tocando, produzindo ou fazendo as duas coisas.

Nesse ponto, me reservo o direito de furar um pouco o modelo de 99% dos textos escritos sobre os Vermes do Limbo, e não gastar toques para tentar explicar o som dos caras. Antes de ser pós-punk, esses caras já eram pós-rótulo. Colar etiquetas no som dos Vermes é, ao meu ver, ir na contramão de tudo que esses malucos insistem em fazer há bons 20 anos. O horizonte é o inexplicável, a criatividade livre o motor. Aos que ainda insistem pelos caminhos ligeiros, deixo anotado o seguinte: é música de quem foge do óbvio como Bolsonaro o Genocida dos debates eleitorais. Não há refrões nem solos de guitarra, mas é garantia de estímulo às partes mais ocultas do juízo.

Dito isso, 1bu soa como uma sequência (ou evolução) natural dos últimos trabalhos dos Vermes, em especial os dois últimos, VEM VER ME NOS (2020, com guitarras de Kiko Dinucci em algumas faixas) e O Sol Mais Escuro (2018). O método ideias > técnica continua a funcionar a pleno vapor, mas nestes últimos tempos nota-se uma certa estrutura ou norte estético onde antes havia apenas caos liberto. Pode ser o efeito colateral de ouvir muito esse tipo de som às altas horas da noite: depois de um tempo, mesmo as coisas mais absurdas começam a fazer sentido, vai saber.

Mas há o que se dizer: “Erro”, que pega letra emprestada de um poema de Paulo Leminski, talvez seja a faixa mais acessível já lançada pelos Vermes até hoje, além de explicar em termos cristalinos a filosofia da banda (“só o erro tem vez”). Não é difícil imaginá-la aparecendo de supetão em uma discotecagem mais ousada, nos escombros da pós-pandemia.

Aliás, as letras, nem sempre um ponto forte no trabalho dos Vermes, ganham um pouco mais de destaque aqui. Mesmo nos textos mais aparentemente fragmentados (como “Disforme”, e “Força”), os Vermes conseguem articular de forma muita própria sentimentos e sensações do coletivo. Basta ouvir “Vacina”, de título autoexplicativo, que resume o último ano e meio de existência no Brasil em versos curtos, de uma ou duas palavras, acentuados pelos vocais derretidos de Patrial.

Enfim, mais um grande disco de música feia entregue por um dos maiores nomes … bem, da música feia brasileira. Tire os caretas do recinto e aprecie sem ponderação.

Ouça 1bu, dos Vermes do Limbo no Bandcamp: