O grupo americano de punk rock/hardcore melódico Rise Against está na estrada desde 1999 e seu primeiro disco de estúdio, The Unraveling, completou 20 anos, mas a banda continua com a mesma energia e combatividade do início em seu 9º disco, intitulado Nowhere Generation, lançado no último dia 4 de junho.
É claro para quem acompanha a discografia do grupo que ao longo dos anos os vocais mais gritados e os riffs mais puxados para o metal foram deixados de lado, dando vazão a uma sonoridade mais melódica, algumas canções sendo mais cadenciadas, outras mantendo a rapidez do hardcore. Mas uma coisa que nunca mudou nesses mais de 20 anos foram as letras sempre abordando temas políticos e relevantes de forma direta e sem firulas.
Nowhere Generation não é um álbum conceitual, mas carrega um tema abrangente que permeia todas as músicas de alguma forma, que é a herança global que estamos deixando para as futuras gerações. Logicamente o tema vem carregado de críticas, todas muito reais. Partindo do plano nacional, a abordagem crítica ataca o chamado “sonho americano”, mas há experiências compartilhadas o suficiente para se estender além das fronteiras nacionais, como a catástrofe climática iminente, dívidas crescentes, todas as pressões do capitalismo em estágio avançado e uma sensação de que qualquer voz que se atreva a protestar é diminuída, ignorada, reduzida ao clichê.
A banda também tentam abordar, nesse sentido, as diversas dificuldades e inquietações da chamada Geração Z, que compreende pessoas nascidas entre 1995 a 2010, talvez tentando atender de forma direta o público mais jovem da banda, que está sempre se renovando. Na perspectiva do próprio Tim McIlrath, guitarrista e vocalista, “o progresso, a automação e a industrialização não conhece fronteiras ou anos. Não importa o ano em que você nasceu, é muito provável que você se torne vítima da crescente desigualdade social, da crescente disparidade de renda ou da mudança climática – essas coisas não têm data de nascimento”.
Em termos instrumentais, o som não foge do que a banda já vem fazendo há anos. Um hardcore melódico muito competente, com uma mescla de canções mais rápidas, outras mais cadenciadas. Possui ainda a bela faixa acústica “Forfeit”.
O disco já inicia com um pequeno trecho do hino socialista “L’Internationale” abrindo “The Numbers”. A música logo desemboca em um hardcore rápido, como um chute na porta de entrada.
“Talking To Ourselves” já carrega um punk rock em tom de balada, com uma pegada até um pouco emocional. “Sudden Urge” carrega um equilíbrio necessário entre trechos mais rápidos e mais rock. “Sooner or Later” é outra que opta por uma abordagem mais leve, mas o grito pré-refrão logo resolve isso.
“Middle of a Dream” é uma clássica faixa da banda, com trechos mais frenéticos e outros mais melódicos. Assim como “Monarch”, que vem logo após a faixa acústica já citada, voltando ao tom frenético, sendo uma das mais rápidas do disco. “Broken Dreams, Inc.”, é outra que empunha riffs de guitarra rápidos e urgentes.
A Rise Against nunca teve medo de expressar suas opiniões sobre os eventos políticos e sociais e isso não mudou com seu novo álbum. Desde a primeira música, a banda lembra ao ouvinte que, sim, a democracia nem sempre é confortável e fácil, mas ainda é o melhor sistema político que existe. É um álbum sólido, com ótimas canções, que se não trazem novidades quanto à sonoridade da banda, também não faz ninguém sentir falta disso, muitas músicas inclusive tem potencial para se tornarem clássicos do grupo.