Neócio é o seguinte: os algoritmos não estão pra brincadeira. Tudo o que fazemos na internet está na mira dos olhinhos das aranhas-robôs do Google e afins. Mas por mais que não dê pra negar a má intenção, às vezes os aracnídeos até ajudam e indicam umas coisas boas pra gente ouvir. Afinal, se tem alguém (ou algo) que conhece você e seus gostos são eles. Né?
Foi assim que, num dia normal de garimpo no YouTube, resolvi seguir a trilha das recomendações e esbarrei com os vídeos abaixo no canal da rádio americana KEXP. Três boas surpresas, com três propostas bem diferentes.
Então se por algum acaso da vida você chegou aqui procurando coisa nova pra ouvir e ver, ou só tá a fim de dar aquela enrolada no expediente, eis os achados:
Los Bitchos
Quinteto que toca cumbia como se fosse power pop e vice-versa. Formada por duas uruguaias, uma australiana, uma inglesa e uma sueca, a Los Bitchos está baseada em Londres e já soltou alguns EPs desde 2017, com destaque para o 7″ Pista (Great Start), de 2019. O esperado álbum de estreia vem aí, dizem que produzido por Alex Kapranos, do Franz Ferdinand. Enquanto não pintam novidades, o melhor jeito de conhecer o som delas é dando um saque nessa sessão, gravada no comecinho do ano passado. É aquela história, se quiser fastar os móveis da sala pra dançar, pode tranquilo. Mas se quiser só colocar e deixar brisar, dá certo também.
L’Eclair
De Londres, vamos à Genebra pra encontrar o combo instrumental L’Eclair. Com reverb até nos bongôs, o sexteto apresenta nesta sessão faixas dos álbuns Polymood (2018) e Sauropoda (2019), e do EP Noshtta (2020), todos altamente recomendáveis. O som por certo bebe dos ritmos polifônicos da música africana, mas tascar uma etiqueta de re-escritores do afro-beat na testa dos caras é pouco, já que também entram no jogo influências de synth pop, dub, ambient, rock progressivo (certeza que esses bichos curtem Emerson, Lake &Palmer), funk e soul. Dica: procure a versão deles pra “O Caminho do Bem” de Tim Maia e verás.
Dry Cleaning
Dos três vídeos aqui, esse foi o único que o algoritmo não trouxe – foi dica quente do jovem Pedro Lucas, que anda escutando New Long Leg, disco de estreia do Dry Cleaning, feito cantiga de grilo. É uma sessão curtinha – 15 minutos – mas talvez por isso ainda mais eficiente para apresentar o som estranho e saudavelmente hipnótico destes ingleses. Rock de guitarra falado, surrealismo pós-punk. Se você acredita que White Light/White Heat é o melhor disco do Velvet (o que é perfeitamente possível, diga-se) essa banda é pra você.