Coisaluz é um trio de Mossoró. Três mulheres que sabem o que querem e isso levou a gravação do EP de estreia com cara de manifesto. Manifesto feminista e que vai até a busca das raízes das integrantes. Bianca Cardial e Dayanne Nunes cantaram juntas de forma despretensiosa na festa de um amigo e fluiu tão bem que resolveram levar adiante. Produzir.
O pontapé inicial como banda se deu com o convite para participarem da Feira das Bruxas. Elas então chamaram Flávia Fagundes pra fazer percussão e Roberta Lúcia pra fazer o violão. Roberta não seguiu adiante e a formação ficou em forma de trio.

O resultado dessa união é o EP Afroameríndia, que já no título mostra que o trio explora a ancestralidade. Mas o disco vai além e une as origens, as heranças, ao feminismo. Tudo em um passeio por sonoridades variadas que casam muito bem com a proposta do disco que mostra o preconceito que elas sofrem no dia a dia, seja pela origem, seja por serem mulheres. Sendo assim em meio a um xote ou a uma pegada mais percussiva com cara de candomblé, Afroameríndia traz um recado de reconhecimento, luta diária, superação. Tudo com foco nas vozes de Bianca Cardial, Dayanne Nunes e Flavia Fagundes.
Batemos um papo com Bianca Cardial que você lê a seguir.
O disco é um recado direto para quem não acredita no lugar e na força da mulher. Entre o começo da banda e o gravar a ideia já era essa? Um disco sem arrodeios, direto?
Essa é a nossa proposta desde antes mesmo da primeira apresentação. Desde o começo nós viemos com o objetivo de cantar por mulheres e pra mulheres. Levar essa mensagem de apoio, empoderamento e, ao mesmo, tempo, acalento.Então o nosso EP autoral não teria como ser diferente, abordar outra temática.Essa é a nossa identidade. CoisaLuz é uma carta de amor a todas as mulheres. A mensagem precisava ser a mais clara possível, de modo que pudesse tocar, abraçar e, por que não, transformar mulheres de todas as classes, raças, idade, biotipo, e o mais incrível desse processo está sendo perceber que atingimos esse objetivo.
Era isso que eu ia perguntar, como foi a recepção ao disco. As músicas além das temáticas tem uma pegada sonora de ancestralidade. Também já existia essa definição da sonoridade desde o início?
A música “Afroameríndia” meio que, mesmo não intencionalmente, moldou a história que o EP iria contar. Tudo entre nós é muito instintivo, a gente sente e faz. Obviamente que nós trabalhamos de forma planejada, mas artisticamente somos muito livres e muito colaborativas entre nós. Todas as músicas foram compostas em conjunto. Porém, quando “Afroameríndia” começou a ser construída, ela mesma, a música, foi nos mostrando a história que iríamos contar. Ela foi a segunda música do disco a ser composta, a primeira foi “Sinta”, e ela começou por inquietações identitárias minhas, pessoais.
Quando apresentei o esboço inicial pras outras meninas, percebemos que todas nós éramos afroameríndias, que todas nós sofríamos com questões de identidade, e que estávamos buscando essa conexão consigo mesma. Foi aí que sugeri que essa fosse a música que daria o nome do EP. Por tudo o que essa palavra representa: nossas origens, nossa ancestralidade, nossa misturada racial que faz com que não conheçamos justamente aquilo que está dentro da gente… Acaba que somos nada, e somos tudo. E então as demais músicas foram surgindo que, como eu disse, instintivamente, todas as músicas foram complementando-se entre si, e formando aquela história que contamos no EP.
A quantidade de mulheres que se dizem atingidas por essa mensagem é tanta, que corrobora tudo o que conversamos desde o início desse processo criativo: somos todas afroameríndias.
Nesse contexto atual, como está sendo a divulgação e o pensamento no futuro quanto a shows?
Por enquanto estamos fazendo o que podemos: divulgação nas redes sociais, imprensa e estamos produzindo a live Afroameríndia, que está prevista pro início de maio, na qual apresentaremos as músicas do EP ao vivo. No futuro o que a gente quer é cantar, em qualquer lugar, pra quem quiser ouvir. Estamos tão ansiosas pra subir no palco e cantar essas músicas… Mas é preciso cautela no momento. Então, de acordo com as possibilidades, iremos fazendo tudo o que aparecer no nosso caminho.
A direção de Afroameríndia é de Iury Matias e a capa de Thayne Albano. Ouça o EP abaixo, via Youtube.