Se tem uma coisa que gostamos é documentário. Se for sobre música gostamos mais que cerveja. Sendo assim conferimos dois docs lançados recentemente: um sobre o cenário do rock em Caicó, cidade do interior do Rio Grande do Norte, o outro sobre o cenário de Canoas, no Rio Grande do Sul.

Underground em Evidência: O Movimento do Rock em Caicó tem uma abordagem mais recente que prioriza entrevistas com personagens do cenário roqueiro atual em Caicó. A escolha deixa de fora muita gente antiga, como a Dr. Fossa, Lixo Atômico, Alquimia e Esgoto Cório. A participação feminina do rock em Caicó também não foi abordada. O doc, como tantos outros sobre o underground Brasil afora, mostra a falta de incentivo público, dificuldade para se informar sobre bandas e se ter locais de ensaios, bem como para se produzir eventos. Tudo é feito na forma do lema punk DIY. Mesmo com boa intenção, o doc carece de imagens de arquivo, de shows das bandas locais – mas usa de bandas de fora que chegaram a cidade com o Festival DoSol – e se estende sobre o estereótipo do roqueiro. Os destaques são as bandas Sertão Sangrento e Scória 74 e a historiadora Liudmila Aleksandra, que tem seu projeto de conclusão de curso sobre a Sertão Sangrento. A direção é de Wesley Santos, com imagens e áudio de João Paulo Amaral.

Já This is CANOAS, Not POA! abrange 40 anos de rock na cidade de Canoas. Duas coisas diferem Caicó de Canoas. A distância das capitais, Caicó está a 300 km de Natal enquanto Canoas a menos de 20 km de Porto Alegre, e a população. A de Canoas é mais de 5 vezes maior que Caicó. Isso já explica as diferenças visíveis entre os documentários.
This is CANOAS, Not POA! tem mais que o dobro do tempo de duração do doc potiguar, o que dá lastro para cobrir quatro décadas do rock produzido na chamada cidade dormitório. Em inúmeras entrevistas é possível saber sobre os festivais com e sem apoio do poder público, as produções underground, dificuldades para se conseguir instrumentos e locais de shows – que levavam os músicos a tocar em lanchonetes – estúdios de ensaio que eram verdadeiras reuniões de grupos de futuras bandas, o movimento feminino marcado por muito machismo – como sempre – e curiosidades como o show de metal que parou porque um cidadão subiu ao palco com um machado e uma faca e não era figurante. E claro: nenhuma cena, ou cenário, está completo sem uma boa loja de discos onde se junta toda e qualquer figura da cidade.
A equipe que produziu o doc é extensa: Wender Zanon (Direção, produção, roteiro e pesquisa), Roger Neres (Produção executiva e Co-autoria), Renato Chama (Direção de fotografia e câmera), Izza Balbinot (Assistente de câmera e captação de som), Pedro Rheinheimer (Montagem e finalização), Daniel Hogrefe (Direção de arte), Jonas Adriano (Mixagem e masterização) e Gabriela Garcia (Suporte de pesquisa).