Bruno Consul apresenta sua garagem psicodélica

Bruno Consul é um jovem multi-instrumentista de São Paulo doido por rock garageiro, Beatles e Mutantes. Provavelmente você (ainda) não ouviu falar dele, mas isso não impediu o cidadão de botar a mão na massa. Gravando sozinho em casa desde 2017 ele já lançou dois EPs, um álbum e mais um punhadinho de singles, todos sob medida pra quem curte Ty Segall, Thee Oh Sees, Angel Olsen, Mikal Cronin e afins.

O trabalho mais recente é o EP Doces que saiu agora em fevereiro. São só três faixas, mas muitas ideias. Num clima de chapação leve (aquele peguinha depois do almoço, vixe), Bruno abre o EP com “Flamingo”, uma faixa de menos de dois minutos que funciona como um mantra de possibilidades para começar mais um ano impossível. “Feliz ano novo, pra mim e pra você/Que a gente enfim se livre do que passa na tevê”, ele canta, acompanhando de um tecladinho deliciosamente fuleiro. “Eu”, que vem em seguida, muda a marcha e mete o dedo na tomada com pouco mais que dois acordes , enquanto “Inútil” reata as pontas com a melancolia da abertura em uma quase-balada sobre amor-próprio e vulnerabilidade.

Na entrevista a seguir, concedida via troca de mensagens diretas no Twitter, Bruno conta um pouco sobre o processo de gravação dos discos, o novo EP, suas influências e planos possíveis para o eventual fim da pandemia, seja lá quando isso rolar.

Fala Bruno, beleza? Pra gente começar a conversa, acho que seria legal você se apresentar um pouco. Contaí como você começou a tocar, se já teve bandas antes de começar desse trabalho solo e tal.

Oi! Beleza sim, na medida do possível. Bom, sou paulista da zona leste, tenho 24 anos. Comecei a tocar porque sempre gostei muito dos rock que meu pai colocava no rádio. Fiz alguns anos de aula de violão e depois de guitarra, mas sempre fui muito preguiçoso pra praticar, aí acabei largando. A primeira música que eu compus eu lembro de ter 14 anos, e eu logo gravei em casa mesmo e fiquei meio maravilhado que eu pude fazer aquilo assim sem ter nenhum equipamento caro. Já tive um milhão de bandas que não foram pra lugar nenhum com a mesma galera, mas teve uma que fomos um pouco mais longe, chamada Mild Vampire. Fizemos só um show, que foi no Escritório (RJ). Foi uma experiência muito legal porque o Lê Almeida, que é artista e o dono de lá, foi a primeira pessoa de quem eu era fã que botou fé no meu som. Depois disso a gente acabou desfazendo a banda e eu continuei escrevendo e gravando em casa sozinho, mas dessa vez decidi lançar pelo meu nome mesmo. Aí saiu o Oranges, meu primeiro EP lá em 2017.

Rapaz, curioso você citar o Lê Almeida. Ouvindo os discos achei a sonoridade muito próxima do tipo de coisa que costuma sair pela Transfusão Noise. Falo mais de timbres, captação de voz. Como você chegou nessa sonoridade gravando em casa? Você tinha alguma referência quando decidiu a gravar sozinho ou foi aprendendo na marra?

Pois é, e é engraçado que não temos tantas referências em comum assim, eu e o Lê. Quando eu comecei a gravar as músicas do Mild Vampire foi a época que eu conheci Ty Segall, Car Seat Headrest e eu soube que eles também gravavam fora de estúdio, meio no improviso. Aí lembrei do Lê Almeida também, que eu já conhecia. E pensei “se eles conseguem, eu também consigo” e fui daí. Nunca fiz curso de gravação, mixagem nem nada, foi meio na marra mesmo. Hoje até gostaria de fazer um curso, mas a verdade é que eu gosto de aprender as coisas do meu jeito também. Eu sou meio teimoso.

Ty Segall certamente me veio à mente, mas também – e tu talvez estranhe isso – um certo quê de… Jovem Guarda? Mas uma Jovem Guarda meio descompensada, levada a algum tipo de extremo selvagem. Mas talvez eu esteja pensando especificamente na faixa “Falta”, do disco Frutose, que tá rolando agora.

Legal! Já me falaram isso antes, hahaha. Mas isso deve ter a ver com Beatles, pra mim. É uma influência bem presente. Mutantes também. Sou grande fã da Rita Lee. Mas gostei muito dessa ideia de Jovem Guarda selvagem. Vou abraçar a ideia!

Capa do EP Doces, de Bruno Consul

Fala um pouco sobre o EP novo, Doces.

Então. O Doces veio de um período meio maluco. Depois do meu primeiro disco, Frutose, rolaram várias coisas, fiquei desempregado, minha avó ficou doente, passei por uns empregos péssimos, enfim. Coisas que me impediram de compor/gravar porque eu não tinha tempo e/ou cabeça. Aí tive um respiro e comecei a compor mas não tava gostando de nada. Aí eu decidi, dane-se, vou ir fazendo sem pensar demais e ver no que dá. Daí surgiram umas 13 ou 14 músicas, entre elas essas que saíram no EP. Agora eu tô em uma vibe diferente, mas quis lançar essas porque achei que ficaram bem legais. A ideia de Doces é que é uma coisa rápida, que você pega e come e tem aquela explosão momentânea de açúcar e você pega a embalagem e joga fora. Mas a “refeição” de verdade ainda está por vir, hahaha.

O que separa as faixas do EP dessas outras? Você pretende lançar elas também?

Eu acho que elas são de estilos diferentes. Pretendo sim, vai ser um disco novo. Espero conseguir lançar até o meio do ano que vem. Mas dessa vez vou fazer bonitinho, com paciência. Quando eu fiz o Frutose eu terminei de mixar e já quis lançar o mais rápido possível. Eu sou uma pessoa ansiosa. Mas às vezes esperar faz parte do business do negócio, infelizmente.

A pandemia interrompeu todos os planos de 2020 e ainda há de interromper mais alguns esse ano. Mas apesar disso, você pensa em montar uma banda, tocar as músicas ao vivo?

Por enquanto, pelo menos, não. Quero aproveitar esse período pra continuar gravando, quem sabe fazer parceria com algum selo (alô selos, me chamem), mas se as coisas melhorarem bastante com as doses das vacinas, quem sabe. Eu queria muito fazer uns shows, mas a coisa ainda tá feia demais.

Eu quis dizer no pós-pandemia mesmo. Agora, sem chance né?

Sim! Foi mal, entendi errado haha. Porra, com certeza, quero muito fazer shows. Tenho inclusive uma banda, só precisamos pegar umas músicas e ensaiar.

Cara, acho que é isso. Valeu pela paciência e atenção. Tem mais alguma coisa que você queria falar e de repente eu não perguntei?

Só queria agradecer demais pela oportunidade, de verdade. Queria dizer também que vai rolar um clipe de uma faixa do Doces em breve, mas ainda não sei quando. Por enquanto é isso. Ouçam Bruno Consul.