O título desse texto pode se repetir por anos, já que Tim Maia, assim como Roberto Carlos, assinava seus discos com seu próprio nome, em parte da carreira. O disco em questão é o de 1971, o segundo do cantor. Se a estreia já foi com músicas que entraram para a história, o segundo álbum pavimentou o caminho de clássicos até os anos 80 – quando a obra perdeu a qualidade se comparada com a lançada nos anos 70 – e influenciou muita gente na música brasileira. Inclusive o tal rei, que foi amigo na juventude no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
“A Festa de Santos Reis” abre o disco de forma grandiosa, a música é uma homenagem a festa que acontece país afora no dia 6 de janeiro, mês em que Tim lançou alguns discos. Parece que ele queria abrir os anos com música de qualidade para dar força para seguir em frente. Ou era apenas uma maneira de se “impor” em meio a tanta gente boa na música nacional já no começo do ano. Especulações à parte, “Não Quero Dinheiro” vem na sequência mantendo o clima e é mais um entre inúmeros clássicos. Se o disco começou com uma temática religiosa, ainda na terceira música ela se repete com “Salve Nossa Senhora”. E mais uma vez, tal qual Brasil x Argentina, há de se lembrar de Roberto Carlos, já que ele adotou o azul e branco das vestimentas em homenagem a Nossa Senhora e basicamente virou um fanático católico. A música, assim como “Coroné Antônio Bento”, do primeiro álbum, mistura o Soul e Funk com Baião. Antecipando uma mistura de influência estrangeira com uma nacional que Raul Seixas faria mais de uma década depois com o rock.
Tim, assim como Roberto, enveredaram por caminhos populares, mas já no começo uma diferença crucial os difere. Se Roberto começa a carreira de forma juvenil e com os anos vai se tornando adulto, Tim já começa no mundo da música feito gente grande. Muito fruto dos anos nos EUA que trouxeram o contato com o Soul, mas também de sua criatividade nata que se mostrou ainda na adolescência. Esse contato, inclusive, deu a Roberto a música “Não Vou Ficar”. Roberto gravou o Funk em 69, antecipando uma tendência nacional junto com o Soul com nomes como Cassiano, Hyldon, o próprio Tim e ainda Gerson King Combo e Toni Tornado.
“Não Vou Ficar” foi uma guinada na carreira de Roberto, mas Tim conseguiu fazer sua música em uma versão ainda melhor. Ela está no disco com uma pegada também Funk, mas com mais diversidade na composição, com um riff de guitarra que passeia a música inteira, e até no andamento que em sua cadência desacelera e acelera de forma sutil, mas que dá uma nova vida a música.
Três canções tem letras em inglês e mostram mais uma vez a versatilidade de Tim. Cantando e compondo muito bem com a experiência ganha na temporada americana. Destaque para “I Don’t Care” com uma pegada que vai subindo, como um ganho de estima e uma pitada de prepotência. Todas, assim como a maior parte do disco, em voltas com o amor e suas problemáticas.
Se em “I Don’t Care” Tim não se importa, em “Você” ele abre o coração sem amarras e suplica que o amor não se vá. A guitarra chorosa dá o tom necessário e as viradas no andamento a dramaticidade necessária. “Preciso Aprender a Ser Só” já é o Tim solitário em meio a um belo arranjo de cordas.
O disco ainda conta com duas músicas esquecidas, mas de qualidade inegáveis. “É Por Você Que Eu Vivo” uma grande canção que, assim como todo o percurso, é um soul sincero, uma declaração de amor. Já “Meu País” poderia ser uma canção ufanista, mas é apenas uma declaração de amor ao lugar onde ele sentiu tudo que quis. Inclusive a violência da polícia logo após ser deportado dos EUA.
Dê um passeio pelas faixas desconhecidas e você vai ver que não à toa o disco é um clássico atemporal que une religião, amor, problemas do cotidiano e influências que vão do soul e funk americanos ao baião nordestino. Tudo envolvo em composições simples e muito bem arranjadas, pegajosas, dançantes e emocionantes. Dica: “Um Dia Eu Chego Lá” onde Tim canta que trabalha o mês todo e o ordenado não dá para nada. Em tempos que o queijo tá mais caro do que carne e a gasolina não para de subir, é uma trilha atual demais. Chora Brasil.