Entre um e-mail e outro que chega, um nome chamou a atenção: O Janus. O interesse cresceu mais ainda quando soube que a banda é de Macapá. A sonoridade é psicodélica, com estruturação sem exageros em cima de solos e passagens que chegam ao Samba e Bossa, mas sem perder a viagem ou suingue. A banda se encaixa na nova psicodelia brasileira que bebe de fontes de gente dos primórdios do estilo como o Som Nosso de Cada Dia e Os Mutantes, para ficar em apenas duas e Boogarins, da nova safra.
O quarteto é formado por Arthur Barbosa (Bateria), Bruno Vinícius (Guitarra), Victor Souza (Baixo), Heber Lemos (Guitarra / Voz) e Gabriel Guimarães (Teclado / Voz), com quem batemos um papo que você lê a seguir.
O Inimigo — Gabriel, pra começar, não sei nada sobre a cena de Macapá. Então fala como é fazer música aí e na região.
Gabriel Guimarães — A cena aqui em Macapá (AP) é um tanto restrita. O povo daqui, em sua maioria, não é muito aberto para estilos mais experimentais. Acabam ficando no nicho da MPA (música popular amapaense) e do rock mais digerível. Mas há pessoas que apoiam o experimentalismo, normalmente é o público mais jovem, a galera da universidade e dos bares alternativos. São esses que sustentam o underground por aqui, a galera vira fã mesmo, canta as músicas e tudo mais. Como é uma capital pequena e acima de tudo isolada do resto do Brasil (creio que sejamos a única sem ligação terrestre com o restante), é bem difícil dispersar o trabalho que a gente faz por aqui. Tem muitos artistas magníficos e que acabam ficando no limbo justamente por isso.
Quem você poderia citar como exemplo e até influência para vocês?
O Sósia, Capitão Pupunha, Stereovitrola, Twin Speakers, Mini Box Lunar, Nitai Santana, entre outros… O legal é que toda essa galera se conhece, então a gente vai trocando influências e se ajudando também.
No caso do disco de vocês, tem ecos de muita coisa. Lembrei de Mutantes da fase pós-Rita Lee (a fase boa), de Casa das Máquinas e Som Nosso de Cada Dia, por exemplo. De onde vem as influências de vocês?
Vem muito daí mesmo, tem muito d’Os Mutantes no nosso som e muita influência dos clássicos progressivos dos anos 70, tanto brasileiros quanto gringos. Mas vai bem além, curtimos as coisas atuais da neo-psicodelia também, fora as nuances de outros estilos que aparecem na nossa música como bossa nova, samba rock e space rock. Tentamos fazer uma mistura legal com tudo isso.