Por Jesuino André
Essa pandemia tem provocado mudanças de comportamento e ações colaborativas interessantes. A música como arte sempre teve sua conduta avant-garde e exemplar. Tomemos o caso do coletivo baiano Trinca de Selos, este formado por três ícones do rock independente baiano: Wilson Santana com seu selo Brechó Discos, Rogério Bigbross com suas produções e selo Big Bross; e o veteraníssimo Tony Lopes, músico, ativista e produtor cultural que também atende pelo selo São Rock Discos.
O triunvirato soteropolitano do rock tem proporcionado constantes ações — lançamentos, lives, discussões em grupos e divulgação de eventos — com o objetivo de manter e sustentar uma cadeia cultural desamparada por algumas instituições.
O Inimigo conversou rapidamente com o produtor e músico Wilson Santana que nos falou das ações do coletivo e sobre sua banda Pastel de Miolos, a mais renomada do punk rock baiano.
Quando começou Coletivo Trinca de Selos?
Cara, exatamente quando, confesso que não lembro, talvez a partir de 2010, mas não é exato. Não foi um lance pensando, planejado, surgiu de forma natural, pelo nosso envolvimento (Wilson, Rogério e Tony ), sempre estávamos nos eventos com a banquinha montada e como as bandas sempre giram ao nosso redor, era normal um determinado lançamento sair com as marcas dos três selos. Talvez 2010 tenha sido o pontapé, falo porque nesse ano, saíram os álbuns do Reverendo T (Pequenos Milagres de Um Santo Barroco de Barro) e da Pastel De Miolos (Da escravidão Ao Salário Mínimo). Lembro de ter feito dois “adesivos perfurados” pra colocar no para-brisa traseiro do meu carro e do carro de Tony, e nesses “perfurados” além das capas dos dois álbuns, tinha a frase “Creia no Rock Baiano!”. Foi nesse período que comecei a utilizar a hastag #aquitemrockbaiano sempre que postava algo sobre bandas da Bahia e do selo. Quanto ao nome, a galera das bandas sempre diziam uns aos outros: “lança pela Trinca”, “solta pela Trinca”, saiu pela Trinca”, é a “Trinca” que lança bandas da Bahia. Foi quando tive a sacada de oficializar e criar a “Trinca de Selos”.
Hoje todos os lançamentos saem com os três selos e a gestão fica comigo — tanto Big quanto Tony jogam para mim desenrolar. Em 2018, Tony teve a grande sacada de abrir o bar Bardos Bardos, permitindo que virasse a “Casa da Trinca”. Logo, temos nosso local físico, onde as pessoas podem encontrar nossos lançamentos e muitas coisas. Bardos Bardos Casa da Trinca é um “inferninho” mix de bar, loja e casa de shows. Sempre no mês de fevereiro, durante os festejos de Iemanjá, nós fazemos o Festival “Lavagem da Casa da Trinca”.
Fale sobre ações durante a quarentena.
Esse ano já fizemos 27 lançamentos com bandas baianas, de outros estados e do exterior. Estamos com média dez lançamentos agendados até Agosto. Desde o início da quarentena, nós realizamos um chamado “Festival Som de Casa”, realizamos quatro edições, com mais de 150 artistas fazendo “lives”. Criamos a “COLETENA: Sessões Musicais na Quarentena” e já vamos soltar o Volume 4 ainda no mês de julho. Lançamos o Volume 1 da COLETENA: Sessões Metálicas na Quarentena somente com bandas de metal extremo. Realizamos também o “Festival Toca Raul!”. E toda segunda-feira soltamos uma playlist só com bandas da Bahia feita por alguém da cena.
Estamos subindo alguns álbuns que ainda não estão nas plataformas e divulgado toda quinta-feira no projeto #TBTrinca, é algo tipo revirando nosso baú. Temos um dia de quinta-feira no “Diário da Quarentena” no Youtube do Canal Filtro de Barro, e eventualmente, acontecem as “Lives do Bardos Bardos”, pois devido a pandemia, a casa está fechada, e é fundamental que façamos algumas ações para movimentar a cena, criar oportunidades pros artistas e manter a chama acesa.
Agora no começo de Julho e início de Agosto estaremos junto com Bigbross ajudando na realização do Festival Bigbands 2020.
E as comemorações dos 25 anos da PDM?
Bem, sobre os 25 anos da Pastel De Miolos, tínhamos vários planos legais, estávamos empolgados, depois da “Sauna Punk Rock Tour 2019”. Em janeiro desse ano começamos a compor o álbum novo para 2020, já tínhamos quase dez músicas sendo ensaiadas. Tínhamos um documentário já em fase de roteirização e algumas turnês. Mas, final de fevereiro a parada desandou e em abril ocorreram as saídas de Alisson (cantor/guitarrista) e Alex (cantor/baixista), fiquei sozinho e decidi dar sequência sozinho ao legado da banda, como estamos com essa pandemia, sem muito que fazer, vou aguardar sobreviver primeiro, pra depois pensar em como remontar a banda.
Enquanto isso não acontece, resolvi abrir o baú e estou lançando algumas demos que nunca saíram oficialmente, por conta dos 25 anos, soltarei todo dia 25 de cada mês, e vai até dezembro uma série de “bootlegs” ao vivo — gravações extraídas dos vídeos gravados, sem muita pretensão mesmo. Alguns com qualidade de áudio ruim, mas a finalidade é tentar passar pro ouvinte a energia do dia do show. Serão dez “bootlegs”, com capa conceitual, sempre numa padronização para que possam soar como uma unidade e quem sabe, vire um box depois. Tem aparecido alguns convites para lives e bate-papos, dia 28/07 estarei em um bate-papo dentro da programação do “Festival Bigbands” com Cannibal (Devotos), ainda em julho tocaremos em um grande festival com essa formatação de esquema de “live”. Gravarei os vídeos para serem editados para o festival. Vai rolar uma surpresa bacana. Estou empolgado, afinal é bem diferente de tudo que já fizemos.
Abaixo ouça uma das playlists criadas pelo selo Brechó Discos, uma das muitas ações do selo que faz parte da Trinca.