É isso, chegou a hora: a minha última lista de melhores do ano pra Revista O Inimigo. Se você leu direitinho os últimos posts, já percebeu que decidimos fechar a budega agora no final do ano. Sem crise nem arenga, e vida que segue.

Pra não esticar demais a despedida, minha lista esse ano vai ser curta e direta. Admito que em 2025 ouvi pouca música nova e acabei me dedicando mais a descobrir sons do passado que ainda não conhecia. A maioria dos discos aqui é de fora, até porque os nacionais que eu poderia incluir, como Renegades of Punk e Zepelim e o Sopro do Cão, já foram contemplados na lista de Hugo, e eu teria pouco a acrescentar além do que ele escreveu.

É isso, aqui vão alguns dos discos que mais gostei de ouvir esse ano. Xau, um abraço e até outro dia.

Geese – Getting Killed

(Spotify / Bandcamp)

Não tem jeito: ame ou odeie é o disco mais falado do ano. Pelo menos, pra quem é piolho de Pitchfork e do submundinho indie-celebridades-hype-instagram. Geralmente nesses casos meu interesse é inversamente proporcional ao barulho do hype, mas eu não incluiria esse disco logo na abertura da lista se o som não fosse realmente bom. Esqueça essa lorota de salvador do rock: o grande trunfo do Geese (e de Cameron Winter, vocalista e principal compositor da banda, que estreou solo em 2024 com o excelente Heavy Metal) é ter coragem de dar a personalidade à tapa, e evitar emular os mesmos clichês pós-punks que a crítica emocionada regurgita sem trégua desde os Strokes. Um grande disco de uma banda promissora, que tá só começando. Olhos (e ouvidos) neles.

HorsegirlPhonetics On and On

(Bandcamp / Spotify)

Segundo disco desse trio, que é uma das melhores novidades a sair da cena de Chicago (mais dessa patota adiante). Menos abrasivo que a estreia, esse disco novo, produzido por ninguém menos que Cate Le Bon, encontra a banda em momento mais delicado, porém mais à vontade. Pode parcer indie rock básico, mas ouvindo com cuidado se percebe que há mais personalidade – e alguma esquisitice – no som delas do que a superfície aparenta. Dito de outro modo, é o tipo de banda que faria Kurt Cobain recobrar a fé no rock.

Chicago Underground DuoHyperglyph

(Bandcamp / Spotify)

Depois de anos experimentando com formações variadas, Rob Mazurek e Chad Taylor voltam a gravar em formato dupla e não desapontam. Tudo que o Chicago Underground cria nas versões trio, quarteto e orquestra (!) fica mais pungente aqui, com os dois malucos originais fritando entre sintetizadores, instrumentos percussivos e brinquedos eletrônicos variados. É o som do futuro convulsionando, agora.

Darkside – Nothing

(Spotify / Bandcamp)

Inacreditável pensar que demorou doze anos e três discos pros caras finalmente efetivarem um baterista na banda. E se alguém achar porque o som ficou mais roqueiro (e ficou mesmo, um pouco, pero no mucho), que tente achar defeito em “Graucha Marx”, melhor cartão de visitas de Tlacael Esparza na banda. Tá claro que esse Darkside de 2025 é bem diferente daquele que apareceu lá em 2011, como um projeto paralelo do Nicolás Jaar, e que bom que seja assim. Taca o pau, batera!

Sharp Pins – Radio DDR

(Spotify / Bandcamp)

Sharp Pins é um projeto do compositor Kai Slater, um obcecado por power pop, Guided by Voices e fita cassete, egresso da mesma cena da Horsegirl. À primeira vista, pode ser difícil abstrair o clima de “jovem com roupa de velho” (nada contra), mas fica impossível resistir quando o moleque bota pra jogo canções que se equilibram tão bem entre a jovialidade do primeiro amor e a melancolia de um dia chuvoso, como “You Have a Way” ou “Every Time I Hear”.

Panda Bear – Sinister Grift

(Bandcamp / Spotify)

Confesso que nunca tive muita paciência pro Animal Collective. Por outro lado, o trabalho solo de Noah Lennox como Panda Bear sempre me interessou mais. Sinister Grift é um disco de divórcio, dolorido como pede o figurino, mas também surpreendentemente roqueiro. Pitadas de dub e pop de câmara também percorrem todo o álbum. Destaque para “Defense”, um dos melhores singles do ano, com uma guitarrinha luxuosa da Cindy Lee pra coroar.

Lifeguard – Ripped and Torn

(Bandcamp / Spotify)

Outro bom som da galera jovem de Chicago, a Lifeguard é meio que a matriz dos citados anteriormente nessa lista: é a banda “principal” de Kai Slater do Sharp Pins, e os outros dois integrantes já tocaram na Horsegirl (a irmã do baterista ainda toca). A melhor parte é que o som não tem nada a ver com as outras duas. Barulhento, dançante e meio imprevisível: é como se o The Rapture da fase Echoes resolvesse tirar cover do Fugazi, mas acabasse soando como o Fugazi tentando recriar o Echoes só de ouvir falar. Faz sentido? Tanto faz, ouve aí que é melhor.

Dijon Baby

(Spotify / YouTube)

Esse entrou aqui na seleção aos 45 do segundo tempo, porque fiquei uns meses moscando em volta do hype antes de ir cuidar de ouvir (agradeço ao chapa Davi pela recomendação em boa hora). Sagacidade de hip-hop, coração de soulman estourando no peito, táticas de sampledelia, veias abertas de puro pop. Só sei que desde que comecei a ouvir, não parei mais. Discão, com muito ainda por descobrir.

Orcutt Shelley MillerOrcutt Shelley Miller

(Bandcamp / Spotify)

Não podia me despedir sem recomendar algum projeto do Bill Orcutt: o bicho já é tetracampeão de recomendações aqui nessa listinha anual. Depois de incursões acústicas, e um disco e turnê com um quarteto de guitarras, o doidão volta em versão power trio, ao lado de Steve Shelley (Sonic Youth) e Ethan Miller (Howling Rain). E já chegam com esse disco gravado ao vivo, no show de estreia da banda. Rockão psicodélico, noise artesanal, jazz elétrico pra acompanhar o fim do mundo. Bom demais.

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