A Odisseia em Construção é de São Paulo e desde sua criação já se apresentou em diversas casas de shows, festivais e casas de cultura, além de ter composto trilhas sonoras para curta-metragens e realizado oficinas como contrapartida social. Tem como influência o manguebeat, na figura de Chico e Nação Zumbi e tal qual a banda, mistura diversas influências brasileiras e do mundo. Lançou o EP Efêmero em novembro de 2024 e o clipe de “O Dub do Palhaço Dançante Sofrendo de Amor“.
Batemos um papo rápido com Alberto Machado (Voz e alfaia). Ainda integram a banda: Caique Augusto (guitarra), Eric Pikeno (bateria), Jão Milani (trombone), José Milani (percussão), Luizão 011 (voz e teclado), Duda (voz e baixo), e Robert Magalhães (trompete).
O Inimigo – A estética sonora do manguebeat influenciou/influencia muita gente. Como foi esse impacto para vocês que levou a criar a banda?
Alberto Machado – A estética sonora do manguebeat foi uma grande referência para nós, tanto pela mistura única de ritmos tradicionais com elementos urbanos, quanto pela atitude de resistência e criatividade. O manguebeat não foi só um movimento musical, ele também foi um movimento cultural e social que deu voz a muita gente. Esse impacto vai além das músicas: é sobre se conectar com o povo, com a realidade ao nosso redor, e transformar isso em arte. Na Odisseia em Construção, isso foi uma inspiração poderosa. Queremos que nossa música também seja uma ponte entre o popular e o contemporâneo, entre o local e o universal, e que provoque reflexões assim como o manguebeat fez. Embora o manguebeat tenha sido uma referência importante, nunca quisemos nos limitar a um único estilo. Na Odisseia em Construção, a ideia sempre foi misturar ritmos e criar algo único. Incorporamos elementos do maracatu, samba, reggae, rap e até influências do rock e da MPB. Essa diversidade reflete nossa visão de que a música é um espaço sem fronteiras, onde diferentes sonoridades podem coexistir e se complementar.
Outros elementos presentes na sonoridade dão a banda uma cara bem diversa, como é o esquema de composição de vocês com tantos integrantes?
Nosso processo de composição é bem colaborativo e reflete a diversidade sonora da banda. Inicialmente, muitas das músicas foram compostas pelo Alberto Machado, que trouxe a base poética e melódica delas. Depois disso, a banda se reuniu em jams livres, onde cada integrante teve liberdade para experimentar e acrescentar suas próprias influências, o que deu às músicas uma riqueza e uma cara única.
Agora, estamos vivendo uma nova fase criativa, onde também contamos com composições de Luiz Alberto (Luizão 011) e Maria Eduarda (Duda). Essa troca de ideias entre diferentes vozes e estilos tem enriquecido ainda mais nosso repertório. É um processo dinâmico e coletivo, onde cada um contribui para a construção de algo maior, com espaço para a individualidade e a força do grupo
Como veem a questão dos streamings, principalmente pra bandas novas ou menores, frente ao mainstream?
Os streamings têm sido uma ferramenta incrível, principalmente para bandas independentes como a nossa. Eles democratizaram o acesso ao mercado musical, dando oportunidade para qualquer artista lançar suas músicas e encontrar seu público. Inclusive, tem um dado interessante que ilustra bem isso: hoje, mais músicas são lançadas em uma semana nos streamings do que em um ano inteiro na década de 80. Isso mostra como o cenário mudou e como, apesar das dificuldades, temos mais chances de sermos ouvidos.
Por outro lado, vemos o streaming como uma espécie de ‘arena de luta’ — um espaço onde podemos disputar atenção e oferecer algo que vá além do mainstream. Atualmente, grande parte das músicas comerciais no mainstream não passam de dois minutos, pensadas quase exclusivamente para viralizar no Instagram ou TikTok. Nós seguimos na contramão disso. As nossas músicas têm, em média, cinco minutos, o que, no cenário atual, é praticamente um tiro no pé. Mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser um ato de autenticidade e resistência.
Além disso, nossas letras buscam ser atemporais, abordando temas que tocam profundamente o humano e o social. Enquanto muitos no mainstream se limitam a criar para agradar algoritmos e se aliar a interesses econômicos. A indústria tradicional esta cada vez mais interessada em lucrar com dinheiro público, vemos que muitas dessas alianças acabam levantando bandeiras políticas que atendem apenas aos interesses de poucos, enquanto desfavorecem o povo e enfraquecem debates importantes.
Acreditamos que o streaming pode ser um meio de subverter essa lógica, trazendo mais voz e espaço para artistas que querem provocar reflexões e criar algo verdadeiro. É uma oportunidade para a música independente e autoral se destacar, resistindo à lógica mercadológica e ajudando a formar pensamentos mais críticos e únicos.






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