Mais um ano se foi e dessa vez escutei mais rock do que nos anos anteriores, isso se reflete na lista. Mas tem Forró, Pop, Indie, Rap, Guitarrada com música eletrônica e mais. Fechei em 25 discos nacionais + 2 relançamentos potiguares, deixando os gringos na mão de Alexis Peixoto e Pedro Lucas. Há anos que não fechamos uma mesma quantidade para o listão, cada um faz como quiser. O bom que apresentamos um leque maior de artistas e bandas fazendo assim. Após dar uma curiada na lista de Alexis, aqui nos rascunhos do site, e na de Pedro (publicada no substack) preferi não repetir nomes. Mas vai rolar, não tem como. Muitos desses discos já foram apresentados aqui na Seção “No Toca Fitas” que foi uma tentativa de todo mês escolher 5 discos que ouvi e curti. Seriam 60 discos, mas só publiquei 7 listas. Vamos aos escolhidos.

Alerta Vermelho – Zero

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Alerta Vermelho é um trio de BH (Xopô – voz / guitarra, LF – baixo, Chavo – bateria) que atende pelo bom e velho punk e hardcore. Pegada simples e direta com letras voltadas ao cotidiano, ao peso dos dias em nossas costas e o que isso provoca: uma visão de mundo pessimista quase contagiante.

Clan dos Mortos Cicatriz + Vida Ruim – Clan dos Mortos Cicatriz + Vida Ruim

(Spotify / Tidal / Youtube / Bandcamp)

Split das bandas Clan dos Mortos Cicatriz e Vida Ruim. Duas bandas de Curitiba atendendo pelo chamado do punk/hardcore. A primeira a velocidade primordial do punk e hardcore com efeito na voz, a segunda também com pegada punk, tudo embalado pela temática dos dias que vivemos. Bela descoberta de 2024. A Clan dos Mortos Cicatriz já tem 4 álbuns lançados.

Saulo Duarte – Digital Belém

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O título do álbum já entrega tudo, o disco passei pela guitarra tradicional do Norte, como em “Onde Nasce Todo Axé” com participação de Aldo Sena, e vai até o eletrônico como em “Um Beijo e Muito Mais” com participação de Anaïs Sylla ou em “Arrepiô” que pode remeter aos paredões maranhenses de reggae. Um passeio entre guitarrada paraense e tecnobrega. O disco ainda conta com participações de Larissa Luz, Russo Passapusso e Layse. Disco pra dançar e também dançar colado.

Caxtrinho – Queda Livre

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Ouso dizer que Queda Livre é uma versão atualizada de Eu Sou o Rio (1988) da Black Future. Pelo menos me lembrou muito a fragmentação e ao mesmo tempo coesão do disco da clássica banda carioca dos anos oitenta. Lançado em várias plataformas, Queda Livre não corre o risco de Eu Sou o Rio, que foi lançado em vinil e nunca mais viu um relançamento. O disco de estreia de Caxtrinho é experimental, flerta com vários estilos e bate um retrato dos dias de hoje, principalmente da juventude que está mais perdida que bala em boca de banguelo. Recomendada a audição com calma, difícil nos dias atuais, e se possível usando substâncias que alterem seu estado.

VARANDA – Beirada

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Banda jovem formada por jovens tal qual Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Bala Desejo. Porém com uma pegada mais reta, sem muitas firulas, sem tentar inventar a roda. Uma banda pop ótima, mais redonda que outras que têm aparecido, com temas sobre relacionamento e existencialismo. Um álbum baseado numa pegada dançante e pesada, suingada e feliz, porém com momentos mais calmos e introspectivos.

Colapso – Colapso

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A Colapso é Guilherme Guinski (guitarra/noise) & Thiago Padilha (bateria). Estudo de caso duo barulhento instrumental: gostamos. Guitarra em loop, bateria martelando e efeitos para bater aquela lombra boa de quem está perdido no meio de uma oficina. Disco para embalar atividades diversas e atividade nenhuma. Ou seja: é curtir a zuada e ser feliz.

Dimitria – Anseio

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Dimitria é baiana e radicada em Recife. O EP Anseio traz três músicas inéditas e mais singles que a artista já havia lançado. Camadas de vozes, bateria e a guitarra no centro de tudo dão o tom de um disco que pode ser introspectivo e dançante ao mesmo tempo.

Sombrio da Silva – Lorotas & Tragédias

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É engraçado ler no release do novo disco de Sombrio da Silva que ele não ia lançar o material, mas várias pessoas o encorajaram. Ficaríamos sem ouvir um belo disco. Lorotas & Tragédias, apesar de totalmente diferente, parece ser uma sequência consciente de Xablaus (2020) e Música Para Ouvir Chorando Enquanto Escorrega de Costas Na Porta (2021). De colagens e experimentações Sombrio lançou um disco, digamos, convencional. Pra mim “Seu Rosto” é isso, a obra-prima do disco com cara de abertura de série. O cantar de Sombrio com uma captação que pega até sua respiração dá um toque trágico tal qual sugere o título do disco. Curiosidade: a música “Só Restou Depois” encerra o disco atual e o anterior com versões diferentes.

Cäbränegrä – Karoshi

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Um disco dedicado ao mal que o trabalho faz ao corpo e a mente do trabalhador. Obviamente o trabalho exploratório, que basicamente é o que permeia o sistema capitalista de obtenção de lucro desenfreado sem se medir as consequências. O adoecimento do corpo e da mente está expresso em Karoshi, palavra japonesa que significa morte por trabalho, através de uma sonoridade rápida e agressiva. Tal qual o que esse adoecimento súbito provoca: a morte rápida. Da arte da capa, passando pelas letras e chegando no instrumental do álbum, a agonia dita a obra.

Sofia Freire – Ponta da Língua

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A pernambucana Sofia Freire produziu pela primeira vez inteiramente um trabalho seu. Com letras pessoais envoltas em uma situação de bloqueio criativo, foi necessário explodir o teto para que o céu lhe cobrisse a cabeça, como diz trecho da faixa “Autofagia”, que abre o trabalho. O álbum traz sobreposição de vozes e teclas criando camadas. Dançante, o álbum traz apenas uma participação, a de Igor de Carvalho. Sofia passeia por sua própria história da infância aos dias atuais, tal qual uma sessão de terapia para exorcizar males e fazer deles inspiração para crescer.

Glote – Melancolia-Ultra

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Direto do RJ com um rock empenado e um disco que não tem unidade. E isso é o bom dele, cada música aponta para um caminho até chegar ao hit “Joy Division” que foi das músicas que mais ouvi durante o ano, com direito a cantar toda a letra e tocar bateria imaginária.

Sangre o Sistema – Cardinal Treze

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O EP Cardinal Treze é feito de metal e punk e significados. Velocidade e peso se aliam criando uma sonoridade que alterna momentos de calmaria e outros de fúria. Tratando sobre a sociedade e seus seres cheios de problemas e suas idiossincrasias. O duo de Mossoró Aline Morais (bateria e voz) e José Marcos (guitarra) passeia pelo misticismo do “13” que vai da sorte ao azar. Tem até fala de Maria da Conceição de Almeida Tavares sobre os vencedores. Nem sempre é bom estar ao lado dos vencedores.

Cátia de França – No Rastro de Catarina

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No Rastro de Catarina vai dos 14 anos de Cátia de França com a música “Indecisão” aos dias atuais com “Fênix” que passa por sua carreira, apagamento e ressurgimento. O disco foi gravado “ao vivo” de forma a preservar o que Cátia é no palco. Quem já viu um show ou entrevista sabe que a cabeça de Cátia é veloz. E assim é o disco. O disco traz parcerias com parcerias com Khrystal, Regina Limeira e Socorro Lira e um poema de Florbela Espanca.

Conjunto Boi de Piranha – Vacilando no Monte

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Conjunto Boi de Piranha atende por guitarrada, a surf music brasileira, mistura a sons latinos e afro-caribenhos com a guitarra. O já citado Mestre Vieira é um ícone que em 1978 lançou o Lambada das Quebradas batizando o ritmo que embalou o Brasil com a famigerada Kaoma anos depois. Mas também nos presenteou com nomes como o de Beto Barbosa. O disco Vacilando no Monte é a estreia da banda de forma clássica mesclando a pegada dançante mais rápida com uma mais cadenciada.

Flor de Mururé – CROA

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Flor de Mururé é um artista transgênero da Amazônia de 19 anos. Pelos registros, CROA, seu disco de estreia, é o primeiro gravado e lançado por uma pessoa trans no Norte do Brasil. O disco recheado de musicalidade dançante conta com muitas participações como Iris da Selva (artista trans não-binário) (PA) e o Grupo Bongar (PE). A batida percussiva e o título CROA tem raízes no Candomblé e na Umbanda e o artista ainda passeia pelo Carimbó, pop e hip hop. Tudo envolto em sua vivência de luta no dia a dia em um dos países mais transfóbicos do mundo.

Dona Onete – Bagaceira

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Dona Onete abençoa todo mundo do alto dos seus 85 anos. A musa do Carimbó foi Secretária de Cultura e Professora de História e Estudos Paraenses. Fundou e também organizou grupos de danças folclóricas e agremiações carnavalescas. Só veio gravar seu primeiro disco em 2012, Feitiço Caboclo. Seu quarto álbum de estúdio, Bagaceira, é um passeio pelo Norte, mais especificamente por Belém, seus encantos, personagens e amores. Tudo embalado por Carimbó, Boi e Ciranda.

Futuro – Dois Mundos

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Das bandas nacionais preferias. Tocaram no aniversário de 16 anos d’O Inimigo como parte da primeira tour pelo NE. É o primeiro desde 2020. O EP traz 3 faixas que foram feitas nas poucas vezes em que a banda se reuniu desde a pandemia, já que Camila Leão (voz) mora nos EUA. O disco foi gravado por Thiago Babalu e traz uma visão de mundos separados por telas. O que é falso e verdadeiro? Ou o que foi ou que será? Tudo pode ser só aparência.

Papisa – Amor Delírio

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O disco anterior de Rita Olivia, a Papisa, Fenda foi lançado em 2019. Do olhar mais para dentro, Papisa partiu para o olhar para fora em Amor Delírio. Seja em músicas mais delicadas ou mais dançantes como “Dores no Varal” e “Corte”, as relações são o centro. Com pegadas pop psicodélicas o amor é explorado com tudo que vem de bom e ruim. Destaque para a música que dá título ao disco e passei pelas estações do ano com o desenrolar de um amor de verão que se prolonga.

Céu – Novela

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A pegada jazzística brasileira gravada ao vivo é o ouro de Novela. Vários estilos passeiam pelo álbum, na verdade. Como o gosto já conhecido pelo reggae que carrega o suingue no baixo e bateria em “Cremosa”. O disco é como uma passada de vista nos discos anteriores, até nas participações especiais. Um disco carregado de peso setentista

Curumin – Pedra da Selva

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Sete anos separam Boca de Pedra da Selva. Mas Curumin nunca esteve parado, colaborou com gente como Arnaldo Antunes, Russo Passapusso e Rashid. Em Pedra da Selva Curumin faz o que sabe de melhor: passear por diversas influências fazendo músicas mais dançantes ou mais lentas e introspectivas falando dos dias. O disco conta com muitas participações com destaque para Jéssica Caitano em “Meu Benny”, homenagem ao seu filho Benedito.

Sangue de Bode – Eu Sou a Derrota

(Spotify / Youtube / Tidal)

O terceiro disco da Sangue de Bode é metal extremo de forma esmerada com rapidez, balanço e peso abraçados com a escuridão. Uma carreta de combustível descendo ladeira sem freio. As temáticas abordam o lado sombrio da vida de todos nós, como a culpa que as vezes nos corrói. Para criar o clima, o peso dá passagem a trechos atmosféricos.

Papangu – Lampião Rei

(Spotify / Bandcamp / Tidal)

A banda paraibana trilhou um caminho a superar o disco anterior de estreia, Holoceno, e conseguiram. Se o primeiro era um disco mais cru, Lampião Rei expande o horizonte musical do metal, do progressivo e das influências nordestinas de forma mais lapidada. A presença do triângulo é marcante para deixar claro o que a banda quer com sua mistura sonora: não perder a identidade. As combinações poéticas, instrumentais e rítmicas merecem uma audição atenta e com calma, principalmente para quem curte um som pesado ortodoxo. Mas se você está aberto a novidade, o passeio é prazeroso.

Budang + Jovens Ateus – Split

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O peso e suingue do hardcore multifacetado da Budang se junta ao batidão gótico pós-punk da Jovens Ateus. São seis músicas que se entrelaçam de forma alternada. Uma de cada banda se alternando. O interessante é que cada banda faz uma versão da outra. Jovens Ateus faz de “Morar no Bar”, da Budang, uma música dançante. Já Budang faz uma versão de “Bloodflowers” que rebatizaram “Flores Silvestres”. Pra quem curte hardcore e pós-punk é prato cheio.

Bonifrate – Dragão Volante

(Spotify / Bandcamp / Tidal / Youtube)

Dos tempos da Supercordas até seu sexto álbum Dragão Volante, Bonifrate segue fiel ao seu estilo. Em seu trabalho mais recente o que se ouve são baladas psicodélicas com a velha pegada de rock rural. A poesia de Bonifrate anda de mãos dadas com a sonoridade, abordando o amor com paisagens que vão da praia ao campo, sempre visualizando espaços verdes, ensolarados e exuberantes. A vida aqui corre em uma velocidade diferente dos dias atuais.

O Abelha – Coração Engano

(Spotify / BandcampTidal)

Brega e música baiana andando de mãos dadas. Música romântica e guitarra suingada. É um projeto de Mauro Novaes, guitarra e voz, com a banda Ilusão Sonora. Se o single  “Já dizia Bell” lançado antes do disco entrega os caminhos, Mauro em papo conosco assumiu influência dos também baianos Netinho e Daniela Mercury. No disco anterior The Clash com Banana apontava para músicas mais “espetadas”, termo que Mauro gosta de usar. Já Coração Engano aponta para um lado mais romântico.

Os Bonnies – Os Bonnies

(Spotify / Youtube / Tidal)

O EP homônimo da natalense Os Bonnies foi relançado em forma de álbum. E a nostalgia bateu lembrando de uma Ribeira pulsante, de várias bandas surgindo e da dobradinha Bonnies + Bugs que era uma pancada. Era o começo de uma carreira que veríamos evoluir até o “álbum azul” onde o experimentalismo já estava em prática e que resultou na carreira solo de Arthur Rosa, o Arthuri.

Bugs – Bugs

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O proto punk do trio Bugs chegou oficialmente as plataformas de streaming em 2024. Disco de estreia assim como o do quarteto Os Bonnies. O combo cultural Mudernage, por meio do Projeto Fora do Mapa, relançou os discos. O áudio foi melhorado e a poesia e pegada blueseira garageira ganha mais peso. A dobradinha Bonnies e Bugs, animou muitas noites natalenses. Destaques para as sempre pegajosas “Bella Kis”, “Perfume Noturno” e “Edgar”.

2 respostas para “Melhores de 2024: Hugo Morais”.

  1. […] Hugo Morais da revista potiguar O Inimigo botou o disco lá nos seus melhores de 2024, com direito a […]

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  2. Avatar de AUGUSTO J B SCHMIDT
    AUGUSTO J B SCHMIDT

    A #listadaslistas passou por aqui. o/

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