Foto: Jonathan Tadeu
Depois do lançamento de The Clash com Banana, O Abelha & Banda Ilusão Sonora está de volta com Coração Engano. O disco expande o horizonte da banda, que une a música romântica com uma guitarra suingada. É pra dançar e amar.
Começar a entrevista a seguir perguntando a Mauro Novaes (voz, guitarra e cabeça da banda) se ele gosta de Chiclete com Banana e Asa de Águia é só fuleiragem, já que o título do EP lançado anteriormente e “Já dizia Bell”, música presente no álbum lançado em 2024, atestam que ele gosta.
Leia o papo a seguir e ouça o disco, via Bandcamp.
O Inimigo – Já começo perguntando: você curte Chiclete com Banana e Asa de Águia?
Mauro Novaes – Chiclete eu amo muito, acho foda. Escuto disco, acho que a riqueza musical deles vai para além dessa identificação imediata com o Carnaval. Asa de águia eu gosto também, mas é mais zuera né? (risos) Na real não conheço tanto assim além dos grandes sucessos. Gosto dos dois, mas Chiclete tá em oto patamá.
Achei algumas músicas do disco essa pegada anos 80/90 deles. Teve alguma intenção nisso?
Não diria intenção, mas influência com certeza. Quando eu tô indo pro ensaio ou pras sessões de gravação sempre tá rolando o cd Classificados, do Chiclete. Outro que eu escuto bastante é o da Banda Beijo na época que o vocalista era o Netinho. Além disso, também o Feijão com Arroz da Daniela Mercury influenciou demais. Eu diria que tá mais pra esse lado “romântico” da axé Music dos anos 90. O Chiclete tem umas músicas mais “espetadadas” e acho que nosso disco tá mais macio na maior parte. (risos) Inclusive é algo que me fez falta, alguma coisa mais ácida. Eu gostei bastante do resultado, acho que retratou bem o trabalho da banda no ano anterior do lançamento, mas agora já tamo pensando em colocar uns tempero mais apimentado e dar uns toque de limão também.
Realmente tem esse lado romântico. Como foi criar esse disco? O processo.
Cara, foi um processo que começou no final do ano passado. A gente, graças a Deus, é uma banda que compõe muito. O Vinikov [guitarrista] é um compositor muito ativo e eu também tenho meus momentos. Aí fomos juntando o que tinha de melhor, mais umas músicas que estavam no repertório dos shows (como os covers do Desejo Terrível e do Chrystian e Ralf). Como o EP The Clash Com Banana, a gravação foi toda feita dentro do estúdio Minotauro. Foi um processo de gravação longo e sem muita pressa, conseguimos convidar vários artistas para ajudar a gente no processo, como o Cary na percussão, Fábio Walter em algumas guitarras, Bella la Pierre na voz, dentre outros! Foi muito legal abrir nossa casa para outras contribuições, deu uma refrescada no processo, nos ajudou a achar soluções sonoras também. O Vinikov e o Pedro Fontenelle, que são respectivamente o guitarrista e baterista da banda, são os técnicos de estúdio e contribuem muito com arranjos também. A gente chegou a um consenso que no final do processo tava ficando muito cansativo pra eles, aí resolvemos mandar a pós-produção para o Henrique Matheus, no Estúdio Frango no Bafo. Ele faz a mixagem e masterização com contribuições do Thiago Correia, que é sócio dele. E valeu a pena demais, o trampo que eles fizeram foi brilhante e muito profissional.
Minas tem uma cena bem rica. Vocês tem tocado bem? Como estão inseridos?
Cara, a gente deve fazer um show a cada mês e meio, mais ou menos. Ainda não tocamos fora de Minas, temos uma certa dificuldade enquanto banda para sair em turnê, pelo momento de vida de cada um e tal. Por outros trabalhos, responsabilidades familiares, essas coisas. Quando os produtores chamam, a gente costuma topar, tem segredo não. Mas não temos um alcance tão grande pra fazer show todo fim de semana aqui. Mas está bom também, a gente mantém nossa rotina de ensaios, composições e gravações independente do que está rolando. Às vezes também gosto de produzir algum show nosso em lugares diferentes também, para dar uma explorada por aí. Além disso, tá rolando de vez em quando uma versão “acústica” dos shows. Quando os meninos não podem tocar, eu ofereço um show mais simples. Guitarra e voz, aí aproveito e toco uns sons diferentes, que não estão no repertório da banda. Eu toco em outras bandas também, os meninos também tocam numa banda “de baile” com temática de “música brega”, que é a Orquestra Mineira de Brega. Mesmo que não seja o Abelha, tamo sempre movimentando por aí nos rolês.

E como é a relação de vocês com os streamings? Tem saído algumas matérias mostrando impulsionamento de acessos, sem ser consumo orgânico, baixos pagamentos. O Bandcamp ainda é a melhor forma?
O Bandcamp parece ser mesmo a plataforma que tem mais preocupação em relação à valorização do artista, né? Acho que de longe. Infelizmente não tem a força comercial de um Spotify, por exemplo. Eu não tenho números encorpados em nenhuma plataforma, então só muito de vez em quando eu vou de curiosidade olhar quanto os streamings pagaram. Não sei como funciona para esses figurões das centenas de milhões, bilhões de streamings, é um cenário muito distante da minha realidade. Então assim, eu não me preocupo com isso. Claro que eu quero que minha música seja ouvida pelo máximo de gente possível. Mas o artista menor tem que pensar em estratégias mais orgânicas. Fazer merchandising legal, negociar com os produtores um cachê legal pra todos. Até mesmo fazer panfletagem na rua, igual fizemos aqui em BH. Eu e o Pedro, baixista da banda, fizemos uns postais e saímos pela noite distribuindo nas mesas dos bares, conversando com o pessoal. Isso deu um retorno muito mais legal pra gente. Tá certo que a gente distribuiu uns 300 postais e ganhamos uns 4 seguidores efetivamente. (risos) Mas foi legal, pô. E essas 4 pessoas estão interagindo com a gente. Sobre os streamings, esses dias eu vi anúncio de um show de uma banda de BH de uns cara que eu conheço mais ou menos. E fui escutar eles no Spotify. Para minha surpresa eles estavam com uns números bizarros de ouvintes. Tipo acima de 30 mil ouvintes mensais. E a banda era nova, tinha umas 3 músicas lançadas (ia ser o primeiro show) e MUITO RUIM, vergonhosamente ruim, fraga? (risos) Você vê que são uns cara que não nasceram pra isso. Enfim. Tudo indica que era alguma atividade obscura para inflar esses números no spotify. E o trem tava tão na cara que eu fui olhar depois de uns dias pra ver como tava e simplesmente não havia mais o perfil da banda na plataforma, provavelmente foram banidos. Enfim, acho que a banda nova tem que colocar as músicas sim nessas plataformas, pra geral poder conhecer seu trampo, mas tem que entender que aquilo dali não é prioridade.
Pensam em lançar físico com essas vendagem boas de vinis? Ou ainda é um sonho distante?
Está distante ainda. Acho que encararia se algum selo ou distribuidora topasse entrar nessa. Já tem muita coisa que eu olho sozinho, muito gasto também. Não é algo que está figurando na lista das prioridades. Pra te falar a verdade eu nunca fui de colecionar discos, não posso me considerar um apaixonado pelo formato. Se eu fosse, certamente estaria mais empenhado nisso. (risos) Eu tenho um bocado de CDs até, CD eu queria fazer, mas aí eu abro o armário aqui e vejo duzentos CDs encalhados aqui de uma banda que eu tive e fizemos uma prensagem lá em 2019. Enfim, tô querendo é produzir mais som e menos objetos no momento. (risos)
Quais os próximos passos? Seguir tocando e divulgando ? Tem algo marcado fora de MG?
Estamos começando hoje (agora) a gravar o novo disco. Pro ano que vem. Enquanto isso, tocando e divulgando na medida do possível. Final do ano a gente deve fazer alguns shows em São Paulo e interior, rolou uns convites já, tamo com umas conversas adiantadas. Mas é isso, tamo trabalhando duro, produzindo e nos divertindo. E tamo topando as coisas. Quem quiser trazer O Abelha pra sua cidade, fala comigo!






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