Na verdade nunca é tarde para se aventurar. Se tratando de arte então, aí que idade não é problema. Alex é potiguar, 32 anos de idade e frequentador da cena eletrônica de Natal. Em 2019 armado de um caderno vermelho, uma caneta vermelha e do Fruity Loops, começou a compor e pré-produzir as faixas que do projeto Vermelho Sangue que sai em setembro. O aperitivo é o EP Tex lançado hoje (01/08) com três músicas.
Batemos um papo com Alex para entender todo esse processo criativo que demorou a vir ao mundo.
O Inimigo – As 3 músicas tem pegadas diferentes, fruto de influências diversas que você tem. Como chegou a essas 3 para o EP?
Alex Tex – Sim, em setembro lanço um disco de nove faixas chamado Vermelho Sangue e digamos que reuni nesse EP as que eu escolheria pra single. E eu acho que elas dão um bom panorama do que é o meu som, minha linguagem. Venho trabalhando no repertório e na pré-produção desse disco desde 2019 e as três são de fases diferentes. “Desconsagrando” foi a primeira e a considero a força motriz desse projeto todo. “Maracujá em Flor” eu fiz na pandemia e “Desordem de Performance” é uma letra do final do ano passado que caiu como uma luva numa base instrumental que eu já tinha há cinco anos. Elas são um retrato da evolução do meu trabalho.
O lançamento é na Frisson. Uma casa que cresceu a partir do movimento do beco da lama. Você frequentava lá? Tem alguma ligação a criação desse disco com a cena?
Sem dúvida. Comecei a frequentar o beco por volta de 2018/2019 e pirei quando descobri o Sabadaço do Synthpop, porque ali eu vi que tinha espaço pro que eu queria fazer. Lá eu pesquei inúmeras referências e ouvi pela primeira vez artistas contemporâneos que já estavam fazendo o som que eu tinha em mente, o que foi uma verdadeira injeção de ânimo pra que eu começasse a trabalhar a sério nas minhas faixas. Devo muito a essa cena e dar meu pontapé inicial na Frisson foi uma escolha natural, além de ser um lugar que eu amo frequentar.
Você aborda temas diversos no ep. Seguirá o mesmo no disco? E você demorou a produzir, a criar. O que motivou essa mudança?
Quando decidi que ia sentar e escrever canções, é porque sabia que tinha muito a dizer. Adoro canções de amor e tenho as minhas nesse disco, mas eu também precisava falar de neurodiversidade, não-monogamia, relações familiares invasivas, enfim… Embora as letras encapsulem meus 32 anos observando o mundo e falem de um ponto de vista muito pessoal, tenho certeza que muita gente vai se conectar com o que eu digo. Eu brinco de fazer música desde criança mas sempre fui muito inseguro e tive razões pra ser. “Desconsagrando” é sobre isso, sobre não deixar mais ninguém invadir meu espaço e dizer o quão bom ou ruim eu sou. Quando fiz essa música, aos 27 anos, senti que finalmente tinha “destravado” e encontrado um estilo. E a partir dela todas as outras surgiram. Meu plano era passar 2019 preparando o repertório pra lançar em meados de 2020, mas aí veio a pandemia e voltei pra estaca zero, voltei a achar que o que eu fazia não era bom o suficiente, daí até (re)trabalhar a cabeça pra ter coragem de chegar aqui foi um longo processo.

Muita gente aproveitou a pandemia e o “tempo livre” pra se dedicar a projetos que estavam parados ou começar trabalhos. Você parou totalmente ou conseguiu trabalhar a cabeça e o disco?
Continuei produzindo. “Maracujá em Flor” eu fiz na pandemia, em 2021. Outras duas surgiram no período mais crítico do isolamento, mas eu tava num estado de estresse tão grande que na época achei tudo uma merda e só fui perceber o quão boas elas são agora no início do ano, quando sentei pra escolher o material que ia pro disco. Ou seja: deu pra continuar trabalhando as faixas, mas a cabeça não muito.
Chegada a hora de lançar, olhando pra trás, como você vê esse EP e álbum que sai na sequência em paralelo a sua vida e quais os próximos planos?
Vejo que finalmente estou no lugar certo, na hora certa e fazendo a coisa certa. Levei 32 anos pra entender que fazer música não era um mero desejo e sim uma necessidade. Fiquei décadas sufocando o artista que habita meu corpo sem me dar conta que com isso eu estava sufocando a mim mesmo, ou seja, é um alívio tremendo poder respirar tranquilo agora. Outro dia eu sentei pra ouvir todo meu material de 2019 pra cá – das primeiras demos e as faixas descartadas até a mixagem final de algumas – e é muito louco ver um disco meu nascendo. Sempre fui muito curioso com relação ao processo criativo dos meus artistas favoritos e é engraçado me ver nesse lugar agora, então olho pra trás com muito orgulho e um brilho nos olhos diante do que está pra vir. Estou finalizando o disco, que deve sair dia 09/09, e o próximo passo é ensaiar o show. E no momento que eu pisar no palco, sei que terei atingido a plenitude. Porque independente da proporção que as coisas vão tomar, cantar é definitivamente a coisa mais importante da minha vida.






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