Batemos um papo rápido com Anderson Foca que completa 50 anos de vida e 30 de carreira. Ele celebra as datas com o lançamento do álbum Jovelho e colecionando bandas e atividades sem fim a frente do combo DoSol junto com Ana Morena. Não vamos aqui botar a ficha corrida do produtor/músico/compositor porque ele sempre aparece por aqui em algum momento como em um dos episódios do nosso podcast.
O disco lançado com 8 músicas, e composto em várias parcerias – Felipe S (Mombojó), Lucas (Maglore), Lipe Tavares (SeuZé), Loreb, Barro, Luiz Gadelha e Igor Fortunato – tem uma pegada mais pop, mais MPB, que passeia por muitas influências. Mas também tem peso como em “Uma Nova Era” que é quase como uma vinheta no meio do disco. Na feitura da sonoridade as parcerias foram com Yves Fernandes na bateria e na mixagem, Tiago Andrade no baixo e guitarras e participações de Silvio Franco, Ana Morena e Daniel Jesi.
Vamos direto ao papo.
O Inimigo – Apesar do disco ter várias parcerias, tem muita coisa íntima sua/família. Como foram essas parcerias? Como funcionou o processo criativo?
Foca – Nem tudo o que está escrito é sobre a minha vida diretamente, as vezes é uma observação, uma leitura, um ensaio. Então tem coisas pessoais e outras nem tanto. Todas as parcerias desse trabalho começaram comigo mandando as letras e o parceiro propondo a canção. Essa era a brincadeira. Então tinha esse momento de receber a composição e depois de arranjar os melhores lugares pras músicas serem registradas, umas mais rebuscadas outras mais simples. Assim foi durante o processo de registro do disco.
Outra coisa que “vi” muito foi uma pegada de retrospectiva. Cinquenta anos e um olhar pra trás. Vendo coisas positivas e negativas. Como foi esse olhar pra trás?
Eu não sou uma pessoa muito nostálgica. Gravar um disco comemorando 30 anos de carreira e 50 de vida me soa mais como auto-presente do que como retrospectiva. Acho que a narração dessas canções talvez ganhem um aspecto de maturação mais aguçado que a idade traz. Agora olhando minha obra como um todo, tomei até um susto. Fiz um vídeo sobre isso (tá lá no Instagram). Mais de quarenta álbuns gravados, uma infinidade de bandas, assuntos, estilos. Gostei muito do que já fiz, e tendencio a continuar gostando do que ainda vou fazer. Esse álbum me soa mais perto de estreia do que de nostalgia, porque eu sou muito reconhecido como produtor cultural, mas sou um compositor bem ativo com mais de 300 canções feitas. Quero muito que isso venha mais a tona com esse solo.
Apesar dos vários projetos que você mantém, nesse senti uma pegada mais MPB. Fugindo em “Uma Nova Era” e seu peso em menos de 1 min. As composições em parceria com vários nordestinos deixou tudo mais fácil?
Nordeste forte, né? Sou apaixonado. Norte e o Nordeste são meu DNA. Nasci em Manaus, criado em Belém e Natal. Uma bomba cultural que tento aproveitar. Meus parceiros vieram de um modo muito espontâneo, pessoas com quem convivo, admiro ou quero me misturar. Essa é uma das vantagens de ser um criador de canções e um produtor cultural ao mesmo tempo. Me enturmo com muita gente diferente. Eu amo a MPB, não sei se o que eu faço se encaixa muito nesse aspecto só porque o disco é claramente de canções. Eu não tava ouvindo nada nem me referenciando em ninguém da MPB para fazê-lo. Mas se soa MPB também não é nada mal.
O que o casamento/relacionamento e seu filho Chico influenciaram em sua produção como um todo? Tem o lado de criação, mas também tem circulação e produção que requer viagens e tempo fora de casa.
Filho muda o game, muda a mentalidade, muda tudo. Nem lembro como era antes e estou achando o máximo ser pai. Minha família é muito valiosa e a gente tenta o máximo possível equilibrar trabalho e diversão. Tenho achado duro ficar muitos dias fora de casa em tours e viagens culturais, mas Chico e Nathalia sabem que essa é minha vida e parte importante do nosso sustento. Então é tudo muito leve nesse aspecto. Mas não é fácil administrar. Acho que eu mudei pra melhor como produtor depois que Chico nasceu, minha visão sobre o mundo no geral se ampliou, se aguçou e isso vai para todas as minhas áreas de atuação. Melhorei como pessoa com toda a certeza.
Ouço podcasts variados como o de Thunderbird, o de Casagrande, o de Barcinski e outros. Há uma narrativa de falta de bons nomes na música. E eu não vejo isso. Além da falta de procurar e da nostalgia que você falou, a mudança no mercado da música constante provoca esse tipo de visão?
Acho que a turma jovelha no geral tem naturalmente o HD cheio e o radar menos aguçado para achar novidades, acho normal que seja assim, mas tento combater esse deficit o máximo que posso. Vi shows fodas de artistas novos esse ano, inúmeros. Posso citar os Young Fathers, Amyl and the Sniffers, Scowl, Terra Plana, Tangolo Mangos, a própria Gracinha, entre dezenas de outros. Mas também é real que é preciso um esforço adicional para achar boas novidades no mar de lançamentos que temos nos dias de hoje. O mercado mudou muito, um fato, mas isso não tem diminuído aparecer bons artistas.
Ainda nesse sentido, quem quer sobreviver nesse mercado mutante o que é necessário fazer?
Acho que já tem uma mudança de visão do que é estar na música há um tempo. Nunca encarei como emprego, sempre como vivência, como lifestyle. Essa energia muda de tempos em tempos, as vezes é mais trabalho, as vezes é mais hobby, mais divertido, mais chato. É como a vida mesmo, encaro assim. Tá ruim falar de empreendedorismo na era dos falsos coachs, mas dá pra gente dizer que essa é a geração que se ligou que o artista escolhido por um “deus grego” pra fazer sucesso acabou. Então dar o corre próprio para fazer andar sua criação cultural é uma necessidade vital para ser artista em 2024.
Pra passar a régua, vai botar o disco pra rodar por aí como show?
Apresenta-lo ao vivo é uma vontade, mas não tô pensando nisso ainda. Mas vai chegar o momento.






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